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sábado, 11 de abril de 2015

Edição 172 – Março 2015
Opinião
Estadistas, Políticos e Indignados na Corrupção de Todos Nós


Um problema do debate político atual é o maniqueísmo, no caso, se não é contra a Dilma, só pode ser a favor. Não é meu caso: não apoio as manifestação anti-PT e anti-Dilma, mas também não apoio o PT e o governo eleito. Quando se analisa a história, descobre-se que às vésperas da emergência de grandes ditaduras, tais como o nazismo, o fascismo, o stalinismo e até mesmo o famigerado golpe militar brasileiro, a indignação contra a corrupção foi usada por aproveitadores políticos para mobilizar as massas com promessas de limpeza social e ética, no caso do nazismo, étnica também (judeus, ciganos, comunistas e homossexuais seriam a banda podre a ser banida da sociedade).
A indignação contra a corrupção atualmente carrega várias contradições. Porém, a maior delas é haver indignação com a corrupção das empresas públicas, o que deve haver mesmo, e nenhuma indignação com todos aqueles que fizeram e fazem do bem público um espaço para seus interesses privados.
Vou retratar alguns personagens reais, que foram para as ruas no dia 15 de março. Eles são o retrato bem fiel da hipocrisia de muitos que tomaram a bandeira da ética apenas agora neste momento da história política brasileira e o fizeram com uma violência verbal e moral que não combina com a verdadeira democracia:
Gestor público corrupto - roubou até cansar como assessor na Prefeitura de Brumadinho, teve que mudar de cidade porque a pressão social foi grande demais sobre si, saiu magoado e se dizendo injustiçado, mas sem ser processado e com o bolso cheio. Foi para as ruas com mensagens muito mal educadas de revolta contra a corrupção;
Traficante de Influência Política - conseguiu um emprego público no judiciário sem concurso para a esposa, que trabalha meio horário e não parece ser uma funcionária motivada, dedicada e eficiente;
Empresário Corrupto - dono de uma pequena indústria, vive dizendo que a ditadura não foi barra pesada (seriam invenções da esquerda) e compra fiscais porque diz que no Brasil só assim se consegue tocar um negócio para a frente;
Diretor de Empresa Mafioso - sabe de vários esquemas de corrupção de uma grande empresa na qual trabalhou, cheia de recursos e muito bem organizada para fazer valer seus interesses junto aos políticos, mas acha um absurdo os apoiadores da Dilma, em especial o MST, ir para as ruas de forma organizada;
Ex-Cara Pintada Fã da Ditadura - foi para as ruas contra Collor. Já se formou faz bastante tempo, mas tem carteirinha falsificada de estudante e acha que a solução é o exército voltar para as ruas. Esqueceu que na ditadura houve muita corrupção também e que ninguém podia reclamar dela abertamente;
Eleitor Indignado Seletivo - votou em deputados fisiológicos, com propostas pífias e por motivos privados (família vota, amigo de beltrano, vai arrumar emprego para fulana, etc.); deputados que aumentaram a verba indenizatória em Minas Gerais. Está indignado com a corrupção do governo federal. Já em relação à cara de pau do deputado em quem votou, nem toca no assunto.
Democracia representativa se consolida com democracia participativa forte, através das manifestações das ruas, mas principalmente da ação cotidiana, articulada, discutida livremente, respeitosamente e exaustivamente nos fóruns e conselhos de políticas públicas. Sem que as ruas de 2015 virem ações cotidianas de democracia participativa, as reivindicações podem virar farofa como as de 2013. Há uma série de ONGs que discutem e implementam ações concretas de combate à má gestão pública e a corrupção. Elas precisam de pessoas efetivamente indignadas, no cotidiano e não apenas de vez em quando, para apoiarem as ações que desenvolvem.
Democracia forte se faz não com hipocrisia, virulência verbal, assédio moral e debates insanos entre os que acham que defendem o bem contra aqueles que supõem ser a encarnação do mal. Democracia se faz com profundo respeito a quem tem ideias opostas às suas. Essa é uma das diferenças entre grandes estadistas e políticos. Estadistas reconhecem o direito e o mérito em seus opositores políticos e lutam politicamente contra eles para vencerem eleições baseadas no livre debate público. Não atuam para desqualificar o opositor, mas sim mostrar que as ideias e propostas de mundo e sociedade que defendem são melhores. E é nesse sentido que se percebe que vamos de mal a pior, pois nem no governo nem na oposição conseguimos encontrar verdadeiros estadistas. E essa corrupção é de todos nós. Não ainda querer dizer que essa corrupção é dos outros. É de toda a sociedade e a política brasileiras.


Armindo dos Santos de Sousa Teodósio (Téo), Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração da PUC Minas

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