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sábado, 11 de abril de 2009

Edição nº 98 – Março/2009
Ditadura Militar
de fato dá a dica:
Por Reinaldo Fernandes

Um livro dramático e pungente, em que a grandeza e a miséria da condição humana se alternam em doloroso contraponto. É o que diz de Batismo de Sangue – Os dominicanos e a morte de Carlos Marighela – o renomado crítico Ênio Silveira. Nas páginas de Batismo de Sangue, temos freqüentemente a impressão de que o conteúdo não passa de angustiante pesadelo, bastando-nos acordar e esfregar os olhos para que desapareçam todos os horrores e vilanias que elas tão vivamente nos relatam, dando lugar à alegria de viver, à democracia, à fraternidade e à justiça.
Mas não!! É tudo verdade! Essa degradação ocorreu de fato. E descrevê-la em seus detalhes é contribuir para que ela não se repita. Essa é uma enorme contribuição que Frei Betto, religioso dominicano que viveu – e sofreu – na pele as atrocidades da Ditadura dá ao País.
Alegando agir em defesa da democracia, as políticos-militares-policiais no poder a partir de 1964 não fizeram outra coisa senão institucionalizar a tortura, transformar o sadismo em virtude profissional, perseguir, matar, exilar, dar sumiço nas pessoas. Até gente de Brumadinho, seres humanos em luta por um país decente, caiu em suas garras malditas!!
Frei Betto, assim como seus irmãos dominicanos, procurando viver o evangelho segundo Jesus Cristo, assumiram o compromisso de “dar pão a quem tem fome; água a quem tem sede”; abrigo a quem era perseguido para ser assassinado pelo DOPS e os órgãos da Ditadura Militar. Entre eles, os irmãos-companheiros de Carlos Marighela, um dos homens mais intensamente procurados pela Repressão. A ação dos dominicamos lhes custou a prisão, tortura, assassinato e a pecha de “terroristas”, “bandidos”, “ladrões de bancos” e outros adjetivos nada sonoros, como “traidores de Marighela”, “covardes”...
Batismo de Sangue, o mais completo e fidedigno relato sobre as atrocidades da Ditadura Militar e sobre o assassinato de um dos nossos maiores líderes revolucionários, nos apresenta homens distintos, com a grandeza e a miséria da condição humana de um Frei Tito e de um Sérgio Paranhos Fleury. A pureza quase angelical do primeiro se contrapunha à cega e sanguinária dedicação à morte do segundo.
Obra literária de rara e dolorosa beleza, Batismo de Sangue é – e sempre será – um livro que todos os brumadinenses, todos os brasileiros precisam ler. Quando se lembra os 45 anos da tomada de poder pelos militares brasileiros, Batismo de Sangue nos revela a baixeza infamante do Homem; mas nos revela, também, a transcendência de que se revestem seus atos quando o homem realmente se dispõe a dar de si.

Batismo de Sangue, o filme

Outra dica é o filme Frei Tito, do cineasta mineiro Helvécio Ratton, diretor também de A dança dos bonecos (1986) e Menino Maluquinho - O filme (1995). Batismo de Sangue trata exatamente do mesmo batismo de sangue ao qual se entregram os dominicanos e tantos outros lutadores do período – incluída aí mártires de nossa pequena Brumadinho -, apenas focando mais em um dos principais personagens do livro de Frei Betto, o cearense Frei Tito (vivido no filme por Caio Blat). Religioso dominicano, perseguido por seu compromisso com seu povo oprimido, encarcerado com outros religiosos e barbaramente torturado, fisica e psicologicamente, Tito levaria, aberta para sempre, a chaga de sua tortura psicológica. Alegre, violeiro, cearense manso, Tito foi tomado pela loucura. Via seu torturador, o truculento delegado Fleury (seu principal torturador, interpretado no filme por Cássio Gabus Mendes), em cada esquina, intuía de longe o sequestro dos pais. Foi Fleury que o acusou, lhe deu ordens, o ameaçou e o acompanhou como uma sombra em seu exílio no Chile e na França. O processo de desintegração foi rápido. Só se libertaria definitivamente de Fleury enforcando-se numa árvore, antes de completar 30 anos, na tarde de 10 de agosto de 1974, na França. Assim, Tito dava cabo à loucura que os torturadores o levaram quando se apossaram da sua alma.
È um filme que vale a pena ser visto. Quarenta e cinco anos depois do fim da Ditadura, só agora a ligação dos dominicanos com a luta armada nos anos de chumbo começa a ser conhecida pelos jovens que não viveram a perseguição, a delação, a ciranda de morte instalada no país. Legitimada pelo governo, monitorada pelo Exército, Aeronáutica e Marinha, praticada em instituições do Estado, a tortura também será protagonista do filme.
A própria roteirista, Dani Patarra, desmaiou quando viu a cena em que os torturadores paramentam-se como padres, colocam a coroa de espinhos de Cristo em Tito e pedem que ele abra a boca para receber a ''hóstia'', o choque elétrico. Marcante para ela foi, também, a cena da tentativa de suicídio de Tito cortando os pulsos com gilete, ainda na cela do Doi-Codi, testemunhada por outro prisioneiro, o hoje deputado Fernando Gabeira (PV).
Foi Frei Tito quem conseguiu o sítio em Ibiúna onde os jovens estudantes realizaram em 1968 o 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes - UNE. Por isso foi o mais torturado dos frades. “Este filme é dirigido às platéias jovens, para que saibam, aprendam”, disse o diretor Helvécio Ratton. Este filme deve ser dirigido a todos os brasileiros, eu diria. “Para que saibam, aprendam”, e nunca deixem acontecer, de novo, as atrocidades da Ditadura Militar no Brasil. Viva a Liberdade! Viva a democracia! R. F.
Leia a íntegra na pág. 3

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