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domingo, 9 de fevereiro de 2014

Edição 158 – Janeiro/2014
Editorial

Em defesa do Rolezinho

A bola da vez são os “Rolezinhos”. A Wikipédia ainda não registrou, mas trata-se de um passeio que a garotada – idade por volta dos 15 anos - faz aos shoppings, especialmente das grandes cidades, mas também de médias como Betim e Contagem. Até aí tudo parece muito normal, afinal, os shoppings foram criados como espaços para vender, vender e vender, com uma fórmula capitalista muito bem pensada para atrair as pessoas: junto às centenas de lojas – em espaços amplos, corredores largos munidos de bancos -, a Praça de Alimentação e o cinema, e, dependendo do shopping, algum outro espaço de entretenimento. E se é “normal”, se os shoppings foram construídos para serem visitados, porque a garotada – que, diga-se de passagem, são os mais sensíveis ao consumismo – não pode mais frequentá-los? Por que os shoppings têm buscado autorizações da Justiça para proibir a entrada e permanência desses jovens?
A questão não é que os jovens não possam frequentá-lo. A questão é “o tipo de jovem”. A garotada que virou notícia nacional, protagonistas do “Rolezinho”, é formada em sua grande maioria de negros, mora nos morros, tem cabelo pintado de amarelo ou com algum estilo muito pessoal, fala uma língua cheia de gírias, tem muita alegria e energia, muito dela consumida na sua música preferida, o funk. Na última década, sua família usufruiu da política de distribuição de rendas implementada pelo PT, no governo Lula e, agora, por Dilma.  Seu irmão entrou na Universidade (PRO-UNI, SISU, FIES etc), sua família melhorou de vida, tem mais, bebe mais, comprou TV de LCD, aparelho de som, muitos compraram carro. Porque a vida da família melhorou, a da garotada também, o que é traduzido em mais roupa, mais tênis, mais dinheiro para os cabelos, para o computador e o smartphone. E é aí que entra o X da questão.
Todos sabem que o Rolezinho é articulado a partir das redes sociais. Com a idade que tem, essa garotada quer se relacionar, conversar, “trocar ideia”, paquerar, “ficar”.  Ora, a mesma política que aumentou sua renda nada fez - – ou quase nada – para melhorar substancialmente os serviços básicos de que essa garotada necessita: acesso a uma Educação de qualidade, aos bens culturais, à Saúde de qualidade, às atividades físicas e ao lazer. Sem essas opções, sobraram o computador e o smartphone. Sem opções de espaços de lazer em suas comunidades, restou o shopping, com sua sedução de consumismo. E é pra lá que eles foram. 
Reinaldo Fernandes
Editor
Mas, se aumentou sua renda, se a família da garotada pode, inclusive, fazer curso superior, a qualidade da Educação continua a mesma, ou seja, não tem qualidade. A consequência é uma sociedade com mais dinheiro no bolso, mas com os velhos preconceitos, as velhas ideias, a mesma discriminação de sempre. A sociedade chega mesmo a esquecer de que a garotada tem algum dinheiro para gastar no shopping: o preconceito é tamanho que se esquecem deste detalhe e se lembram apenas de que eles são do morro, que têm cabelo amarelo, falam gírias, gostam de funk e que o shopping ficaria melhor – e  mais bonito – sem eles. É por isso que querem proibi-los!  
“Beira o ridículo negar a inclusão social promovida pelo PT. Foi substancial”, afirma Renato Janine Ribeiro, professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. No entanto, a inclusão se deu pelo que nossa sociedade consumista mais valoriza, o consumo. Para ir além, é preciso que o Poder Público tenha a necessária coragem de apostar na melhoria dos bens públicos, especialmente das opções de lazer, cultura e qualidade na Educação. Uma Educação que aponte para a construção de um outro mundo, para além do consumismo, para além dos velhos preconceitos. Um outro mundo é possível!
Enquanto isso... Viva o Rolezinho!


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