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quarta-feira, 13 de maio de 2015

Edição 173 – Abril 2015
Escândalo do HSBC tem empresários de mídia mas a grande imprensa esconde os corruptos
Donos de veículos de comunicação, como Veja, Globo e Band; herdeiros e jornalistas estão entre os correntistas do banco na Suíça

Manter dinheiro no exterior pode não ser crime, desde que se declare no Imposto de Renda. No entanto, o escândalo do banco HSBC escancara uma relação de criminosos, que depositaram dinheiro na Suíça, sem declarar no Imposto de Renda. Uma investigação feita na França revelou que a filial suíça do banco britânico HSBC "ajudava" clientes ricos a evadir o pagamento de milhões de dólares em impostos. Esse esquema permitiu que centenas de bilhões de euros transitassem, em Genebra, por contas secretas de 106 mil clientes, entre eles, empresários, políticos, estrelas do showbizz e esportistas, mas também traficantes de drogas e armas e suspeitos de ligações com atividades terroristas. Os documentos também incluem dados sobre 5,5 mil contas secretas de brasileiros, com um saldo total de US$ 7 bilhões (cerca de R$ 19,5 bilhões).
A Suíça é um dos chamados “paraísos fiscais” do Planeta e é para lá que muitos criminosos mandam seu dinheiro. O fato de jornalistas brasileiros abrirem conta na Suíça também é bastante suspeito.
O caso HSBC é um escândalo a expor a hipocrisia de quem pretende derrubar Dilma, acusando-a de corrupção, sem que haja uma mísera prova concreta contra a presidenta, atuando em parceria com a turma de famílias midiáticas com dinheiro na Suíça. A mídia insiste, diariamente, em falar dos escândalos na PETROBRÁS, mas finge que o escândalo do HSBC não existe, e que não é maior do que o da petrolífera.
Na lista dos 8.667 brasileiros que, em 2006 e 2007, tinham contas numeradas no HSBC da Suíça, aparecem donos, diretores e herdeiros de veículos de comunicação, além de jornalistas.
Um levantamento feito pelo GLOBO, em parceria com o UOL, com base nos documentos oficiais que foram vazados por um ex-funcionário da instituição financeira, indica que há ao menos 22 empresários e sete jornalistas brasileiros entre os correntistas do HSBC suíço.
Os correntistas localizados negaram a existência das contas e qualquer irregularidade.

A grande mídia envolvida no escândalo

Nos documentos, constam os nomes de proprietários do Grupo Folha, ao qual pertence o UOL. Tiveram conta conjunta naquela instituição os empresários Octavio Frias de Oliveira (1912-2007) e Carlos Caldeira Filho (1913-1993).
Luiz Frias (atual presidente da Folha e presidente/CEO do UOL) aparece como beneficiário da mesma conta, que foi criada em 1990 e oficialmente encerrada em 1998. Em 2006/2007, os arquivos do banco ainda mantinham os registros, mas, no período, ela estava inativa e zerada.
Quatro integrantes da família Saad, dona da Rede Bandeirantes, também tinham contas no HSBC na época em que os arquivos foram vazados.
Constam entre os correntistas os nomes do fundador da Bandeirantes, João Jorge Saad (1919-1999), da empresária Maria Helena Saad Barros (1928-1996) e de Ricardo Saad e Silvia Saad Jafet, filho e sobrinha de João Jorge.
Lily de Carvalho, viúva de dois jornalistas e donos de jornais, Horácio de Carvalho (1908-1983) e Roberto Marinho (1904-2003), aparece na lista. Horácio de Carvalho foi proprietário do extinto “Diário Carioca”. Roberto Marinho foi dono das Organizações Globo, hoje Grupo Globo, ao qual pertence O GLOBO.
O nome de Lily surge nos documentos com o sobrenome de Horácio, seu primeiro marido, e o representante legal da conta junto ao HSBC é a Fundação Horácio de Carvalho Jr. O saldo registrado em 2006/2007 era de US$ 750,2 mil. Lily morreu em 2011.
Do Grupo Edson Queiroz, dono da TV Verdes Mares e do “Diário do Nordeste”, estão Lenise Queiroz Rocha, Yolanda Vidal Queiroz e Paula Frota Queiroz (membros do conselho de administração). Elas tinham US$ 83,9 milhões em 2006/2007. Edson Queiroz Filho também surge como beneficiário da conta. Ele morreu em 2008.
Luiz Fernando Ferreira Levy (1911-2002), que foi proprietário do jornal “Gazeta Mercantil”, que não existe mais, teve conta no HSBC em Genebra entre os anos de 1992 a 1995.
Dorival Masci de Abreu (morto em 2004), que era proprietário da Rede CBS de rádios (Scalla, Tupi, Kiss e outras), foi correntista da instituição financeira na Suíça entre 1990 a 1998.
João Lydio Seiler Bettega, dono das rádios Curitiba e Ouro Verde FM, no Paraná, tinha conta ativa em 2006/2007. O saldo era de US$ 167,1 mil.
Fernando João Pereira dos Santos, do Grupo João Santos, que tem a TV e a rádio Tribuna (no Espírito Santo e em Pernambuco) e o jornal “A Tribuna” tinha duas contas no período a que se refere os documentos. O saldo delas era de US$ 4,4 milhões e US$ 5,6 milhões.
Anna Bentes, que foi casada com Adolpho Bloch (1908-1995), fundador do antigo Grupo Manchete, fechou sua conta no ano 2000.

Os “reis” da moralidade

O apresentador de TV Carlos Roberto Massa, conhecido como Ratinho - aquele que berra, e pede “justiça” na TV - e dono da “Rede Massa” (afiliada ao SBT no Paraná) tinha uma conta com sua mulher, Solange Martinez Massa, em 2006/2007. O saldo era de US$ 12,5 milhões.
Aloysio de Andrade Faria, do Grupo Alfa (Rede Transamérica), tinha US$ 120,6 milhões.
Os sete jornalistas que aparecem nos registros do HSBC são Arnaldo Bloch (“O Globo”), José Roberto Guzzo (Editora Abril), Mona Dorf (jornalista que divide bancada na Jovem Pan com Reinaldo Azevedo, da Veja, no programa “Pingos nos Is” – tribuna de onde acusam o governo petista – e só o governo petista – de todas as mazelas brasileiras); Arnaldo Dines, Alexandre Dines, Debora Dines e Liana Dines, filhos de Alberto Dines (apresentador do programa Observatório da Imprensa, jornalista que em 1964 defendeu o golpe militar). Fernando Luiz Vieira de Mello (1929-2001), ex-rádio Jovem Pan, teve uma conta, que foi encerrada em 1999.
As contas de Bloch e Guzzo estavam encerradas. Mona tinha US$ 310,6 mil. Os quatro jornalistas Dines guardavam US$ 1,395 milhão.

* Participaram também da apuração desta reportagem os jornalistas Fernando Rodrigues e Bruno Lupion (do UOL)
** A investigação jornalística multinacional é comandada pelo ICIJ, sigla em inglês para Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (www.icij.org)
Por Chico Otávio / Cristina Tardaguila / Ruben Berta*, em O Globo


Para entender a história
Um ex-funcionário do HSBC na Suíça entregou todo o papelório das contas, que chegou às mãos de jornalistas do ‘Le Monde’, jornal francês. Ao perceber o tamanho da encrenca (há milionários de dezenas de países envolvidos com ao crime), os franceses resolveram dividir os documentos com o ICIJ (um consórcio de jornalistas).
Walker Guevara, diretora do ICIJ, resolveu “escolher” apenas um jornalista para decifrar o conteúdo de mais de 8 mil contas da elite brasileira: Fernando Rodrigues, do UOL/Folha. Estranhamente, ele passou a divulgar apenas as contas relacionadas ao caso Petrobras. Disse que era preciso ver se havia “interesse público” envolvido nos demais casos.
Rodrigues é considerado jornalista sério. Foi ele quem noticiou a compra de votos de FHC (PSDB) para a reeleição, o que jamais foi investigado. Mas nesse caso HSBC, cumpriu um triste papel. Claramente, estava sob pressão pra segurar os nomes. Ele trabalha para a família Frias – dona do UOL/Folha. O irmão de Otávio Frias, Luís Frias (operador administrativo do grupo), está na lista da Suíça.
Amaury Ribeiro Jr (jornalista premiado, que integrava o ICIJ) pediu pra ter acesso ao papelório. Walker teria dado a ele uma resposta desaforada. E Amaury então se retirou do ICIJ. Logo depois, a senhora Walker decidiu que mais um “órgão de imprensa” teria direito de ver os papéis: “O Globo”.
Agora é “O Globo” quem faz os vazamentos das informações. Mas só vaza os nomes que interessam ao Globo. A tentativa é de controlar os nomes, seguir na linha dos vazamentos seletivos, e com a menor exposição possível.
A matéria de “O Globo” explica que Lily Marinho abriu a conta com sobrenome de seu primeiro marido (Carvalho, também jornalista). Ou seja, a tentativa é dar a entender que a sujeira não tem a ver com os Marinho – mas com o falecido Carvalho.

Mistérios do caso HSBC

Algumas outras estranhezas rodam o caso HSBC. Fernando Rodrigues dizia que não podia revelar outros nomes porque era preciso apurar se ‘havia interesse público’.  Supomos que "O Globo” siga a mesma norma, então a conclusão é de que agora há interesse público. Mas o Globo não esclarece qual “interesse público”. Houve desvio de dinheiro? Sonegação?
Por outro lado, circulam informações de que há mais nomes relacionados à mídia e ao PSDB. “Artistas da Globo no Projac estariam preocupados”, revela uma fonte muito bem informada. Talvez esteja havendo censura para que não se noticie mais.
Entre os que ignoram o caso HSBC está Reinaldo Azevedo  da VEJA, que vive defendendo a moralidade mas foi citado numa planilha da Camargo Correia, segundo informou a jornalista Conceição Lemes, no site VioMundo. O nome de Azevedo aparece na Operação Castelo de Areia, com seu nome associado a “Revista A”, “50.000,00″, “Andrea Matarazo” (este último, vereador e operador do PSDB). Azevedo ainda não foi investigado, a operação foi barrada na Justiça brasileira. Porém seu nome está lá na planilha da empreiteira.
Os envolvidos são os mesmos que defendeu um golpe contra a Presidenta Dilma Rousseff (PT). São os que se dizem preocupados em “limpar o Brasil”. OU que querem que tudo “volte a ser como antes” – quando o dinheiro deles podia circular em paraísos fiscais sem que Polícia Federal, Ministério Público Federal e a internet estivessem de olho.


Com informações de Rodrigo Vianna, da Revista Fórum

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