Edição
179 – Outubro 2015
Opinião
O golpe não é
contra Dilma. Não é contra Lula. Não é contra o PT.
Marcelo Zero
O golpe é contra
os 54,3 milhões de votos que elegeram a presidenta em eleições livres e limpas.
O mandato presidencial a eles pertence. Caso a agressão à soberania popular
promovida pelo golpe se concretize, eles é que serão cassados.
O golpe é contra
os 42 milhões de brasileiros que ascenderam à classe média, nos últimos 13
anos. É contra os 22 milhões de cidadãos que deixaram a pobreza extrema para
trás. É contra as políticas sociais que praticamente eliminaram a miséria no
Brasil. Miséria histórica, atávica, contra a qual os representantes do golpismo
pouco ou nada fizeram, quando governavam.
O golpe é contra
um processo de desenvolvimento que conseguiu tirar o Brasil do Mapa da Fome.
Fome secular, vergonhosa, que os golpistas nunca conseguiram saciar. O golpe é
para colocar o Brasil no Mapa da Vergonha.
O golpe é contra
a igualdade e pela desigualdade. Os que apostam no golpe também apostam na
desigualdade como elemento essencial para o suposto bom funcionamento da
economia e da sociedade. Eles apostam na meritocracia dos privilégios.
O golpe é contra
a valorização do salário mínimo, que aumentou 76,5%, nos últimos 11 anos. O
golpe é pelos salários baixos para os trabalhadores, pois, para os golpistas,
salários reduzidos são essenciais para o combate à inflação e a competitividade
da economia.
O golpe é contra
a geração de 21 milhões de empregos formais, ocorrida nos últimos 12 anos. Quem
aposta no golpe aposta num nível de desemprego mais alto, para reduzir os
custos do trabalho. Aposta também na redução dos direitos trabalhistas, na
terceirização e na volta da precarização do mercado de trabalho.
O golpe é contra
a Petrobras e pela Petrobax. O golpe é contra a política de conteúdo nacional,
que reergueu nossa indústria naval e reestruturou a cadeia econômica do
petróleo. O golpe é contra a nossa maior empresa e tudo o que ela simboliza. O
golpe é pela privatização e pela desnacionalização.
O golpe é contra
os programas que abriram as portas das universidades brasileiras para pobres e
afrodescendentes. O golpe é contra o ENEM e pelo vestibular. O golpe é pela
manutenção da educação de qualidade como apanágio para poucos. O golpe é pela
privatização do conhecimento. O golpe é contra as novas oportunidades e pelos
antigos privilégios.
O golpe é contra
o SUS e o Mais Médicos, programa que leva assistência básica à saúde a mais de
60 milhões de brasileiros que antes estavam desassistidos. O golpe é contra a
saúde pública e pela mercantilização da medicina. O golpe é contra médicos
cubanos e pacientes brasileiros. O golpe é pela doença que rende lucros. O
golpe é uma patologia.
O golpe é contra
a política externa ativa e altiva. O golpe é contra a soberania e por uma nova
dependência. O golpe é contra o Mercosul e a integração regional. O golpe é
para desintegrar a projeção dos interesses brasileiros. O golpe é para nos
alinhar aos interesses das potências tradicionais. O golpe é contra o grande
protagonismo que o país assumiu recentemente. O golpe é para nos apequenar.
O golpe é contra
uma presidente honesta e pelos corruptos. O golpe é contra o governo que mais
combate a corrupção. Que multiplicou as operações da Polícia Federal de 7 por
ano para quase 300 por ano. Que fortaleceu e deu autonomia real a todas as
instituições de controle. Que engavetou o engavetador–geral. O golpe é contra
as apurações e pela impunidade. O golpe é contra a transparência e a verdade. O
golpe é um engodo ético e moral. O golpe é cínico e hipócrita. O golpe é uma
grande mentira.
O golpe é contra
o futuro e pela restauração do passado. A única proposta do golpe é o golpe.
O golpe é contra
a esperança e pelo ódio, para o ódio. O golpe é intolerante. O golpe é
mesquinho.
O golpe é contra
a grande nação e pela republiqueta de bananas.
O golpe é contra
a democracia. Contra o Brasil.
O golpe é,
sobretudo, contra você.
Marcelo Zero é sociólogo e especialista
em relações internacionais - Texto publicado pelo site Brasil 247, em 24/10/2015
Desafios da
Sociedade Civil em Brumadinho
A sociedade civil
compreende as diferentes organizações (como as ONGs), movimentos e instituições
componentes da esfera pública que não pertencem ao Estado. Rubens César
Fernandes usa o trocadilho “público porém privado, privado porém público” para
definir sociedade civil, pois para ele
se assemelha ao Estado por ter objetivos
públicos, mas se diferencia dele por ser de iniciativa não governamental
(privada). O mercado teria interesses privados e seria de iniciativa privada.
Causas sociais,
ambientais, culturais, políticas e econômicas levaram a uma efervescência da
sociedade civil nas últimas décadas. No âmbito sócio-político, encontram-se
causas ligadas ao crescente descrédito da população, em vários países do mundo,
quanto às instituições políticas tradicionais, como os partidos políticos, os
governos e as empresas.

Sem dúvida, no
caso brasileiro principalmente, a crise do Estado na oferta e garantia de
direitos é uma dos principais fatores impulsionadores da expansão das
organizações da sociedade civil. Porém, outro fator decisivo foi a presença por
décadas de um regime ditatorial, o que acabou por levar diferentes indivíduos e
grupos sociais comprometidos com os direitos civis e a liberdade política a se
engajarem em organizações da sociedade civil.
No Brasil,
podemos encontrar organizações da sociedade civil que se destacam por prestar
bons serviços para determinados grupos sociais que enfrentam obstáculos para
acessar educação de qualidade, serviços de saúde adequados, moradia digna,
etc., bem como organizações engajadas e combativas na luta pelos direitos
civis, sociais e políticos. Exemplos disso são os movimentos feminista, negro,
indígena e dos gays, lésbicas, bissexuais e transexuais (FGTS).
É preciso
desmistificar o universo das organizações da sociedade civil. Existem
organizações sérias, combativas e efetivas na luta pela ampliação dos direitos
sociais e pela correta e adequada prestação de serviços sociais, como também
existem várias organizações assistencialistas, pouco transparentes, com modelos
autoritários de gestão e deslocadas das efetivas necessidades da comunidade ou
população que buscam atender.
Infelizmente,
quando se analisa a trajetória das organizações da sociedade civil na nossa
querida Brumadinho, percebe-se que poucas são as iniciativas efetivamente
independentes, críticas e aguerridas na luta pelos direitos sociais e ambientais
em nosso município. Existem muitas organizações que prestam bons serviços para
a comunidade, mas o fazem à custa de muita proximidade e relações muito amenas,
para não dizer passivas, em relação à prefeitura e a grandes empresas que
financiam projetos sociais e ambientais em Brumadinho. Para avançar para uma
sociedade civil forte, capaz, inovadora e combativa, é preciso que mais
voluntários participem das ações que visam o bem público em nossa cidade, bem
como se preparem não apenas para serem parceiros e amigos da prefeitura e das
grandes empresas, mas também críticos independentes e ferozes quando as
organizações do Estado e do mercado desenvolverem ações que trazem mais
impactos positivos para o âmbito privado e desdobramentos negativos para a dimensão
pública, como infelizmente é a marca da história de nosso município.
Armindo dos
Santos de Sousa Teodósio (Téo), Professor do Programa de Pós-Graduação em
Administração da PUC Minas
Nenhum comentário:
Postar um comentário