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terça-feira, 14 de julho de 2009

Edição nº 100 – Maio/2009
Editorial
Querem calar o jornal de fato?

De 1964 a 1985 foi instalada no Brasil a Ditadura Militar. Período tenebroso, em que os militares, e seus aliados civis, perseguiram, prenderam, torturaram e assassinaram pessoas de bem. Entre as atrocidades da Ditadura, criaram a Lei de Imprensa, cujo objetivo era, obviamente, intimidar e calar os jornais e demais meios de comunicação. Mas a luta dos brasileiros democratas e de bem, mesmo com o assassinato de inúmeros mártires, inclusive de Brumadinho, derrubou a Ditadura. Permaneceu a Lei de Imprensa mas esta também foi derrotada pela sociedade: no último dia 30 de abril, o Supremo Tribunal Federal votou pelo seu fim.
Mas a democracia é uma construção. E nem todos conseguem conviver com a democracia. E muito menos com a liberdade dos jornais de nossa cidade.
Circulada a última edição do de fato, o jornal foi receber os anúncios dos patrocinadores. Um deles, que tinha assumido o compromisso de anunciar por 6 meses e tinha anunciado por 4, comunicou-nos que não mais anunciaria. Segundo o anunciante, ele tinha recebido um telefonema de um irmão do prefeito que tinha pedido para ele não mais anunciar no de fato. Entre as matérias publicadas pela última edição do jornal tinha uma que reproduzia as palavras do prefeito Nenen da ASA (PV), em que ele dizia que não era possível dar reajuste salarial aos servidores municipais. A matéria fazia referência também ao aumento do número de secretarias municipais e aumento de 43 mil reais em gastos com apenas 14 cargos de confiança. O jornal trazia também notícia sobre o pagamento do IPTU (que Nenen da ASA prometeu, durante a campanha, que os brumadinenses não iam mais pagar). Tudo verdade. Comprovada.
Lamentamos profundamente essa atitude do “irmão do prefeito”. Mas não ficamos admirados. Na Câmara Municipal, várias pessoas nos relataram que uma parente do prefeito, ao ver o jornal, teria exclamado: “Esse jornal ainda está circulando? Aqui (olhando para a manchete de capa): tem que fechar esse jornal mesmo!” Além desses dois episódios, ainda há outros dois, nos quais nos recusamos a acreditar. Durante a campanha eleitoral, nos chegou a informação de que um dos irmãos do prefeito teria nos feito ameaça de morte. Depois, um outro “irmão do prefeito” teria dito que, eles ganhando ou não as eleições, sua vida seria para “arrebentar” com a vida deste editor. Mas, é claro, não acreditamos nisso. Achamos que se tratava apenas de “ânimos acirrados” de campanha e quem nos trazia essas conversas talvez quisesse apenas “botar lenha na fogueira”, tentar nos fazer acreditar em absurdos. Mas não acreditamos que o candidato a prefeito estivesse rodeado de pessoas que chegariam a atitudes tão extremas.
Em pleno século XXI, 24 anos depois que derrubamos a Ditadura Militar e após ter derrubado também a Lei de Imprensa, ligar para o anunciante de um jornal e pedir para não mais anunciar é uma atitude lastimável. E preocupante! Porque, se se quer calar um jornal, quererão também calar os sindicatos, os trabalhadores da prefeitura, os usuários do SUS, os artistas e a população em geral? Estarão eles pensando em formas mais violentas de ação? Ou eles se contentarão em apenas ligar para nossos anunciantes e pedir para que não anunciem em nosso jornal? Preferimos acreditar nesta última opção, embora Jesus Cristo nos ensine: “Orai e vigiai. Pois não sabemos a hora e nem o lugar.” (Mt 25,13)
Ora, não é justo, e nem democrático, tentar atrapalhar nosso trabalho. Ele é feito dentro da legalidade garantida pelo art. 5º, Incs. IV, XIII, XIV e, em especial, o Inc. IX, da Constituição Federal. E ainda estamos resguardados pelo inc. XLI. É a democracia que nos permite fazer este trabalho. Se há alguém que se sente injustiçado, a mesma Constituição lhe garante direitos e a Justiça está aí, para ser acionada e para julgar quem está com a razão.
Já perseguiram, no passado, o editor e dois jornalistas do de fato, com cartas anônimas, com telefonema, com ameaças. Mas, nem por isso, nos intimidamos: chegamos à nossa 102ª edição! Não nos intimidamos porque não nos escondemos atrás de criminosas cartas anônimas e nem nos metemos na vida particular de ninguém! Tratamos de questões públicas, de homens públicos: e, se são homens públicos, o público tem o direito de saber o que fazem e o que não fazem na vida pública. E porque fazemos um trabalho sério, ético, dentro da legalidade e do Estado de Direito e democrático. E vamos continuar fazendo-o. Afinal, “se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8, 31)

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