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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Edição 205 – Janeiro 2018
Cássio Prado lança mais um livro
“Pipilar de Um Pardal – Escritos”, da CreateSpace Amazon, 282 páginas, Nov/2017, traz textos publicados no jornal de fato e outros espaços; Editor do Jornal de fato participa da obra analisando um conjunto de poemas do autor


Cássio Vilela Prado é natural de Itaúna. Para se tornar bancário – onde ficou de 1987 a 1996 -, abandonou os cursos de Engenharia Mecânica e Direito. Em 2002, aprovado em Concurso Público da Prefeitura, instalou-se em Brumadinho e agora mora no bairro de Lourdes. O psicólogo Cássio é especialista em Clínica, participa da luta antimanicomial (desconstrução do modelo hospitalocêntrico e avanço no trato da atenção, do cuidado e da inserção na sociedade) no tratamento de cidadãos em sofrimento mental.
Em o “Pipilar de Um Pardal”, “o ainda comunista” e “anarquista conservador” Cássio Vilela mistura política, psicologia, linguística, psicanálise, poesia, literatura.
Atual e atento ao momento político porque passa o País, “Pipilar de Um Pardal” traz uma série de textos em que Cássio refletiu sobre o “Golpeachement”, como Golpe de Estado: um olhar kafkiano, Quem são os inimigos do Brasil, Impeachment ou canibalismo: um viés psicanalítico, A doença do ressentimento e a violência de um golpe consentido, O golpe jurídico agoniza... É um bom registro histórico: assim não corremos o risco da fala única do MEC do DEM registrar nos livros de história para as futuras gerações que houve um impeachment. 
Na poesia, “Pipilar de Um Pardal” registra poemas como Latinha Levada, Tela invisível, Uma estrela nenhuma e O último poema, participantes de Concursos de Poesias realizados pelo jornal de fato. Essas e outras são analisadas pelo Editor do Jornal, Reinaldo Fernandes, captando o que ele chamou de “poesia para declamar, porquanto feita de sonoridade; para saborear, porquanto feita no supermercado; para pensar, porquanto nietzschiana”. Um poeta “inquieto, um turbilhão, um vulcão. Preparado para entrar em erupção a qualquer momento, com um novo livro, sempre mais eruptivo do que o anterior.”
“O escritor Cássio Prado é o nosso Thomas Morus: tal o renascentista inglês, ele lê pelo avesso a loucura dos homens e lança-lhes ao rosto a obrigatoriedade de serem ‘utópicos”, vale dizer, em acepção concordante com a segunda das virtudes teologais, não perderem jamais a esperança em si mesmos, enquanto seres agregários, socializáveis e históricos”, diz dele o poeta e psicanalista José Marcus de Castro Mattos.
Então, se você, caro (a) leitor (a) quer a leitura completa de “Pipilar de Um Pardal”, adquira-o pelo site da Amazon. Mas saiba: é preciso ter coragem para ler Cássio Vilela Prado. Ele vai joga na nossa cara “a obrigatoriedade de sermos ‘utópicos”, a necessidade de não perdermos jamais a esperança em nós mesmos, enquanto seres históricos que somos.   

Acompanhe abaixo a entrevista que o autor concedeu ao jornal de fato:

de fato: Você tem lançado vários livros. Quantos lançou ultimamente?
Cássio Vilela Prado: Iniciei a escrita do meu primeiro livro em agosto de 2014, concluído e publicado pela Amazon em maio de 2015, de nome “O olhar de um instante: matéria, sujeito e representação”. O segundo livro escrito foi no final de 2015: “E você, foi cagado ou parido? Descubra antes de morrer”, onde trato de alguns temas importantes como Religião, Álcool e Outras Drogas (lícitas e ilícitas), Psicoterapias, Instituições, Política... O terceiro livro foi: “Pipilar de um pardal: escritos”, do qual falo mais abaixo, na pergunta 3. Aproveito, desde já, para manifestar os meus agradecimentos pela honrosa participação do Editor do Jornal de fato como um dos comentaristas do livro assim como agradeço aos demais colaboradores de Minas e de outros estados do país.  O quarto livro, escrito e publicado em 31 de março de 2016, também foi escrito bem rápido: “O golpe na Presidenta Dilma Rousseff: Golpeachment”. Nunca vi tantos perversos e alienados juntos, fantasiados de verde-amarelos. Atualmente, desde meados do ano passado, estou escrevendo o quinto, ainda sem título definido, mas trata-se dos descaminhos tomados por certa Psicologia e seus profissionais diante das “religiões contemporâneas capitalistas”, das políticas neoliberais e autoritárias, teses americanizadas...
de fato: Por que escrever e publicar livros?
Cássio Vilela Prado: Escrevo para esvaziar-me. Encho-me e esvazio-me. Em termos freudianos, bem “anal”, né? Ou um balão de ar quente, pronto para explodir e desaparecer. Quem pretende sobreviver com a venda de livros tem que ter muito talento e patrocínio. Não é o meu caso. Parece que a maioria dos brasileiros ainda prefere assistir à Rede Globo, o Facebook, o Instagram (nada contra, também faço isso! Mas a vida não pode ser apenas virtual)... Não consigo ficar sem ler (livros) e escrever, acho que eu já teria morrido se não os fizesse.
de fato: Você diz na “Nota” (pág. viii), de “Pipilar de Um Pardal” que “o objetivo único desses escritos é a sua própria reunião e organização, absolutamente mais nada.” Afinal, para quem você escreve?
Cássio Vilela Prado: Pois é! Quando escrevi esse livro: “Pipilar de um pardal: escritos” eu sentia certa desesperança com os rumos que a política brasileira estava tomando após o golpe de 2016 e a concomitante instalação desse Estado de exceção que está em vigor, dizimando a vida material, psicológica, social, simbólica dos mais simples como eu e grande parcela do povo. Eu também tentava me recuperar de algumas perdas importantes que tive num curto espaço de tempo da minha vida: a morte de dois irmãos muito próximos, minha mãe, alguns amigos... Sacanagem de colegas próximos... (risos). A distância do meu filho por questões excepcionais. Vivi um luto intenso. Adoeci. O “Pipilar” me ajudou muito a retomar a minha vida! Claro, a mudança da minha esposa (Ana Maria) para Brumadinho foi essencial. Fiz uma “reunião e organização” das coisas que estavam dissociadas. Comecei pelos meus escritos “espalhados”, fiz interação com colegas velhos e novos... Eliminei outros... Fiz uma faxina. Sempre é bom a gente fazer faxina (risos). Neste sentido, escrevi para mim mesmo e fiz uma abertura ao Outro (tanto o “Outro em mim” quanto ao outro ser humano). Esse livro tem um tom cinza, todavia, com um vislumbramento em cores mais intensas dado pelos seus comentaristas. Quando digo “absolutamente mais nada”, acredito que se trata de uma “queda sublime”, sem alarde, ou seja, é uma elaboração do “luto”, pois os leitores e o Outro (excesso de imaginário e simbólico) já não tinham mais tanta importância, haja vista que “adoecemos” por excesso ou falta do Outro. Precisamos beijar mais o “real” sem temor. Conforme o filósofo italiano, Giogio Agamben, no livro “Profanações”, é preciso ter mais contato com o “Genius”, esse estranho aterrador, paradoxalmente angelical, que nos habita, sem um locus definido...
de fato: O que você quer transmitir ao leitor com seus livros?
Cássio Vilela Prado: Sinceramente, a transmissão de alguma coisa é um problema quando se usa apenas a linguagem escrita ou falada. Sempre escapa a essência daquilo que mais se deseja transmitir. Tento transmitir ao leitor para não ser babaca como eu fui em certos aspectos: deixar de ir na onda dos outros, nos modismos, nas estéticas e éticas sociais frívolas e supérfluas. Nunca tomar a realidade social e a política como alguma coisa natural, divinizada, imprescindível. Sou meio pessimista (ou realista quanto a isso?). Acho que concordo com Nietzsche: "Melhorar a humanidade? Eis a última coisa que eu prometeria”. Às vezes a gente tem uma recaída e tenta alguma melhora, mas sem promessa! (risos).
de fato: A publicação de livros tem ajudado em sua vida? Em que aspectos?
Cássio Vilela Prado: Sim. Bastante! Principalmente nos aspectos psicossociais. Gosto de muita privacidade e também de muita “zoeira”. Depende do momento. Depois que eu vejo a “obra publicada”, sinto muito alívio. Os psicanalistas dirão que há um “gozo” com a escrita. Entretanto, no meu caso, tento fazer essa repetição de forma diferente. Pensei agora no “castigo de Sísifo”, aquele personagem mitológico que empurra uma pedra até o topo da montanha e a deixa rolar novamente ao ponto de partida.  A mesma pedra nunca ultrapassa a montanha. É um trabalho repetitivo e continuado. Todos nós, de alguma forma, somos “Sísifos”. Com uma diferença, para alguns há momentos nos quais conseguem fazer a pedra atravessar o topo da montanha e rolar para o outro lado. O problema é que depois têm outras montanhas (risos)...
de fato: Por que o título “Pipilar de um pardal”?

Cássio Vilela Prado: Muito bem. É a expressão de certo cansaço com a fala e a escrita, é uma “denúncia” da impotência da própria linguagem, da cultura do simbólico e do imaginário. É uma fadiga com os signos, inclusive com a teoria do “significante lacaniano”. “Pipilar” tem um sentido esvaziado de sentido, próprio do mundo do “real”, do impossível, que está aquém e além da palavra, portanto, algo do “humano, demasiadamente humano”, de Nietzsche. “Pipilar” é também ir na direção do silêncio fônico do signo, “sussurrar sem som”, na fronteira da cultura com a natureza, a própria natureza inanimada, mas vivaz e soberba. É o som de um pardal sem “pedigree”, “sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior” (Belchior)... Pura sensação. “Pipilar de um pardal: escritos” também não deixa de ser um “grito sagrado” dos excluídos. Nesse livro, estou muito atrelado ao pensamento do filósofo Wittgenstein, em seu "Tratado Lógico-Filosófico", “isso não pode ser demonstrado, é algo que apenas se mostra” ou então: “aquilo que não pode ser dito, deve ser silenciado”. Porém, “pipilemos”.

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