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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020


Edição 226 – Janeiro 2020
Assassinatos da VALE completam um ano
O dia 25 de janeiro acordou Brumadinho com uma movimentação só vista aqui no dia 25 de janeiro anterior, em 2019. Movimentos sindical e populares, grupos organizados e a 1ª Romaria da Arquidiocese de Belo Horizonte lotaram a cidade durante todo o dia.  
Em 25 de janeiro de 2019, a mineradora VALE ceifava a vida de 272 pessoas, deixava 109 órfãos, matava o Rio Paraopeba e outras milhares de vida no meio ambiente, poluía o ar e as águas, e modificava, para sempre, a vida dos brumadinenses.
(foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato)


Edição 226 – Janeiro 2020
Editorial
Quem tem chances de vencer as eleições em Brumadinho em 2020?

As eleições estão aí, na boca do povo. E o que o povo diz? De um tudo. Algumas frases são corriqueiras, do tipo: “Ele não vai ser eleito, tá roubando muito!”; “Desta vez ele não vai ser eleito.”; “Ela vai ser reeleita, compra muito voto!”; “Ih, num tem chance nenhuma!”; “Até que ele é bom, mas não tem chance, nem tem dinheiro pra disputar!”; “Fulano não ganha nem para porteiro de prédio!”... e por aí vai.
Tenho opinião um pouco diferente.  Paulo Freire diz que a história não está dada, nenhuma história nunca está dada. “O futuro”, diz Freire, “é problemático e não inexorável”.
Defendo a ideia de que existe uma maneira muito eficiente de não ser eleito: não ser candidato! No mais, o simples fato de ser candidato faz com que a pessoa corra um risco muito grande: o de ser eleito. E por que digo isso? Porque a História, essa mesma de que nos fala Freire, me prova isso. O Brasil já elegeu figuras de todo tipo em sua vida política. Como diria o jornal FSP: “São Paulo elege palhaço, general, príncipe e ator pornô.” Mas vamos ficar em apenas alguns exemplos.
Na última eleição, foi eleito deputado federal, com mais de 155 mil votos, o ator pornô Alexandre Frota, acusado de fazer a defesa do estupro. E sabe por qual partido? Pelo PSL de bolsonaro, o partido que defende a Família, a Moral e os bons costumes!
Outro eleito foi Tiririca. Obteve 1.348.295 (Mais de um milhão de votos!). E sabem qual era o lema dele na TV? Era: "Pior não fica! Vote no Tiririca". Ele utilizava outros bordões como "O que é que faz um deputado federal? Na realidade, eu não sei. Mas vote em mim que eu te conto". O termo "tiririca" significa "erva daninha", "praga". Em algumas regiões do Brasil significa "bosta". É isso: 1.348.295 de pessoas votaram num bosta!
Outro exemplo é o do próprio bolsonaro: homofóbico, racista, violento, defensor da Ditadura Militar que matou centenas de pessoas; defensor da tortura; preconceituoso, defensor da morte de indígenas, chamou aos negros de “animais”, comprovadamente mentiroso (https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2018/10/28/tudo-sobre-bolsonaro/), machista a ponto de dizer que deu uma “fraquejada” ao trazer ao mundo uma filha, contra os trabalhadores. Mesmo assim essa figura foi eleita presidente do Brasil. E o pior: ainda tem gente que o defenda até hoje! Como ele mesmo disse: nem ele acreditava que pudesse ser eleito!
Reinaldo Fernandes
Editor
È diante desses exemplos que afirmo que qualquer pessoa pode ser eleita, basta se candidatar. Nossos eleitores, sejamos francos, trilham caminhos e fazem escolhas nem sempre muito explicáveis!
Portanto, o prefeito de Brumadinho a ser eleito em outubro deste ano ainda não está definido. Mas assim que as candidaturas forem registradas, será um deles. Qualquer um deles!   


Edição 226 – Janeiro 2020

Assassinatos da VALE completam um ano
(foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato)

O dia 25 de janeiro acordou Brumadinho com uma movimentação só visto aqui no dia 25 de janeiro anterior, em 2019. Movimento sindical, movimentos populares capitaneados pela Frente Brasil Popular, MAB, MAM, Articulação SOMOS TODOS ATINGIDOS, ONGs em luta contra a mineração; indígenas Pataxós e Pataxós Naô Xohã e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST – duramente atingidos pela lama de metais pesados; Guardas de Congado e Moçambique; e um contingente grande de religiosos trazidos pela 1ª Romaria da Arquidiocese de Belo Horizonte lotaram a cidade durante todo o dia.  
Em 25 de janeiro de 2019, a mineradora VALE ceifava a vida de 272 pessoas, deixava 109 órfãos, matava o Rio Paraopeba e outras milhares de vida no meio ambiente, poluía o ar e as águas, e modificava, para sempre, a vida dos brumadinenses.

(foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato)
Mas os crimes da mineradora não pararam por aí. Durante todo o ano de 2019, a Vale continuou desrespeitando os Direitos Humanos, atacou duramente e de forma destrutiva a comunidade de Ponte de Almorreimas, implementou uma política de falar manso com as famílias dos não encontrados e de atacar os movimentos sociais, implementando, inclusive, perseguições judiciais e através das forças repressoras do Estado.
Durante um ano, a VALE estabeleceu a política da enrolação, recusou-se a indenizar pequenos agricultores, cortou o Pagamento Emergencial de 100% para todos, comprou jornal, lideranças e consciências. Por um lado, parcela da sociedade se organizou em diversos grupos; por outro, a VALE cooptou pessoas e Prefeitura para fazerem o papel que interessa à mineradora, como tentar impedir as manifestações sociais, impedir a produção de laudos do Serviço de Psicologia para quem passou a ter sofrimento mental por causa dos crimes e fazer a sua defesa como “empresa séria”.
Em Córrego do Feijão, epicentro dos crimes da VALE, o Bispo
Auxiliar D
om Joaquim Mol presidiu a missa

Enquanto isso, o município foi abandonado pelo governo de MG (Zema, NOVO) e viu pura encenação sem resultados do Governo Federal (bolsonaro, do partido “Trezoitão”) que atacou os pobres do Município, cortando o Bolsa Família.
As chamadas “Instituições de Justiça” ficaram falando em nome dos atingidos sem conversar com eles e a Justiça, que de cega não tem nada, nada fez contra os criminosos. O Juiz da 6ª Vara da Fazenda Pública de Belo Horizonte chegou até mesmo a elogiar os representantes da empresa assassina.
O MP levou um ano para denunciar 16 pessoas. Enquanto os familiares procuravam seus mortos para enterrar, a cidade chorava todos os danos causados pela mineradora, pessoas se suicidavam, os criminosos permaneciam – e continuam – soltos. E o MP ainda acha que a VALE não deve pagar pelos crimes de assassinato de 272 mortes, e deve pagar apenas pelos danos ao meio ambiente.
(foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato)

Já a Prefeitura de Brumadinho, depois de receber milhões e milhões da VALE, apesar de estar “nadando em dinheiro” não aplica o dinheiro para minimizar a vida da população e o prefeito ainda bate no peito para dizer que não tem obrigação de prestar contas ao povo.
Foi contra esse estado de coisas que as pessoas foram às ruas e aos locais sagrados no dia 25 de janeiro de 2020. Veja abaixo os registros feitos pelo Jornal de fato.      
Caminhada saiu do Marco (Trevo da cidade) e dirigiu-se até a ponte
sobre o Rio Paraopeba, assassinado pela mineradora VALE.
Indígenas, Guardas de Congado e Moçambique, religiosos do Brasil inteiro
e de Brumadinho, militantes de diversas organizações populares
acompanharam a marcha cantando músicas como “Pai Nosso dos Mártires”,
o poeta, cantor e compositor Zé Vicente (de Crateús-CE)
 
(foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato)
foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato
       
teólogo, filósofo, escritor e um dos grandes influenciadores
de documentos escritos pelo Papa Francisco, Leonardo
Boff, também esteve em Brumadinho.
Na foto, de vermelho, ao centro, acompanhado
de Frei Gilvander (de chapéu) e do Editor do
Jornal de fato, Reinaldo Fernandes (à direita), dentre
outras pessoas

(foto: alenice baeta)

foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato
Os famosos violeiros Wilson Dias e Pereira da Viola
tocando e cantando no Santuário Nossa Senhora do
Rosário (antigo Centro de Treinamento de Líderes):
a arte ajudando Brumadinho a se recuperar dos
crimes da mineração

(foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato)

Edição 226 – Janeiro 2020
População se manifesta mais uma vez contra a VALE
Ato foi contra a política de enrolação empregada pela mineradora desde os crimes de janeiro de 2019
foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato

Exibindo faixas com os dizeres: “VALE, NÃO NOS ENROLE! RESPEITE OS DIREITOS HUMANOS”, populares de Brumadinho fizeram mais uma manifestação contra a mineradora.
O ato aconteceu no dia 10 de janeiro e fechou o trânsito no trevo da cidade, impedindo a entrada e saída de veículos. Os veículos ficaram impedidos de irem para Belo Horizonte ou, os que de lá chegavam, de entrar na cidade. Os manifestantes fecharam ainda a saída para a mina de Córrego do Feijão e a entrada de quem chegava de lá, ou de qualquer parte da região leste do município. Em frente ao Estrada Real Palace Hotel, os populares formaram um cordão humano, fechando a passagem, o que foi feito também logo abaixo, próximo à grande árvore, já no final da rua Chicona, início da MG 040.
Desde o dia 4 de dezembro, a mineradora tem enrolado a população, não tem atendido as demandas dos moradores e isso motivou a realização da manifestação. “Nós queremos que a Vale pare de nos enrolar. No dia 2 de dezembro fizemos manifestação e entregamos as reivindicações. Tivemos uma reunião intermediada pelo Ministério Público e Defensoria Pública e a mineradora se comprometeu a dar respostas até os dias 13 e 19 de dezembro, mas isso não aconteceu. No dia 13 ela deu uma resposta negativa sobre o Emergencial para todos e, no dia 19, a VALE sequer deu algum retorno. Depois aconteceu uma reunião na Prefeitura, e, novamente, a VALE enrolou a população. O novo prazo será neste mês, no dia 15, e não queremos ser enrolados mais uma vez”, disse Reinaldo Fernandes, membro da Comissão dos Atingidos pela Barragem da Vale em Brumadinho. “Faz parte da estratégia da VALE e seus aliados nos enrolar; faz parte da nossa não deixar isso acontecer, lutar contra ela e seus aliados no território”, defendeu Fernandes.
Participaram populares de Tejuco, da Sede do Município e moradores de Ponte de Almorreimas, comunidade que tem sofrido e enfrentado a VALE e seus aliados. Presentes também militantes de instituições e grupos que apoiaram o ato, como o MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens -, o MAM – Movimento pela Soberania popular na Mineração -, a Arquidiocese de Belo Horizonte, a Articulação SOMOS TODOS ATINGIDOS – e o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra -, com os acampamentos Pátria Livre e Zequinha.
O ato teve início às 6 horas da manhã e a pista só foi liberada por volta das 08h40min horas. Só passavam ambulâncias e veículos do Corpo de Bombeiros e os operadores que continuam fazendo as buscas das pessoas assassinadas e ainda não encontradas.

Pauta de Reivindicações

Uma das reivindicações da população é a procura constante pelas vítimas ainda não localizadas no mar de lama. “Mesmo não tendo uma data limite para o encerramento das buscas, nós queremos que a mineradora se comprometa com isso”, disse um membro da Comissão.
O grupo também pede o pagamento para agricultores da região que foram prejudicados, ou porque tiveram seus terrenos atingidos, ou devido ao receio da população em consumir produtos vindos de Brumadinho após o rompimento da barragem.
“As pessoas não compram, pois quando se fala em Brumadinho, logo pensa que o produto está contaminado. Sem ter gente pra comprar, a produção deu uma diminuída, porém os agricultores precisam pagar os empréstimos que fizeram”, disse Reinaldo.
Segundo a VALE, “até o momento, mais de 106 mil pessoas recebem os pagamentos emergenciais. Além destes valores, a empresa já celebrou mais de 4.000 acordos, indenizando integralmente as pessoas. Nestas ações, já foram provisionados recursos de cerca de R$ 2 bilhões”, diz a mineradora. O problema é que, como já é de conhecimento público, a mineradora VALE mente o tempo todo. Além disso, não houve reparação integral dos danos.
A população cobra também por Justiça, como mostrou vários vídeos postados por ela nas redes sociais. “O que nós queremos? Justiça! O que a Vale é? Assassina”, “Não foi acidente. A Vale mata rio, mata peixe e mata gente”, dizem nas filmagens.
(foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato)

Pressão da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros

Se a manifestação teve início às 6 horas, às 6 e 5 a Polícia Militar já iniciou sua pressão para que a pista fosse liberada. Mas não foi apenas a Polícia.
Numa atitude bastante estranha e incoerente com o heroico papel que tem desempenhado em Brumadinho, o Corpo de Bombeiros também queria que trabalhadores da VALE fossem liberados para o trabalho. Veículos da entidade e operadores da busca já havia sido liberados e havia uma decisão da Comissão de que eles seriam porque o primeiro ponto da pauta de reivindicações era a cobrança para que as buscas não parem até que o último corpo seja encontrado. No entanto, o soldado do CB mentia, dizendo que eram operadores, mas foi verificado que aquilo não era verdade. Sob os gritos de “não libera”, a organização da manifestação não liberou e o ônibus de trabalhadores teve que aguardar.
O mesmo soldado ainda protagonizou outro episódio lamentável: enquanto a Comissão liberou a passagem de um veículo que levava uma paciente em estado complicado de saúde para Betim, o ônibus impedia sua passagem. Ao ser questionado, o soldado teria dito que a passagem do ônibus era mais importante que a passagem da doente que lutava para salvar sua vida. À tarde, a paciente fez uma postagem na rede social facebook questionando a lamentável postura do Bombeiro.       
A pressão continuou por todo o tempo, mas os manifestantes se mantiveram firmes. A pista só foi liberada por volta das 08h40min horas, depois da participação do Bispo Auxiliar Dom Vicente, que apoiava o ato pacífico de cobrança da mineradora assassina.   
 
Prefeitura e aliados posicionaram-se a favor da VALE e trabalharam fortemente contra o ato da população

Preparada pela Comissão de Atingidos reconhecida pelo MP (escolhida na manifestação do dia 2 de dezembro de 2019), o ato sofreu forte oposição da Prefeitura. Nos dois dias anteriores, enquanto a Comissão tentava mobilizar a população de um lado, Cid Barcelos (PSDB), Secretário de Obras e irmão do prefeito Nenen da ASA (PV), do outro, trabalhava para que o ato contra a VALE não acontecesse. Nas redes sociais, como no whatsapp, Cid Barcelos defendia que “não via sentido” no ato, que não estava entendendo suas razões e que o ato era contra a população de Brumadinho. Barcelos alegava que o ato era precipitado e que era preciso esperar a resposta da VALE. Na terça feira, três dias antes da realização do ato, Barcelos tentou se reunir com a Comissão. No então, a Comissão, avaliando que ele queria trabalhar contra o ato, se recusou a se sentar com o representante do prefeito. Diante dessa recusa, Cid Barcelos foi para as redes sociais.
Mas Cid não trabalhou sozinho. O jovem Guilherme Mendes, morador de Marinhos, criador e administrador do grupo de whatsapp “Marinhos e Região” - de que participam Cid Barcelos, Nenen da ASA e o chefe da comunicação da Prefeitura Décio Junior – também se esforçou muito. Guilherme reproduziu dezenas e dezenas de minutos de áudios no whatsapp tentando convencer a população a não participar do ato. Em seus áudios, Guilherme, inclusive, dava algumas informações que não eram verdadeiras. Uma delas era a de que a reunião da Prefeitura com a VALE teria a presença do Presidente da mineradora, o que nunca aconteceu.
Outro aliado da Prefeitura que trabalhou contra o ato foi um senhor chamado Sirleno Gonçalves (a reportagem ainda não apurou qual é seu partido). Em matéria veiculada em rede social ele ameaçava comparecer no ato e aprontar se visse lá entidades como a CUT – Central Única dos Trabalhadores.
(foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato)

Reunião na Prefeitura com representante da VALE

No dia 15 de janeiro aconteceu a reunião na Prefeitura com o engenheiro Marcelo Klein, responsável pela Diretoria Especial de Reparação e Desenvolvimento. O nome da Diretoria é bonito, mas o papel do engenheiro tem sido o de enrolar a população. E foi o que novamente aconteceu.
Ao fazer a manifestação de rua denunciando a enrolação da VALE, a Comissão de Atingidos estava correta. Já Cid Barcelos, o Prefeito, Sirleno Gonçalves, Guilherme e todos que trabalharam contra a manifestação estavam incorretos. Mais uma vez, a VALE usou sua estratégia da enrolação: não deu nenhuma resposta e prometeu nova reunião para o dia 3 de fevereiro.

Pagamento de apenas metade do Emergencial prova a enrolação da VALE

Intencionalmente ou não, quando a Prefeitura e seus aliados se manifestam contra o ato da população, eles se colocam ao lado da mineradora assassina. A VALE, além de matar quase 300 pessoas, matar rio, matar o meio ambiente, continua desrespeitando os Direitos Humanos. Prova disso é o Pagamento Emergencial pela metade. A VALE, que quer distribuir R$ 7,25 bilhões aos acionistas, tem gastado milhões de reais em propaganda para dizer que tem feito as reparações, o que é mais uma mentira. A mineradora não respeita nem mesmo os processos de negociação. No dia 15 Marcelo Klein disse que a VALE daria o retorno sobre o Emergencial de 100% para todos no dia 3 de fevereiro. Todos esperavam que a VALE não fizesse o pagamento referente ao mês de janeiro e esperasse a negociação. No entanto, no dia 20 ela começou pagar o Emergencial só pela metade. Foi mais uma prova de sua enrolação.    

A manifestação na imprensa regional

A imprensa regional deu boa cobertura às manifestações populares do dia 10 de janeiro. “Moradores de Brumadinho fazem manifestação contra a Vale: ‘Pare de nos enrolar’, foi a cobertura do BHAZ, com matéria assinada por Vitor Fórneas (https://bhaz.com.br/2020/01/10/moradores-brumadinho-manifestacao-vale/); “Moradores de Brumadinho protestam contra VALE nesta sexta", informou o Painel Alvorada, da rádio Alvorada (https://www.alvoradafm.com.br/noticias/moradores-de-brumadinho-protestam-contra-vale-nesta-sexta); outra rádio que fez a cobertura foi a Itatiaia: “Moradores de Brumadinho protestam contra a Vale por auxílio e pedem justiça”. A rádio ainda postou em seu site (http://www.itatiaia.com.br/noticia/moradores-de-brumadinho-protestam-contra-a-va) a matéria, acompanhada de um vídeo que mostrava o tráfego todo parado, feito a partir de um helicóptero.
O jornal O TEMPO publicou: "Atingidos por rompimento de barragem protestam em Brumadinho" (https://www.otempo.com.br/cidades/atingidos-por-rompimento-de-barragem-protestam-em-brumadinho-1.2282703) e “Atingidos protestam”, registrou o SUPER NOTÍCIAS.
Além dessa cobertura, uma dezena de vídeos foram produzidos por Frei Gilvander, da CPT – Comissão Pastoral da Terra -, entidade da Igreja Católica e circularam nas redes sociais.

Edição 226 – Janeiro 2020
Aliança Regerativa se reúne em Brumadinho e lança manifesto
A equipe ainda fez conversas com a sociedade e diplomou projetos que foram beneficiados pelo Fundo Brumadinho

Logo após os crimes praticados pela VALE em Brumadinho, há um ano, a Associação Nossa Cidade criou o Fundo Regenerativo Brumadinho. Ainda abalados pelo acontecido em Mariana, e atônitos pela magnitude da tragédia repetida, um grupo de organizações socioambientais, começou a se mobilizar, no mesmo dia, unidos em torno de uma campanha de captação de recursos. Forma-se, assim, o Fundo Regenerativo Brumadinho (originalmente Fundo Aliança Brumadinho).
O projeto, cuja meta inicial era arrecadar R$ 10.000, atingiu R$60.000 no primeiro dia de captação. Ao final da campanha, a quantia era de R$ 133.000 para fornecimento de recursos de emergência e sobretudo apoiar a regeneração em médio e longo prazo no território de Brumadinho e região. Para possibilitar uma ação minimamente proporcional ao tamanho do desafio, a entidade continuou captando recursos.
Os recursos foram captados de modo a estarem disponíveis para investimento ágil e eficiente, desburocratizado e com total transparência.
O Fundo visa, também, nutrir a ação de uma aliança de diversos atores — organizações, coletivos e indivíduos — em prol de Brumadinho.

Uso do Fundo

Durante o ano de 2019, o Fundo foi utilizado para viabilizar iniciativas da sociedade civil em prol de Brumadinho. O Fundo acredita que “só uma ação concertada entre diversos atores da sociedade será capaz de mitigar os problemas gerados pela tragédia: mortes, danos estruturais e ao meio ambiente, animais feridos, perda de empregos, traumas emocionais, vulnerabilidade social, impunidade, injustiça e outros tantos”.
Todas as pessoas interessadas em oferecer alguma ajuda a Brumadinho, e que necessitam de recursos, podem submeter propostas ao Fundo. Moradores de Brumadinho e comunidades impactadas que precisem de ajuda, além de instituições com e sem fins lucrativos, coletivos ou mesmo indivíduos, que tenham por objetivo ajudar Brumadinho, estão convidados a enviar projetos. O cadastro é simplificado e desburocratizado. Propostas são selecionadas em parceria com a comunidade, de acordo com a necessidade (demanda) local e o impacto socioambiental da ação.

Reunião em Brumadinho

Nos dias que antecederam a data de 1 ano dos crimes da VALE, a equipe do Fundo Regerativo Brumadinho esteve em nosso Município realizando uma série de atividades. No sábado, 24, diplomaram os projetos que foram beneficiados pelo Fundo. Entre os projetos estavam o do Coletivo Mica, um grupo que edita jornal impresso a partir do ponto de vista dos atingidos e um projeto do cantor e compositor quilombola, Rei Batuque, que levou para a escola municipal de Marinhos projeto que discutia a realidade negra da meninada, suas origens e outras questões relacionadas à raça, tudo movido pela arte.
Outros quatro projetos diplomados foram apresentados pelo ativista social Reinaldo Fernandes. Foram os projetos “Educar para a vida e para a luta” (um, para aquisição de lousas e outro, para projetor) e Produzindo biomassa na Agrofloresta Coletiva” e o “Agrofloresta Coletiva: alimentando para uma vida sustentável”. Todos esses para o Acampamento Pátria Livre, que fica ali pouco depois do Inhotim, formado por trabalhadores rurais sem terra.
No final do dia, foi lançado o Manifesto Regenerativo da aliança, que transcrevemos a seguir.

O Manifesto Regenerativo
Aliança da Sociedade Civil em prol da Reconexão, Resiliência, Resistência e Regeneração de Brumadinho, Paraopeba e Brasil

Primeiro foi o Rio Doce. De Bento Rodrigues desceu a lama contaminando tudo, até chegar ao mar. Agora, o Córrego do Feijão em Brumadinho. A lama vai seguindo seu rumo pelo Rio Paraopeba, levando consigo mortos e desaparecidos, deixando atrás de si uma comunidade catatônica pela perda de seus queridos, seus pertences e seus territórios. Uma enxurrada de atingidos: gente, bicho, terra, Natureza.

Chamados a acolher afetiva e solidariamente aos atingidos pela lama, articulamos uma rede de ajuda para o reerguimento de suas vidas. Esse Manifesto é a base da construção da Aliança Regenerativa da Sociedade Civil em prol da Reconexão, Resiliência, Resistência e Regeneração de Brumadinho, Paraopeba e Brasil, em resposta à agressão sofrida pelo Rio Paraopeba e seus habitantes. É um chamado para a ação: pela construção de comunidades mais resilientes; pela compreensão das causas que ameaçam a vida; pela reconexão com a Natureza, de uns com os outros e com nós mesmos e pela regeneração do pensamento humano, entendendo que é a partir dele que os danos que já causamos se originam.
Com o sentimento de que podemos aprender com os erros e facilitar o processo de expansão de consciência e de organização, nós da Aliança Regenerativa oferecemos nosso tempo, cuidado e atenção. Nossa proposta é facilitar a compreensão das causas destes crimes provocados e orientar coletivamente ações que evitem novos desastres como estes.
Este Manifesto é um pedido de ajuda e de resistência à visão corporativa focada no capital como meta única; à falta de conduta integrativa, responsável e ética de todos os setores da sociedade; ao descaso dos governantes e ao processo de alienação e divisão das comunidades. É um apelo pela segurança de nossas cidades, quiçá pela própria sobrevivência de nossa espécie.
Esse trabalho propõe que nos reconheçamos para além das fronteiras ideológicas, religiosas, identitárias e de estereótipos que nos dividem. Estamos unidos em um propósito comum que inclui a regeneração primeira do pensamento humano que causa desequilíbrio e, posteriormente, das áreas afetadas. Da mesma forma, que estejamos unidos pela construção de uma sociedade onde crimes desse tipo, nascidas da ganância, não mais aconteçam.
Nós, signatários
-pessoas, ONGs, coletivos, empresas - desse Manifesto -, integramos essa Aliança Regenerativa para que seja a semente de um dia em que todos viverão bem, em comunidades abundantes de uma Terra saudável.
Frentes aos desafios de viver em um sistema condicionado, nos comprometemos com as seguintes ações:

Reconexão: com a Natureza, os animais, os rios e as matas, com as pessoas, com o divino e com nós mesmos. Somos parte de um todo, sendo uma ilusão enxergar o ser humano dissociado do planeta. Reconectar de forma profunda com a Terra e todos os seres é o caminho para práticas sustentáveis e conscientes. Sejam elas, desde mudanças individuais de padrões de consumo até grandes transformações nas políticas públicas, referentes as atividades da indústria de mineração, extrativismo, agricultura, pecuária e a todas as outras que afetam a vida partilhada.

Resiliência: comunidades unidas e solidárias entre si. Frente aos desafios de viver em um sistema insustentável e irresponsável, é certo que outras tragédias ocorrerão. É necessário semear comunidades solidárias, capazes de enfrentar as adversidades e de se reerguerem quando forem atingidas. 

Resistência: à destruição acelerada do meio ambiente e a toda e qualquer ameaça à vida. Oferecer resistência e impedir que novas tragédias aconteçam, com ações em todas as frentes possíveis, alicerçadas na responsabilidade do amor, na não violência e em atos pacíficos de inconformismo e desobediência civil.

Regeneração: do pensamento humano, primeiramente, para refletir na regeneração socioambiental de toda a região afetada ao longo do Rio Paraopeba, pois a destruição acelerada da Natureza reflete a nossa própria degradação. Com espírito solidário seremos participantes do reerguimento das comunidades afetadas e da recuperação do meio ambiente. 

Acreditamos que gente, bicho, terra e Natureza, juntos, integrados e solidários, contaremos uma história diferente para as próximas gerações.”

Edição 226 – Janeiro 2020
Empresa decidiu manter as operações e calculou indenizações de menos de R$ 560 milhões, R$ 2,6 milhões para cada assassinado

Desde novembro de 2017, a Vale e a TÜV SÜD sabiam que a Barragem I, da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, não apresentava condições favoráveis de segurança, poderia se romper e mataria 215 pessoas. Um documento da VALE indicava que, no pior cenário, 215 pessoas morreriam em caso de rompimento. A empresa “calculava” que, a cada vida perdida, teria que desembolsar dois milhões e 600 mil dólares, menos de 560 milhões no total.
 “Era uma gestão opaca. A VALE impôs uma ditadura corporativa e escondeu os riscos da sociedade e do poder público”, afirmou o promotor e coordenador da força-tarefa do MPMG - Ministério Público de Minas Gerais -, William Garcia Pinto Coelho. 
Demoro um ano mas, a quatro dias dos crimes praticados pela VALE em Brumadinho, o MPMG denunciou 16 pessoas por 270 mortes. Entre os denunciados está o ex-presidente da Vale, Fabio Schvartsman. Se os suspeitos forem condenados a 30 anos por cada homicídio doloso (quando a pessoa tem a intenção de matar), a pena individual seria de 8.100 anos. Além disso, as 16 pessoas foram denunciadas por crimes ambientais e as duas empresas também terão que responder pelos mesmos delitos. Mas o MP não denunciou a empresa pelos assassinatos.

Top 10 da calamidade, Top 10 do cinismo

Além da barragem que se rompeu, outras nove estruturas da Vale fazem parte de uma lista chamada dentro da mineradora de “TOP 10 – Probabilidade”. Estas dez barragens estariam em situações inaceitáveis. No entanto, a Tüd Süd – que atesta a segurança das estruturas -, emitiu Declarações de Condição e Estabilidade (DCEs).
O MPMG e a Polícia Civil acreditam que, se a verdade tivesse sido informada para a sociedade e para o governo, os crimes de Brumadinho, que deixaram 272 mortos, poderiam ter sido evitados. 
Com relação às outras nove barragens, o MPMG informou que há auditores trabalhando para o órgão para saber a real situação em que elas se encontram. Algumas delas, inclusive, sofreram algum tipo de intervenção após os crimes, como em Itabira e Ouro Preto, ambas na região Central do Estado. 
“A situação inaceitável de segurança geotécnica da barragem I da Mina Córrego do Feijão era plena e profundamente conhecida pelos denunciados, os quais concorreram para a omissão na adoção de medidas conhecidas e disponíveis de transparência, segurança e emergência, assumindo, desta forma, o risco de produzir os resultados decorrentes do rompimento”, explicou.

Caixa-preta da VALE

As autoridades chegaram ainda à conclusão de que a VALE e a TÜV SÜD estruturaram uma espécie de proteção inviolável com relação aos fatos relacionados às barragens. As informações eram sigilosas e não eram repassadas.
O principal motivo seria manter uma “boa” imagem da VALE no mercado mesmo após o rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, em 2015. A mineradora foi ré no processo. Conforme o Ministério Público, esse era um dos objetivos do ex-presidente. Ele comandaria a VALE por um período curto: de dois anos prorrogáveis por mais dois. 

Lista dos denunciados

Da mineradora Vale, foram denunciados os seguintes empregados:
Fábio Schvartsman, diretor-presidente da companhia; Silmar Magalhães Silva, diretor do Corredor Sudeste; Lúcio Flávio Gallon Cavalli; diretor de Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos e Carvão; Joaquim Pedro de Toledo, gerente-executivo de Planejamento, Programação e Gestão do Corredor Sudeste; Alexandre de Paula Campanha, gerente-executivo de Governança, Geotecnia e Fechamento de Mina; Renzo Albieri Guimarães de Carvalho, gerente operacional de Geotecnia do Corredor Sudeste; Marlene Christina Oliveira Lopes de Assis Araújo, gerente de Gestão de Estruturas Geotécnicas; César Augusto Paulino Grandchamp, especialista técnico em Geotecnia do Corresor Sudeste; Cristina Heloiza da Silva Malheiros, engenheira sênior na Gerência de Geotecnia Operacional; Washington Pirete da Silva, engenheiro especialista da Gerência Executiva de Governança em Geotecnia e Fechamento de Mina; e Felipe Figueiredo Rocha, engenheiro civil que atuava na Gerência de Gestão de Estruturas Geotécnicas.
Da companhia Tüv Sud, foram cinco os denunciados: Chris-Peter Méier, gerente-geral da empresa; Arsênio Negro Júnior, consultor técnico; André Jum Yassuda, consultor técnico; Maroto Namba, coordenador; e Marlísio Oliveira Cecílio Júnior, especialista técnico

Outro lado

Em nota, a VALE alegou que estava “perplexa” “ante as acusações de dolo”. Cinicamente, a VALE diz que acha “prematuro apontar assunção de risco consciente para provocar uma deliberada ruptura da barragem”.
Com informações de Aline Diniz, do BHAZ.

Edição 226 – Janeiro 2020
Palco Brumadinho
Série de show é encerrada com Willas Fernandes; Paulo Victor e David Mendonça; e Maury Junior e Wilker TH e banda
Willas Fernandes deu um show de interpretação
(foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato)

O Inhotim fechou a primeira temporada do Palco Brumadinho com chave de ouro. Três shows encerraram a série que teve início em agosto: o Grupo Duos (Paulo Victor e David Mendonça) foi o primeiro a subir no palco, com um belíssimo show instrumental. Em seguida, Maury Junior e Wilker TH e banda apresentaram um repertório cheio de clássico de música regional, arrancando também muitos aplausos da plateia.
Wilker TH e Maury Junior e banda apresentaram um repertório
cheio de clássico
(foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato)
A terceira apresentação da tarde, e última da temporada, ficou por conta do músico e intérprete Willas Fernandes. O show levou ao público canções de sucessos reconhecidos nacional e internacionalmente. Wilas Fernandes foi acompanhado do violonista de 7 cordas Tá Fernandes (em As rosas não falam, de Cartola) e contou ainda com mais cinco instrumentistas compondo sua banda.
“O Willas Fernandes fez um belíssimo show”, disse uma sobrinha do cantor, que teve até fã clube: um grupo de admiradores vestiam camisetas com a estampa do artista. O show foi realmente muito bonito, com bela interpretação do artista.
Grupo Duos, Paulo Victor e David Mendonça:
belíssimo show instrumental

(foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato)

Ao final do show de Willas Fernandes, o Palco foi ocupado por inúmeros artistas locais, os que se apresentaram no dia e os demais que tinham se apresentado deste agosto. Foi uma grande festa, que terminou com as palavras dos artistas brumadinenses curadores do palco Brumadinho, Márcio Nagô, Leci Strada e Júlio. 
Os artistas de Brumadinho que participaram do Palco
Brumadinho
, tendo Willas Fernandes à frente:
alegria ao final do Projeto

(foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato)
  

Edição 226 – Janeiro 2020
Poucas e Boas  
Estabeleceu-se, desde então, um confronto entre duas leituras/narrativas: a da mineradora Vale que insiste no fato do acidente e de sua relutância em reparar adequadamente os danos e de fazer as compensações necessárias aos parentes dos vitimados. (...) A outra leitura/narrativa é levada avante pela Arquidiocese, especialmente pelo bispo local Dom Vicente Ferreira e por suas duas exímias auxiliares, Marina Oliveira e Marcela Rodrigues, que largaram seus afazeres e estudos para liderarem as lições a serem tiradas do fato criminoso. Trata-se de mostrar para a população que este modo de organizar a mineração e buscar o lucro é própria do sistema do capital. Ele produz uma dupla injustiça: uma, social, explorando a mão de obra e outra, ecológica, devastando a natureza circundante. Ele se mostra inimigo da vida da natureza e da vida humana, como bem o mostra o Papa Francisco em sua encíclica de ecologia integral”sobre o cuidado da Casa Comum”. (...) Importa não ficar refém de uma empresa que apenas promete emprego mas a preço de contaminar a atmosfera e afetar a vida especialmente das crianças.

Leonardo Boff, teólogo, filósofo, escritor e um dos grandes influenciadores de documentos escritos pelo Papa Francisco, no texto Brumadinho: ”Dói demais o jeito que vocês foram embora”, de 30/01/2020

O bispo Dom Vicente usa suas habilidades pessoais para suscitar este novo nível de consciência na população, pois é poeta, cantador e tocador de violão. Encontra dura oposição de católicos carismáticos e outros apoiados pela Vale, que não veem nisso o cumprimento do mandato divino de “cuidar e proteger”o jardim do Éden, mas como mera política. Assim se mostram sem empatia para com os parentes das vítimas. Conservadores,querem reduzir à fé apenas ao espaço do religioso, sem ter aprendido a lição do Concílio Vaticano II que fazer política “e o mais alto ato de amor”, não política partidária, mas política como bem comum, como solidariedade com aqueles que mais sofrem e política como defesa dos direitos de cada pessoa humana e da natureza. Sua fé é estéril, pois não leva à salvação. O que salva não são prédicas mas práticas, de amor, de compaixão e de solidariedade como vem sendo feitas pelo “Comitê de Apoio e Solidariedade aos Atingidos pelos Crimes da Vale” e pela pastoral de Dom Vicente Ferreira e de seus auxiliares.
Nós que lá estivemos nas celebrações, damos este testemunho. E o nosso testemunho é verdadeiro.

Do mesmo Leonardo Boff, no mesmo texto

A Vale compra sentenças, facilita ações armadas e controla territórios através de organização de milícias privadas coordenadas por militares da ativa e inativos das Polícias Militares e do Exército Brasileiro, numa relação perigosa, promíscua e absolutamente obscura.
Fernando Bretas, Administrador de empresas, historiador, ambientalista e morador de Casa Branca

Por se tratar de homem público o qual deve suportar críticas e insinuações acima do que há de suportar aquele que não assume tais responsabilidades, pois o peso do cargo político eletivo impõe incessante fiscalização dos eleitores e sabatina da imprensa.
Desembargador Rogério Medeiros, em 10/10/2013, em processo movido por um prefeito contra um jornal local

Tenho certeza que nasci pra preservar e celebrar a vida e que a VALE nasceu para matar. Ela mata a natureza para criar bens financeiros. O que importa para a VALE são coisas, não são as pessoas.
Maria Betânia, agricultora rural e moradora de Brumadinho

“Devo ficar do lado das ovelhas. Não posso ficar do lado dos lobos.”
Dom Vicente de Paula, Bispo Auxiliar e morador de Brumadinho durante a 1ª Romaria da Arquidiocese de BH, referindo-se aos crimes da VALE

Eu nunca também esperava que teria que ajudar o meu povo a enfrentar um dragão tão poderoso como esse. Se essas 272 pessoas vítimas da mineração não tivessem me causado uma profunda conversão ecológica e humana eu já teria pedido licença ao meu bispo e teria ido embora. Mas eu fico muito triste porque vejo irmãos e irmãs nossos que estão muito demoradamente acreditando ou não querendo acreditar nessa conversão.”
Do mesmo Dom Vicente de Paula, no mesmo dia, referindo-se aos crimes da VALE

O cristão do futuro será místico. Ou não será cristão.
Do mesmo Dom Vicente

“A música está com a gente em todos os momentos, sejam os tristes ou os alegres.”
Kamyle Aryelle, falando em concerto realizado pela Orquestra de Câmara do Inhotim, no dia 29/1, em homenagem aos brumadinenses em 1 ano dos crimes da VALE. Kamyle, que participa da Escola de Cordas de Inhotim falou sobre como a música e sua magia tem lhe ajudado

Ainda não estou totalmente livre. Estou solto. E tem muita gente que está em liberdade mas está presa, subordinada à falta de emprego, à miséria, a falta de comida na mesa. E é por elas que nós temos que lutar.”
Ex-Presidente Lula, em recente viagem a Minas Gerais


Edição 226 – Janeiro 2020
Curtas
Lula em Sarzedo e Betim
O ex-presidente Lula da Silva (PT) esteve recentemente na região participando de dois eventos. Em Sarzedo, no Clube CAPE, dos trabalhadores da Petrobrás, Lula participou da reunião da Coordenação Nacional do MST e dos amigos do Movimento. Lula falou por quase 1 hora, na noite de 23 de janeiro, na comemoração dos 36 asnos de luta dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. 
Já no dia seguinte, 24 de janeiro, Lula esteve em Citrolândia (Betim), reunido com atingidos pelos crimes da VALE em Brumadinho. O evento foi preparado pelo MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens, que está em Brumadinho e nas cidades na calha do rio Paraopeba desde o dia 25 de janeiro de 2019.
Eleições de 2020-01-31
Nos dias 4 e 26 de janeiro, o PT de Brumadinho votou a se reunir para discutir as eleições de 2020. Segundo Reinaldo Fernandes, Presidente da legenda, o Partido está fazendo um “Planejamento Estratégico” sobre o pleito deste ano. “A ideia é eleger prefeito ou prefeita e o maior numero de vereadores”, disse Fernandes.   


Edição 226 – Janeiro 2020
Presidente assina a posse com caneta Bic e gasta R$ 8 milhões de reais em viagens em menos de um ano

A Presidência da República gastou R$ 8 milhões em quase um ano do governo jair bolsonaro, apontam dados obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo via Lei de Acesso à Informação (LAI). As despesas englobam viagens do presidente e de servidores em apoio ao Planalto para dentro e fora do País. Somente a viagem internacional ao Sudoeste Asiático e Oriente Médio gerou, sozinha, uma despesa de R$ 1 milhão aos cofres públicos.
A Secretaria de Administração  não divulga as notas fiscais que detalhariam como e de que forma os valores foram gastos, impedindo o detalhamento das despesas. A justificativa é que tais gastos devem ficar em sigilo até o fim do mandato do atual presidente por questões de segurança.
A lista encaminhada ao jornal aponta apenas o valor gasto consolidado em cada viagem feita pela Presidência entre janeiro a novembro e as datas de ida e volta do presidente e/ou de sua comitiva. As despesas incluem pagamentos de passagens aéreas, hospedagem, transporte e alimentação.
Em alguns casos, bolsonaro não participou da viagem, realizada por servidores que representavam o Planalto, conforme aponta sua agenda oficial. Em outros, o presidente participou da tour, mas permaneceu um período inferior em relação a outros servidores.

Gastos de R$ 1 milhão em apenas uma viagem

A última viagem internacional de Bolsonaro registrou sozinha a maior despesa de 2019: R$ 1 milhão em 19 dias, ou R$ 53 mil por dia. A lista de países visitados inclui Japão, China, Emirados Árabes Unidos, Catar e Arábia Saudita. Apesar de ter embarcado no dia 20/10, as despesas já estavam sendo contabilizadas desde o dia 13/10.
Em observação, a Secretaria de Administração informou que essa viagem teve uma "particularidade": alguns servidores foram deslocados pelos países em voos comerciais, "pois o quantitativo não era suportado nas aeronaves oficiais".
Procurada, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência não repassou dados consolidados sobre o número de servidores que integraram a comitiva da viagem ao Sudoeste Asiático. Informou apenas que os nomes constavam no Diário Oficial da União e pediu que fosse procurada a Secretaria-Geral da Presidência.
Entre os integrantes do alto escalão da comitiva estavam os ministros Paulo Guedes (Economia), Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Tereza Cristina (Agricultura), Fernando Azevedo (Defesa), Bento Albuquerque (Minas e Energia) e Osmar Terra (Cidadania).
Os deputados Helio Lopes (PSL-RJ) e Marco Feliciano (Podemos-SP) também participaram da viagem, assim como assessor da Presidência Filipe Martins.

Brasil adentro: R$ 210 mil em viagem de um dia

No País, o governo registrou despesa diária semelhante à viagem asiática: em julho, foram gastos R$ 52 mil por dia na ida de Bolsonaro a Manaus para a entrega das medalhas da Olimpíada Internacional de Matemática e reunião na Zona Franca de Manaus.
O presidente foi e voltou no mesmo dia, 25 de julho, ficando menos de cinco horas na capital amazonense. Apesar disso, as despesas estavam sendo contabilizadas desde o dia 22 daquele mês e somaram R$ 210 mil.
A maior parte das despesas da Presidência foram com viagens nacionais. Foram 37 destinos diferentes em 74 viagens, que totalizaram um gasto de R$ 5,7 milhões em onze meses.
Em um dos casos, uma viagem de apenas um dia para Goiânia custou R$ 33 mil aos cofres públicos. Na agenda do presidente para o dia em questão, 31 de maio, consta que a visita foi para um café da manhã com representantes do poder estadual do Goiás e participação na Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil, onde se questionou sobre a possibilidade de um ministro evangélico no Supremo Tribunal Federal. A comitiva contava com 77 pessoas.
São Paulo, por sua vez, foi o destino mais recorrente da Presidência. Ao todo, foram 18 idas em quase um ano para a capital paulista ao custo de R$ 1,7 milhão aos cofres públicos - pouco mais de 20% do total.
A lista inclui viagens cujas datas batem com encontro de bolsonaro com empresários, o período em que operou para corrigir uma hérnia de disco, logo após o feriado de Sete de Setembro, e quando foi assistir ao jogo do Palmeiras, em julho.
No entanto, com as notas fiscais em sigilo, não é possível detalhar como e com o que e por quem cada gasto foi feito. Os documentos devem perder o segredo somente ao fim do mandato presidencial de bolsonaro.

Passaporte na mão

No exterior, a Presidência gastou R$ 2,2 milhões nas dez viagens internacionais realizadas desde o começo do ano. Além do Sudoeste Asiático, responsável por metade das despesas, o presidente também visitou a Argentina, o Chile e três diferentes cidades nos Estados Unidos (Nova York, Washington e Dallas).
A ida a Osaka, no Japão, para o encontro de cúpula do G-20 foi a segunda maior despesa do ano, custando R$ 331 mil à Presidência em 16 dias. A viagem foi lembrada pela apreensão de 39 quilos de cocaína com um sargento da comitiva presidencial durante uma parada na Espanha.
A primeira vez que bolsonaro fez uso de passaporte na Presidência, a ida a Davos (Suíça) para o encontro do Fórum Econômico Mundial, gerou gastos de R$ 278 mil. A viagem foi marcada pelo discurso de apenas seis minutos e agenda com políticos nacionalistas.

galeria de fotos
Um ano dos assassinatos da VALE
Chegada da Caravana do MAB em Córrego do Feijão

Militantes do MAB no Monumento
(foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato)

Guarda de congado do Município
(foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato)

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Indígenas atingidos participam da Romaria
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Milhares de pessoas na 1ª 
Romaria da Arquidiocese 
de BH

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(foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato)
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Poesias, música e lançamento de livros na 1ª Romaria
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Balões foram soltos em homenagem às 272 joias assassinadas pela VALE
(foto: reinaldo fernandes / Jornal de fato)
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MANIFESTAÇÃO CONTRA A VALE NO DIA 10 DE JANEIRO DE 2020-02-13
“VALE, não nos enrole! Respeite os Direitos Humanos!”

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Palco Brumadinho
Willas Fernandes dá show no Inhotim

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