Edição 133-Janeiro/2012
Ossos desaparecem no Cemitério Municipal
Familiares ficam revoltados com Administração
Os familiares de Antônio Gonçalves Maia estão revoltados com a
Administração de Nenen da ASA (PV). Responsável pelo Cemitério Municipal, a
Administração desapareceu com os ossos do falecido e os familiares ainda se
sentiram “enrolados”. Os fatos foram registrados no Boletim de Ocorrência
Policial (BO) CIAP/P-2012-1018697, de 16 de janeiro de 2012.
A viúva, Maria da Conceição Diniz Maia, relatou à reportagem do
jornal de fato que esteve, junto que filhos, no Cemitério Municipal Parque das
Rosas no Dia de Finados para visitar a cova do ente querido. Na época, foi comunicada de que os ossos de seu Antônio
seriam retirados da cova pública, prática comum da Administração, a fim de
abrir espaço para novo corpo. O administrador do cemitério, David Raimundo de
Paula, teria sugerido até que a família arrumasse uma cova emprestada caso
demorasse a construir o túmulo particular. A autorização, conta a viúva, foi
feita em 7 de novembro, por Geralda de Souza Maia, uma parenta. Mas a família
teve a garantia do administrador do Cemitério de que seria avisada três dias
antes da retirada dos ossos, pelo telefone, para que pudesse transferi-los para
uma sepultura particular. Explicou que, sem a família presente, não poderiam
fazer a transferência dos ossos. Dessa forma, a família ficou tranquila, e foi
providenciar a sepultura.
Dona Maria adquiriu o terreno por R$ 802,50, foi até à Prefeitura
pegar guia de recolhimento de taxa, foi ao banco para pagar taxas, voltou à
Prefeitura, contratou um pedreiro particular e pagou mais R$ 2.200,00 para a
construção do túmulo, finalizado no dia 11/11/2011, apenas 9 dias depois de
Finados.
Promessa não cumprida
Preocupada com a demora do contato do administrador, dona Maria da
Conceição disse à reportagem que por várias vezes o procurou, falando se sua
preocupação. Mas, segundo ela, David sempre dizia que ela não precisava se preocupar porque seria comunicada
da transferência, o que não aconteceu.
“Depois eu já nem estava confiando em ligar, não! Eu ia pessoalmente
lá conversar com ele e ele sempre dizia que não era pra mim se preocupar”,
relata. “Na última vez que eu fui, ele foi áspero comigo e disse: ‘Já falei pra
senhora que não precisa se preocupar não que eu aviso pra senhora com três dias
de antecedência!’ E aí eu parei de ir
lá”, explicou.
“Meu filho Magno me dizia que o Administrador tinha garantido a ele,
no dia do sepultamento, que telefonaria. Já minha filha ficou preocupada com a
demora, me telefonava cobrando, lembrando que o David tinha dito que os ossos
deveriam ser retirados logo, e eu dizia a ela que o David não tinha ligado mas
eu não poderia fazer nada, já estava cobrando dele mas ele sempre falava para
eu esperar”, conta a viúva.
Ossada transferida
No dia 15 de janeiro, mais de dois meses depois do compromisso
assumido e não cumprido pelo Administrador, dona Maria decidiu voltar ao
cemitério, acompanhada de uma filha e genro.
“Quando cheguei à cova do meu
marido, não havia nada lá”, conta dona Maria. “Então um coveiro me disse que a
ossada tinha sido transferida para o ossuário e não para a sepultura familiar,
como o David tinha me garantido”, conta. “Nós ficamos revoltados demais! Eu
achei que foi uma sacanagem, depois dele ter me prometido tantas vezes que me
avisaria antes! Meus filhos acharam que foi um absurdo o que fizeram e eu disse
a eles ia entrar na Justiça”, contou ela, muito revoltada. O ossuário é o local
onde colocam os ossos retirados das covas.
Revoltada, dona Maria procurou o Administrador em sua casa, perguntou
a ele o que tinha acontecido. Relatou o
fato de que os ossos de seu esposo não estavam na cova. Segundo ela, o
administrador ficou irritado e garantiu que os ossos não tinham sido retirados.
Dona Maria disse que sim, ele continuou dizendo que não. “Então falei com ele:
então vamos lá pro senhor ver”, mas ele teria se recusado a ir, dizendo que não
podia ir naquele momento.
Depois da recusa do Administrador, dona Maria resolveu ir para casa.
Ela conta que um genro, que a acompanhava, sugeriu que voltassem ao Cemitério,
desconfiado de alguma coisa. Então, uns quarenta minutos depois de ter
conversado com o Administrador e de ele ter se recusado a ir até o local, lá
estava David. “Assim que nós chegamos, avistamos o Administrador, juntamente
com seu filho, no interior do cemitério”, relata. “O administrador, quando viu
a gente”, continua, “veio até nós falando que não tinha tirado, que só tinha
tirado os dois de cima, mas o coveiro disse que tinha tirado sim.” O BO
(Boletim de Ocorrência Policial) registra que três coveiros disseram que a
ossada tinha sido retirada em dezembro, “obedecendo o prazo permitido em
documento que normatiza o assunto”.
Então Dona Maria perguntou que história era aquela de um dizer que
tinha tirado e o outro dizer que não. Para ela, tinha realmente acontecido,
conforme dizia o coveiro porque havia três covas e os ossos das outras duas que
ficam com a de seu marido tinham sido removidos. Naquele dia, ficou combinado
com o administrador que os ossos seriam transferidos na segunda feira de manhã.
Ossos não seriam do marido
Dona Maria conta que na segunda feira, quando chegou ao cemitério, o
Administrador estava com mais 4 coveiros, ensacando os ossos. E que apresentou
uma ossada dizendo que era a do seu marido. Segundo ela, não aceitou, porque,
depois de tanta conversa esquisita, tanta enrolação, já não acreditava que
fossem os ossos dele. Disse que acha que o crânio, que tinha uma característica
particular, era dele, mas o resto não sabe, uma vez que viu 7 sacos de ossos no
local. Disse ainda que sua desconfiança aumentou porque os sacos estavam
limpinhos, sem rasgos. Ela fora informada por um experiente construtor de
sepulturas que os ossos são atirados do alto, e têm ponta, geralmente rasgam os
sacos, que não ficam inteiros. E, como os sacos são muito movimentados no
local, geralmente ficam sujos de terra e não limpinhos como estavam aqueles,
deixando a impressão de que os ossos tinham sido ensacados naquela hora, um
“ajeitamento”, segundo ela. Ela acredita que, sabendo mais ou menos da altura
do falecido, eles pegaram ossos parecidos. “Quando chegamos lá eles estavam
todos de pé, mexendo nos sacos, parece que estavam escolhendo”, relata. Além
disso, ela questiona: “Por que tiraram sete ossadas? Se eles tivessem certeza
de que era o dele, teriam tirado apenas uma, a dele.” Reclama ainda que o
administrador não apresentou os documentos relativos à autorização feita pela
senhora Geralda Maia. “Achei uma sacanagem ele sumir ou esconder os papéis”.
“Meu filho ficou muito nervoso, mandou colocar lá, tem um lá, mas não
acho que é do meu marido”, explica.
Dona Maria irrita-se também com outro episódio: “Meu genro disse que
o David admitiu para ele que tinha errado. Agora, pra mim, ele ainda quis dizer
que não me conhecia. Mandei ele parar por ali mesmo! Onde já se viu, depois de
conversar com ele tantas vezes!”
Ossos espalhados no chão e coveiro bêbado
Dona Maria relatou ainda que sua filha, ao andar pelo cemitério,
teria visto ossos jogados pelo chão, próximo do que seria uma caixa d’água.
Contou também da desorganização do cemitério. Segundo ela, os coveiros disseram
que não sabiam que ela tinha mandado construir a sepultura, alegando que o
túmulo não era dela, e sim de outra mulher. E que havia um coveiro muito
bêbado, que dava gargalhadas e dizia: “Ô, dona! Eu ajudei tirar, viu? Eu ajudei
tirar”.
Polícia Civil
Foi feita também uma representação na Delegacia de Polícia Civil mas
dona Maria diz que ainda não foi chamada para ser ouvida sobre o assunto. E
quando liga, dizem que não podem dar informação, apesar de o investigador ter
dado um número de telefone para que ela ligasse.
Outro lado
A reportagem do de fato procurou o administrador do
cemitério, David Raimundo de Paula, para ouvir sua versão dos fatos.
Questionado sobre quantas vezes a família o teria procurado para discutir a
transferência, a princípio Davi disse que não se lembrava de nenhuma vez que
fora procurado pela senhora Maria da Conceição. Em seguida, corrigiu, afirmando
que foi apenas uma vez, quando ela queria comprar o terreno no cemitério para
fazer a sepultura. Acrescentou que não se lembrava de ela ter insistido e que
não fora ele que dissera que não a conhecia, mas um coveiro, Atenagos Moreira,
que foi chamado para confirmar o que dizia. Questionado se tinha prometido a um
filho dela, no dia do enterro, 16 de junho de 2006, que comunicaria à família
da transferência, David negou que teria prometido. Segundo ele, nesta data, ele
nem respondia pelo cemitério, tendo ido para lá em outubro de 2007. “Pra você
ter uma ideia”, disse ele, “nesta data eu era chefe do almoxarifado da
Prefeitura”. Logo no início da conversa, o Administrador se defendeu, dizendo
que o trabalho é muito e que, “se houve algum erro, não foi proposital,
nunca!”.
Perguntado se o cemitério tinha
o documento em que Geralda Maia autorizava a transferência provisória para uma
cova sepultura enquanto se construía a do Sr. Antônio, o Administrador garantiu que não tinha esse documento.
David explicou que
há um memorando da Administração, segundo ele divulgado nas rádios da cidade,
que explica quando os ossos devem ser retirados, num prazo de cinco anos. No
caso de Sr. Antônio, disse, eles deveriam ser retirados até 13 de junho de
2011. Quando a reportagem perguntou se ele sabia quando foram retirados os
restos mortais do marido de dona Maria da
Conceição, ele disse que não sabia precisar, mas que seria em meados de
dezembro. E mostrou à reportagem um caderno em que anotava os telefones das pessoas
que seriam contatadas para serem avisadas da transferência.
“Os ossos
entregues à família são do Sr. Antônio Gonçalves Maia?”, perguntou a
reportagem. O Administrador disse que não tinha certeza disso, mas que deveria
ser, até porque, segundo ele, Dona Maria e uma filha teriam informado que o
crânio era do falecido. Disse que no dia da retirada, ele, David, não estava
lá. “Tudo indica que é, não posso afirmar, mas pelas indicações que ela falou,
pode ser”, concluiu.
A respeito da afirmação da esposa do
falecido de que havia um coveiro trabalhando bêbado, ele garantiu que não
acontecera isso.
David terminou a
entrevista voltando a dizer que o trabalho era muito e que, “se aconteceu algum
erro, não foi por maldade, por nada, apenas cumpri o que foi pedido aqui”.
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