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sábado, 14 de março de 2015

Opinião
Prefeitura e Câmara de Vereadores entre a Eficiência e a Justiça Social

Muito se fala atualmente acerca da modernização da gestão municipal, ou seja, da gestão de prefeituras no Brasil. A gestão pública caracterizar-se pelas promessas, pelas utopias e por novas ideias, nem sempre tão renovadas assim, mas que se apresentam como verdadeiras fórmulas salvadoras rumo à tão sonhada eficiência do governo no país.
Se experiências de outras nações na reforma de seus aparelhos de Estado são um rico laboratório para pensarmos os desafios da gestão de prefeituras no Brasil, é importante atentar para os dilemas e impasses que se apresentam para as iniciativas de modernização da máquina governamental brasileira em direção à maior justiça social e eficiência gerencial.
Não se trata de desconstruir o esforço de redemocratização do país, principalmente através da participação popular e da descentralização de políticas públicas, mas sim de entender as configurações que esses esforços de modernização podem adquirir diante da nossa inconsistência crônica no planejamento de políticas e da permanência do clientelismo, corporativismo e assistencialismo, que marcam nossa trajetória na gestão de prefeituras. Brumadinho não foge a essa realidade, sendo que muitas vezes se fez (e se faz) exemplar nisso, infelizmente.
Antes de tudo, é preciso entender, para além dos simplismos e do discurso de cada prefeito e vereador que se conseguem eleger, que novas propostas de condução de políticas públicas não são dicotômicas, ou seja, descentralização não implica necessariamente na redução da centralização, participação popular requer “poder de príncipe” do prefeito, estímulo à competição por recursos baseada no mérito requer garantias de direitos aos desorganizados e destituídos de recursos.
Caso não se olhe de frente para as linhas tênues que separam planejamento central de autoritarismo tecnocrático e demandas comunitárias do esfacelamento das políticas municipais, pode-se perder de vista o fato de que articulação da sociedade civil nas políticas públicas não se faz em detrimento do poder de prefeitos e vereadores, que descentralização forte não se constrói a partir de um governo inconsistente.
Guerras fiscais entre entes da federação e até mesmo entre municípios, “prefeiturização” de conselhos municipais, dominância tecnocrática na interação de lideranças comunitárias com o governo e premiação de ONGs altamente estruturadas na competição por recursos ou de ONGs "amiguinhas" do prefeito e de vereadores são exemplos de como traços históricos das políticas públicas brasileiras, como o insulamento burocrático, o clientelismo e o corporativismo podem adquirir novas roupagens dentro das propostas de modernização da gestão de prefeituras no Brasil.
Esses são desafios que se apresentam aos gestores públicos de Brumadinho e as lideranças das ONGs locais, nesse nosso município tão pouco articulado em termos de redes de movimentos sociais e ambientais. Temos muitos movimentos, mas que nem sempre conseguem atuar de forma conjunta e articulada frente aos grandes poderes políticos e econômicos que têm colonizado nosso território. Superar esses desafios é essencial, pois precisamos avançar nessa complexa equação de difícil equilíbrio, tão necessária a uma prefeitura e a uma câmara municipal de vereadores que desejam ser mais eficientes, ao mesmo tempo em que se tornam mais democráticas e justas.


Armindo dos Santos de Sousa Teodósio (Téo) é Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração da PUC Minas

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