Prisão
imediata para os assassinos
No
dia 25 de janeiro lembramos mais um ano, o segundo, dos crimes da VALE em Brumadinho.
Antes
de mais nada, nossa solidariedade aos familiares das vítimas da VALE. Não podemos
sentir, mas podemos imaginar o tamanho da dor. Que, a cada dia que passe, essa
dor possa diminuir, diminuir, diminuir, de tal forma que um dia ela possa
cessar. E que no seu lugar, fique a saudade, a alegria dos momentos bons, a luz
deixada por cada pessoa assassinada pela mineração.
Em
meio à dor, os atingidos – todos nós – lutam por seus direitos. Direito à
reparação integral. É claro que todas as reivindicações são justas, desde o
Auxílio Emergencial às indenizações individuais. No entanto, diante de tanta
dor, de tantas mortes, parece-nos que um direito deve ter mais atenção do que todos
os outros: o direito à não-repetição dos crimes.
Aconteceu
em Nova Lima. Aconteceu em Mariana. Aconteceu em Brumadinho. É preciso barrar os
crimes da mineração! A vida vale mais do que o lucro!
Para
barrar os crimes da mineração, é preciso punir os culpados. Se os diretores,
engenheiros, a turma do centro de poder da VALE, os da Tüv Süd não forem
julgados e condenados, o que vai acontecer? Eles vão continuar matando! Porque
é isso que a impunidade faz: permite ao criminoso que repita o crime!
Passaram-se
dois anos de dor e, até hoje, ninguém foi preso. Como assim? A “Justiça” no
Brasil vai continuar nesta lerdeza proposital? A “Justiça” vai continuar punindo
apenas os pobres e pretos? Nossas excelências vão continuar nesta morosidade,
enquanto gastam seus altos salários e vivem na mais alta mordomia?
Reinaldo Fernandes Editor |
Se
não defendermos veementemente cadeia para os assassinos de 272 pessoas (sem falar
em tudo que eles mataram), talvez nós também sejamos cúmplices. Talvez
estejamos apenas comprando bens materiais com um dinheiro sujo de sangue. Sangue
de nossos irmãos!
Edição patrocinada por edital da RENSER
Edição 238 – Janeiro
2021
Atos de memória e luta marcam os dois anos do crime da VALE em Brumadinho
Atingidos organizados no MAB fazem
atos simbólicos nas cidades da bacia do Paraopeba; Acordo bilionário entre
Estado e Vale não fecha; PEAB é sancionada por Zema, mas com vetos
foto: Nívea Magno / Mídia Ninja
Impossibilitados
de organizarem grandes manifestações, em respeito às medidas de distanciamento
social para evitar a disseminação do coronavírus, os atingidos pelo rompimento
da barragem B1 do complexo Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho organizaram
atos simbólicos nos municípios afetados com as consequências do crime da VALE
na bacia do rio Paraopeba, no dia 25 de janeiro.
Dentro
da jornada de lutas “Dois anos do crime da VALE em Brumadinho: Justiça só com
luta e organização”, os atingidos organizados no Movimento dos Atingidos por
Barragens (MAB) convidaram toda a sociedade para voltar os olhos para a bacia
do rio Paraopeba. Região onde a impunidade da mineradora VALE permanece. A
mineradora é responsável pela morte de 272 trabalhadores e trabalhadoras,
contaminação da água do rio, morte de peixes, interrupção da cadeia produtiva
de alimentos da agricultura familiar e dos modos de vida de centenas de
ribeirinhos.
Manifestações em Brumadinho, Betim, Juatuba e São Joaquim de Bicas
As atividades simbólicas aconteceram em Brumadinho, nas margens do rio Paraopeba, onde onze rosas foram jogadas no manancial, simbolizando as onze joias ainda não encontradas. Os atingidos seguiram para o letreiro da cidade, que fica na entrada de Brumadinho, e é o local onde as famílias das vítimas se reúnem desde o dia do rompimento, há dois anos.
Em
Betim, São Joaquim de Bicas e Juatuba, as rodovias foram trancadas pelos
atingidos com faixas denunciando o descontentamento com a falta de participação
no acordo judicial tratado a portas fechadas entre governo de Minas Gerais e a Vale.
Por volta do meio dia, horário do rompimento da barragem, foi realizado um ato
na balsa que liga o município a São Joaquim de Bicas e uma faixa foi estendida
no rio Paraopeba.
“O
MAB permanece em constante denúncia sobre a impunidade da Vale nos dois crimes
que a mineradora cometeu, na bacia do rio Doce e na bacia do rio Paraopeba. A
luta organizada dos atingidos não pode parar, por isso o MAB está junto aos
atingidos para cobrar punição a VALE e a reparação integral dos danos”, afirma
Miqueias Ribeiro, da coordenação do MAB.
Ainda
como parte da Jornada de Lutas, o MAB realizou no dia 22 de janeiro uma coletiva
internacional de imprensa quando o Movimento reafirma denúncia de acordo
injusto entre VALE e Governo de MG sobre Brumadinho. Estiveram presentes 33
organizações, entre veículos de mídia e entidades parceiras de 16 países.
Ato
das Mulheres Atingidas
No
dia 23 de janeiro, o MAB realizou o Ato das Mulheres Atingidas pelo crime da VALE
na bacia do Paraopeba, evento virtual transmitido pelas redes sociais do
movimento. O ato político-cultural foi marcado pela participação de mulheres
artistas que enviaram vídeos com apresentações de músicas com letras retratando
a vida e a luta das mulheres
Acordo
Em
meio as celebrações do dia 25 de janeiro, desde 2020 o Governo de Minas Gerais
vem tentando fechar o acordo bilionário com a mineradora VALE advindos dos danos
causados pelo rompimento da barragem. No último dia 21 de janeiro, aconteceu
mais uma audiência com a participação da Defensoria Pública, o Ministério
Público do estado e o Ministério Público Federal. Os atingidos permanecem sem o
direito a participação e as negociações na confidencialidade.
No
mesmo dia, antes da audiência, o MAB foi surpreendido com a notícia de que os
processos ligados ao acordo foram redistribuídos da 1ª para a 2ª instância, o
que foi caracterizado pelo MAB como “golpe aos atingidos”, já que o juiz que
acompanhou todas as rodadas de negociação até então deixou de ser o responsável
pela homologação, por enquanto.
Na
audiência, Estado e Vale não conseguiram chegar em um entendimento sobre os
valores do acordo. O Governo de MG acusa a mineradora de rebaixar os valores. Nova
audiência entre o governo estadual, a VALE e instituições de justiça deve
ocorrer no início de fevereiro.
Segundo
o integrante da coordenação do MAB, Joceli Andrioli, “muita coisa está em jogo
neste acordo e nas movimentações escusas da VALE, incluindo a perda do direito
às Assessorias Técnicas, que realizam o levantamento dos dados nas regiões
afetadas, e a perícia independente da UFMG (Universidade Federal de Minas
Gerais). Além disso, há grande preocupação com o fim do pagamento do Auxílio
Financeiro, pago desde o crime, pois sem ele muitas famílias não terão nenhuma
renda, já que o rio Paraopeba, fonte de sustento para as comunidades, segue
totalmente poluído com os rejeitos do rompimento”, alerta Joceli.
PEAB
é aprovada, mas Zema veta direitos
Política
Estadual dos Atingidos por Barragens (PEAB) foi aprovada na Assembleia Legislativa
de Minas Gerais (ALMG) em dezembro do ano passado, e sancionada pelo governador
de Minas Gerais Romeu Zema (NOVO) no dia 16 de janeiro. Zema vetou três
importantes trechos do projeto de lei.
Com
estes vetos, mantém-se a lógica perversa de que o reconhecimento dos atingidos
continua a critério da empresa e muitos atingidos continuarão com reparações
muito lentas ou sem reparações.
Os
vetos feitos pelo governador do estado voltam para a ALMG, que em votação ainda
podem ser derrubados. O Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB - afirma
que a PEAB é um passo importante para a garantia dos direitos humanos da
população atingida em Minas Gerais, e que os atingidos seguem em luta para que
o texto do Projeto de Lei seja integralmente aprovado.
Por
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
Edição 238 – Janeiro
2021
Aedas sistematizou 219 medidas emergenciais sugeridas pelos atingidos
foto: reinaldo fernandes / jornal de fato
As
vozes das pessoas atingidas não foram ouvidas durante as negociações do acordo
entre a VALE e o Governo de Minas Gerais. No entanto, há uma série de danos, de
variadas ordens, vivenciados pela população nos territórios que sofreram e
sofrem com as consequências do rompimento da barragem da VALE em Brumadinho.
Dois
anos depois do desastre, os efeitos da lama seguem penalizando moradores da
Bacia do Paraopeba. Esses problemas foram ouvidos ativamente pela Aedas - Associação
Estadual de Defesa Ambiental e Social -, em uma série de espaços
participativos, promovidos entre os meses de julho e outubro de 2020. Aedas é a
Assessoria Técnica Independente (ATI) que atua nas regiões 1 (Brumadinho) e 2
(Betim, Igarapé, Juatuba, Mário Campos e São Joaquim de Bicas) da Bacia. Todas
as informações estão reunidas no documento “Matriz de Medidas Reparatórias
Emergenciais”, que foi entregue às Instituições de Justiça em 7 de janeiro.
“A
matriz mostra a necessidade que medidas sejam cumpridas, seja por parte da empresa
poluidora, em uma série de espaços participativos, promovidos entre os meses de
julho e outubro de 2020, por parte das Instituições de Justiça, ou por parte
dos Governos, para que haja condições mínimas para que as pessoas possam
continuar participando da reivindicação pela reparação integral do território”,
explica Lucas Vieira, coordenador territorial da Aedas.
Mesmo
no período da pandemia, quando não é permitido às assessorias realizarem
trabalho presencial, mais de 10 mil pessoas estiveram em espaços participativos
realizados em ambientes virtuais, dialogando e relatando suas demandas urgentes
para a Aedas.
Medidas
urgentes
A
sistematização dos danos e das medidas que são urgentes para mitigá-los e
repará-los está disponível para acesso público no site da Aedas. O trabalho foi
dividido em duas matrizes, uma de cada região. Cada um dos documentos contém
mais de 300 páginas que apresentam o que foi relatado nos Registros Familiares,
nos 640 Grupos de Atingidos e Atingidas (GAAs) e nas 170 Rodas de Diálogo
(RDs). Nas duas regiões, foram listadas 219 medidas consideradas urgentes.
“Nós
da Aedas partimos do entendimento que são as pessoas atingidas quem melhor
sabem sobre quais danos foram causados e também a melhor forma que a reparação
desses danos deve acontecer. Só quem vive diariamente em contato com a poeira,
insegurança, falta de informações e privação de direitos é quem deve tomar as
decisões sobre as medidas de reparação”, conta Marjorie Cavalli, da equipe de
Diretrizes da Reparação Integral da Aedas.
Nessas
reuniões, a população colocou quais danos não podem esperar o processo judicial
para serem reparados, ou seja, devem ser resolvidos o quanto antes, com
urgência, para evitar que danos já causados se tornem ainda mais sérios ou
mesmo irreparáveis.
Acesse:
https://www.aedasmg.org
Colaborou AEDAS.
Confira
alguns exemplos de medidas emergenciais reparatórias:
Água
-
Acesso à informação sobre a qualidade da água pelo receio de contaminação
-
Construção e ampliação do saneamento básico
Infraestrutura
-
Pavimentação asfáltica na interligação das comunidades
Produção
-
Assistência técnica às famílias ribeirinhas produtoras de alimentos
-
Investimento e estímulo à produção e oferta de serviços locais com melhoria da
infraestrutura rural
Dois anos dos crimes da mineradora VALE
Edição 238 – Janeiro
2021
Dor e indignação dois anos depois
As 11 joias ainda não-encontradas
foto: reinaldo fernandes / jornal de fato
Um
número grandes de eventos lembrou os dois anos dos crimes da mineradora VALE em
Brumadinho, ocorridos em 25 de janeiro de 2019.
"Dói demais o jeito
que vocês foram embora". Esse dizer emblemático, utilizado pelas famílias
de vítimas da tragédia em Brumadinho, subiu aos céus em 272 balões brancos por
volta das 12h.
Outros 732 balões
pretos, que representam a quantidade de dias dos crimes da Vale, também foram
ao ar com fumaças coloridas. Familiares, parentes e amigos das "joias"
se emocionaram com a data marcante no letreiro da cidade.
O clima foi
de tristeza, saudade e revolta. Uma inovação desta vez foi a
"chamada" com os nomes de diretores e funcionários da VALE e Tüv Sud
que respondem pelo processo criminal. A cada nome, os presentes gritavam
"assassino(a)". Ao fim, muitos ecoaram "Vale assassina".
Outra chamada
emocionante foi a leitura dos 272 nomes das vítimas que morreram na tragédia.
A cada pessoa, o público lembrou da saudade: "ausente", diziam com os
olhos cheios de lágrimas.
Às 12h28,
momento do rompimento da barragem de rejeitos de minérios, os músicos do Corpo
de Bombeiros marcaram presença e fizeram o "toque do silêncio". Logo
depois, os familiares aplaudiram por um minuto em homenagem às "joias"
foto: reinaldo fernandes / jornal de fato foto: reinaldo fernandes / jornal de fato
Às 12h28, momento do
rompimento da barragem de rejeitos de minérios, os músicos do Corpo de Bombeiros
e fizeram o "o toque do silêncio". Logo depois, os familiares aplaudiram
por um minuto em homenagem às joias.
Logo após a homenagem, familiares e os outros que acompanhavam as atividades fizeram a "Carreata por Justiça", que partiu do letreiro da cidade. A carreata, com um carro de som à frente, passou por várias ruas da área central, parando em frente ao Fórum de Justiça. Ali, o ato foi de clamor às autoridades pela celeridade do processo de julgamento dos culpados. Dois anos depois dos crimes, ninguém foi julgado, nem mesmo em primeira instância.
Vários atos, homenagens e celebrações
Durante todo o dia foram programadas uma série de atos, homenagens e celebrações religiosas para lembrar os dois anos da grande catástrofe socioambiental e humanitária.
As fachadas de
algumas lojas comerciais e casas espelhavam o sentimento de luto coletivo, com
a exposição de panos pretos em memória a todos aqueles que morreram em
decorrência do crime e também em respeito ao luto de familiares, amigos e
sobreviventes.
Em vários pontos,
como na ponte sobre o Rio Paraopeba e na Praça da Bandeira, corações e fitas com
nomes das “joias” ficaram expostos.
Na noite anterior,
24, parentes das vítimas e atingidos partiram em carreata até o Cemitério
Parque das Rosas, em Brumadinho, local onde está sepultada a maioria dos mortos
nos crimes.
Cruzes em Córrego do Barro lembram os 272 assassinados pela mineradora VALE fotos: reinaldo fernandes / jornal de fato |
Muita tristeza: “Vivo de muita dor, muita saudade”
Quem
acompanhou as atividades que marcaram esses dois anos dos crimes da mineradora
VALE viu muita tristeza nos olhos dos familiares.
A
falta que Wálaci Junior Candido da Silva faz para a mãe, Julia Silva de Jesus,
não tem tamanho. No ato que aconteceu no trevo da cidade, a dor virou choro e
contou com o consolo de um bombeiro, sargento Allan Azevedo.
"Meu
filho tinha acabado de completar 25 anos. Atualmente não faço nada, nem tenho
forças. Vivo de muita dor, muita saudade, mas a gente aceita porque não tem
outro jeito", desabafa Julia. Na página da Resistência Alvinegra, no face
book (https://www.facebook.com/blocoalvinegro.org/photos/a.134787916917744/1214792442250614/),
Wálaci, que era atleticano e bom de bola, recebeu uma homenagem de um amigo de peladas,
Reinaldo Fernandes, Editor deste Jornal de fato.
Manifestação em BH
Em Belo Horizonte, por volta das 10h, familiares das vítimas coordenados pelo MAB se reuniram em frente à do Tribunal de Justiça para cobrar maior rigor e rapidez no processo criminal.
Houve
manifestação também na Praça da Liberdade.
No noite de domingo, as paredes do Edifício JK, no Centro do Belo
Horizonte, foram tomadas por projeções em homenagem
às vítimas do crime da VALE e alertas sobre a mineração que mata e assombra, no
chamado Janeiro Marrom. Segundo Maria
Teresa Corujo, ativista do coletivo, à
semelhança de campanhas como Outubro Rosa
e Novembro Azul, que hoje fazem parte
do calendário anual de conscientização, o Janeiro
Marrom tem como objetivo lembrar o crime da VALE em Brumadinho e alertar
sobre o poder devastador das mineradoras sobre as comunidades, ecossistemas,
fauna e flora. “O avanço da mineração sobre territórios inviabiliza outras
formas de viver, viola direitos e faz uso das mais diversas estratégias
para deixar refém a população”, diz Corujo.
As mensagens lembraram a população de Belo Horizonte sobre o que
aconteceu em Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019.
No centro de Brumadinho placa explica o
que aconteceu
foto: reinaldo fernandes / jornal de fato
Colaborou o Coletivo Eu Luto – Brumadinho Vive
Edição 238 – Janeiro
2021
Hipocrisia
Administração Nenen da ASA (PV) também tem as mãos sujas do sangue
de 272 pessoas
foto: reinaldo fernandes / jornal de fato
A prefeitura de Brumadinho espalhou outdoors pelo Município (não
consigamos apurar quem é o dono da empresa de outdoor) lembrando as 272 vidas. Curiosamente,
a Prefeitura não fala em “mortes”. E nem cita o nome da mineradora VALE, a
assassina. Além de esconder o nome de quem praticou as mortes – mineradora VALE
S. A. – e esconder o fato principal – “não foi acidente, foi crime”, como os
familiares sabem perfeitamente, trata-se de pura hipocrisia.
As CPIs – Comissões Parlamentares de Inquérito – que investigaram
os crimes da mineradora VALE deixaram passar à margem o Estado de Minas Gerais
(que fez o licenciamento para a Vale) e a Prefeitura de Brumadinho, que deu o
alvará de funcionamento e não fiscalizou.
A Lei Federal 12.608 é clara: é função do Município fiscalizar a
mineração, informar sistematicamente à população sobre essa fiscalização e fazer simulados de situações de emergência também
regularmente. Nada disso foi feito pela Administração do Sr. Nenen da ASA (irônica,
ou vergonhosamente, do PV).
A Prefeitura de Brumadinho não fiscalizou, não informou à população
sobre as condições da Barragem B1 e não realizou “regularmente exercícios simulados”,
conforme o art. 8º da Lei Federal 12.608, que institui a Política Nacional de
Proteção e Defesa Civil (PNPDEC) . Aliás, não fez e continua não fazendo nada
disso.
Nenen da ASA (PV) descumpre Lei Federal
A administração de Nenen da ASA (PV) descumpriu a Lei Federal 12.608 em todos seus aspectos. Também não há nenhuma informação se foi feito o Plano de Contingência na extensão do mapa de inundação, nem o Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM), conforme Postaria 70.389/2017 do DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral. Também não foram realizadas audiências públicas sobre a situação das barragens de Brumadinho.
Ao contrário: no dia seguinte ao dia em que 272 vidas foram ceifadas
pela criminosa VALE, a Coordenadora da Defesa Civil, Gislene Parreiras Zuza,
fez um discurso veemente em defesa da VALE, “uma empresa muito responsável”,
segundo a Coordenadora.
Edição 238 – Janeiro
2021
Opinião
As urnas estavam
sujas de lama
Mariléia Campos*
O
resultado das últimas eleições confirmou, dentre outras aspirações, que a elite
econômica não se faz de rogada e tímida
quando se trata de dominar o sistema político e caçoar do poder que emana do
povo. Definitivamente, as eleições de 2020, no município de Brumadinho,
foram alimentadas pelos jogos mais secretos que o povo não vê; e
se vê, ignora.
Quem
poderia imaginar que um município que até há pouco tempo se mantinha distante
da peçonha midiática e que ainda preservava os
costumes e a linguagem
coloquial semelhantes às narrativas literárias de Guimarães Rosa sairia do anonimato por
dois paradoxais acontecimentos: abrigar
o maior museu a céu aberto do mundo e
ser palco do acidente de trabalho que mais mortos deixou na história do
país? Este primeiro acontecimento, certamente, enche seus moradores de orgulho.
Visto que, mesmo uma rápida visita ao
Museu do Inhotim, é capaz de deixar qualquer turista embebecido e profundamente
revigorado diante de tamanha riqueza cultural e botânica.
No
entanto, basta caminharmos poucos
quilômetros para percebermos que, para
além do nicho cultural e ecológico do museu, o que resta é a mais avassaladora destruição
e exploração dos recursos naturais em nome da ilusória e rapina economia da
região. Até os menos espertos sabem que por trás dessa atividade econômica
existe um mercado que, indiscutivelmente, constrói, reproduz e eterniza o
enriquecimento de uma meia dúzia de privilegiados; tudo isso por meio de
mentiras, fraudes e manipulação.
No
dia 1/1/2021, data assegurada constitucionalmente desde 1988, aconteceu a
cerimônia de posse dos eleitos no Executivo e Legislativo do município; um
espetáculo democrático de máscaras e cartas marcadas. Meses atrás, um festival
de slogans surrados e enganadores sustentaram campanhas que, boas ou ruins,
inteligentes ou tolas, apelativas ou não,
já estavam programadas para obterem êxito. Um plano nefasto de interesses
que escancarou os caminhos percorridos em direção à próspera arbitrariedade. Definitivamente,
aquela foto infanda da posse nos revelou 43 motivos para acreditarmos que aquilo não fora uma simples
coincidência; muito antes, tudo fora
orquestrado nos mínimos detalhes.
Noutro
giro, é muito comum que candidatos explorem campanhas que utilizem como
atrativos suas valentes histórias de meninos interioranos: humildes, simples,
honestos, religiosos, respeitadores, batalhadores e sérios que “venceram na
vida” por intermédio de um descomunal esforço próprio e pelas bênçãos de um
Deus meritocrático. Essa narrativa sempre
é contada a partir de uma vitória pessoal e nunca como resultado de lutas e
conquistas coletivas; são os matutos neoliberais do desserviço que, de uma
forma ou outra, procuram colonizar nosso imaginário com o objetivo de convencer-nos
que esforços e boa vontade são suficientes para
determinarem nossas futuras moradas: nos palácios da fartura ou nas choupanas
da miséria.
A
elite econômica - sempre contrária a um projeto democrático e considerada, equivocadamente, como o reino das “virtudes”, do empreendedorismo e do trabalho árduo - escolhe a dedos os capachos do meio político. Este
mercado, origem da desigualdade social, se apropria, geralmente, daqueles
cúpidos que estão prontos para comercializar suas histórias encantadoras de
superação e também dispostos a partilhar dos segredos mais perniciosos; é a
chance dos meninos interioranos se aproximarem das “virtudes” do capital
econômico sem qualquer compromisso ético, moral, intelectual, social ou ambiental. Afinal, para ingressar na política, o crivo é
condescendente, basta fingirmos que somos quem não somos ou que faremos o que
jamais vamos fazer.
Não
nos cabe esmiuçar mais sobre os mocinhos e bandidos que atuam para abater nosso
meio ambiente e silenciar nosso povo em troca de vaidades e benesses pessoais.
Mesmo porque, anteriormente ao sufrágio universal, que nunca é totalmente liberto
quando se trata do pobre, e às campanhas, que quase sempre se utilizam desse
mesmo pobre para derreter os corações mais duros, tem um robusto projeto educacional
que objetiva neutralizar qualquer reflexão ou questionamento. Nesse caso, trata-se de educar para a
obediência, para manter-nos engessados nos grilhões do conservadorismo; é educar sem
possibilitar uma desconstrução do que nos foi contado pelos donos da história.
Este
mercado cínico, praticamente invisível aos olhos da sociedade, se ampara nos “aviõezinhos”
da política para também manipular, regrar e enfraquecer instituições que, em princípio,
teriam a finalidade de proteger, barrar e fiscalizar as investidas que eventualmente
tragam prejuízos para o meio ambiente e, consequentemente, para o planeta.
Charge por Gabriel Nogueira, Técnico de design gráfico e estudante de publicidade e propaganda |
Que
a população do município esteja pronta para colher os frutos dessa união, porém, consciente
de que “na natureza não existem recompensas nem castigos, o que há são
consequências”; como definiu, certeiramente,
o pensador e líder político Robert Green Ingersoll.
A
Mineradora Vale não é responsável sozinha pela tragédia que tanto nos revolta e
assola. No resultado sombrio das urnas, há cumplicidade e suporte para que
outros crimes venham a acontecer.
*Mariléia Campos é estudante de direito da PUC
Minas
Edição 238 – Janeiro 2021
Opinião
De quem é a
negligência
Fernanda Perdigão*
No mês que marca a
necessidade da frase “Não esqueceremos Brumadinho”, não poderia deixar de
rememorar o que causou o caos, o que causou o crime.
Negligência, a
palavra e seu significado vem perdendo o sentido e caindo na normalidade de pronúncia
e virando uma certa justificativa no caso de crimes industriais como ocorrido
na Mina do Córrego do Feijão em Brumadinho.
O crime não iniciou
em 25 de janeiro de 2019, ele existe desde o primeiro licenciamento ambiental
emitido para a empresa mineradora, o colapso foi a marca mais alta do poder do
capitalismo permitido pelo lema “Lucro acima de tudo e todos”, planilhas,
e-mails, certificados, licenciamentos, contratos calculados visando a
lucratividade, não a vida.
A cronologia do crime
nas esferas de estado, sejam, o legislativo, o executivo ou judiciário seguem a linha estatística,
lógica, financeira do que chamamos “reparação integral dos danos”. Mas, neste termo
de reparação integral, nestes dois anos pós crime não percebemos a análise do indivíduo,
do ser humano, ao que não é mensurado, palpável, calculável ou negociável.
Para a lógica
capitalista os números são mais vantajosos, pois distorce o real valor humano e
transmuta em valor financeiro, linguagem mais facilmente entendida pela lógica
dos homens de negócios.
Neste aspecto, os
números não consideram que todo o território afetado pelos danos do rompimento
criminoso tem seres humanos convivendo com violações de direitos, desde o
direito básico à vida como água potável ao mais inatingível neste crime
ciclópico, o direito ao futuro.
Futuro? Como pensar
em futuro se mesmo antes de mensurar os danos causados ao meio ambiente e à
vida destas comunidades, novos licenciamentos são cedidos a mesma empresa?
Comunidades sofrem os
danos sem poder respirar a justiça. Licenciamentos de ampliação de cavas,
reaproveitamento de pilhas de minério passam despercebidos nestas comunidades
que se dedicam a recompor o que muitas vezes nem se recompõe. Os gestores
públicos não se sensibilizam em informar à comunidade dos novos licenciamentos,
mesmo porque estão visando o mensurável financeiro para seus cofres.
Não podemos deixar de
rememorar as 272 vítimas assassinadas de imediato neste crime de
responsabilidade da empresa VALE S.A. e de todos que, em reuniões sem a
presença da sociedade civil, calcularam as licenças de operação da mina do Córrego
do Feijão. Não podemos deixar de adicionar aos números de mortos as vítimas pós
crime: infarto, falta de atendimento médico, suicídios decorrentes da falha dos
poderes em levar para suas planilhas os danos humanos, sentimentos, emoções,
dores devido as perdas não calculáveis.
Brumadinho, em seu âmbito
do poder municipal, deveria criar uma defesa à vida dos seus moradores, não
assinando novas licenças ou anuências para a mineração até que seu povo tivesse
ao menos a garantia do direito à dignidade humana. Mas sabemos que na calculadora
cientifica não existem botões sensíveis aos direitos humanos, apenas e tão
somente os números transformados em cifras.
Alertamos que o distrito
de Piedade do Paraopeba também está sofrendo com essa calculadora impiedosa da
máquina de matar gente. A antiga Mina da Serrinha que a VALE comprou está com
nova licença. A empresa Vallourec obteve novo licenciamento para ampliação da
exploração, a Gerdau invade ainda mais a Serra da Moeda. Um distrito que já
sofre com a falta de água agora se assusta com tais licenças sem o direito de
consulta prévia, e convive hoje com o medo de novas operações sobre suas cabeças.
De quem é a negligência!?
*Fernanda Perdigão - Empreendedora Social, agricultora, humanista,
defensora de direitos humanos, ativista contra a mineração.
nanapoliveira@gmail.com
Edição 238 – Janeiro 2021
Manifestação
em Casa Branca
Manifestantes protestam contra mineração
na Serra do Rola Moça
foto-montagem: reinaldo fernandes / jornal de fato
No domingo, dia 24/1, manifestantes do movimento
Rola Moça Resiste realizaram mais um grande ato contra a instalação da
mineradora MGB no Parque Estadual da Serra do Rola Moça.
A manifestação, que aconteceu de manhã, teve
início na Praça São Sebastião, em Casa Branca. Dali, os manifestantes –
moradores de Brumadinho, Belo Horizonte, Ibirité, Nova Lima, incluindo representantes
de ONGs, de confederações sindicais e sindicatos, movimentos sociais diversos e
ambientalistas – seguiram em carreata, bandeiras ativadas, até o local chamado
de Mirante dos Veados, no Parque. Ali o microfone foi aberto pela coordenação
do ato e várias pessoas se manifestaram, no que chamaram de parlatório.
O dia 24 foi escolhido por lembrar os crimes da VALE, ocorrido há dois anos, e que matou 272 pessoas, quando do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão. Dessa vez, os manifestantes chamaram a atenção do judiciário, da imprensa, de gestores e autoridades públicas para o impacto que a instalação de uma mineradora no Parque do Rola Moça trará para o meio ambiente e para a qualidade de vida da população.
Para o dia 28/01, estava prevista a
realização de uma audiência virtual no TJMG - Tribunal de Justiça de Minas Gerais
sobre a instalação da MGB na Serra do Rola Moça. O projeto minerário, na zona
de amortecimento do Parque, pretende construir uma estrada dentro da Unidade de
Conservação impactando a área com supressão de mata atlântica, e gerando
trânsito intenso de caminhões, o que causará poluição visual, sonora, e
atmosférica. A instalação é defendida pela
administração de Nenen da ASA. Menos de três meses depois dos crimes da VALE em
Brumadinho e da morte de 272 pessoas, Nenen da ASA (PV) entrou na Justiça para pedir
a liberação da mineração da MGB no 3º maior parque urbano do Brasil.
O Parque Estadual da Serra do Rola Moça é uma
Unidade de Conservação de Proteção Integral criado por lei, e o Plano de Manejo
bem como a lei do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação) PROÍBEM
qualquer tipo de atividade que faça o USO DIRETO de seus recursos naturais.
As Unidades de Conservação de Proteção
Integral são criadas para manter um mínimo de equilíbrio dos ecossistemas, garantindo
a proteção dos mananciais de água, fundamentais para suprir o abastecimento de
água da população da RMBH – Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Rodoanel e Concessão de Parques
foto: reinaldo fernandes / jornal de fato
A manifestação quis, também, chamar a atenção
das autoridades e da população para o edital que está sendo lançado pelo
governo Zema (NOVO), para construção da Alça Sul do novo Rodoanel.
O projeto causará grande impacto ambiental na
região do Rola Moça. Em 2012, quando começaram as discussões sobre o Rodoanel,
foram apresentadas 3 opções de trajetos, um deles passando por Ibirité, Casa
Branca, Piedade do Paraopeba até a 040. Na época o trajeto fora descartado, em
função do alto custo sócio ambiental e também econômico. Acordou-se, então, a
opção de outro trajeto passando em Betim e Ibirité, contornando ao norte o
Parque do Rola Moça até atingir o anel na altura do bairro Olhos D'água. Para
surpresa de todos, o traçado rejeitado em 2012, que já havia sido descartado,
voltou a figurar no edital a ser lançado pelo governo.
O dinheiro para as obras do rodoanel está
sendo negociado entre o Estado e a VALE, dentro dos 50 bilhões da multa
ambiental pelo rompimento da barragem em Brumadinho - sem a imprescindível
presença dos atingidos.
Os manifestantes entendem que esse acordo para
que a Vale banque esse trecho do Rodoanel, tido como reparação pelo crime de Brumadinho,
na verdade não é uma reparação, pois prejudica o acervo ambiental da região.
Privatização
O Parque Estadual do Rola Moça está entre os sete parques de Minas cujas unidades foram incluídas em um plano nacional de concessões à iniciativa privada, criado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Os ambientalistas questionam a privatização dos parques e a real capacidade das empresas em dar segurança e sustentação ambiental às Unidades de Conservação de Proteção Integral uma vez que o interesse maior da iniciativa privada é sempre o lucro.
Edição 238 – Janeiro 2021
Portal Diálogos –
Participação, interação e cooperação social
Na semana que marca dois anos do crime da
Vale, em Brumadinho, iniciativa é lançada para contribuir com informações sobre
gastos e contribuir com atuação de organizações civis
Acaba de ser lançado na internet o site chamado Portal Diálogos. O evento aconteceu no último dia 30 de janeiro, com a participação de várias lideranças da sociedade civil de Brumadinho. O Portal Diálogos está sendo criado para divulgar informações relevantes sobre orçamento público e ações sociais nos municípios. A proposta é contribuir para que os cidadãos entendam e acompanhem os gastos das prefeituras, bem como a atuação das entidades da sociedade civil. Assim, podem cobrar ações das autoridades locais, empresas e organizações de maneira mais efetiva.
O lançamento em Brumadinho, inaugurando o
Portal como projeto piloto, é mais uma resposta da sociedade civil à
tragédia-crime de 25/1/2019. Três instituições respondem pelo projeto:
Observatório Social de Brumadinho, Observatório Social de Belo Horizonte e
Internet sem Fronteiras - Brasil. Essas organizações estão lutando há alguns anos
para agregar pessoas em torno de iniciativas de desenvolvimento de cidadania na
Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Esse foi um desafio central que o Portal
acolheu e por isso a escolha do município de Brumadinho para piloto. A
tragédia-crime trouxe e ainda trará muitos impactos, de todas as ordens!
Vivenciamos dor, revolta, demandas judiciais e chegada de elevados recursos
financeiros para o setor público. Muitas sociedades, depois de acontecimentos
traumáticos, construíram mudanças significativas em sua capacidade de agir com
espírito coletivo. Assim, pensamos que este momento favorece que pensemos mais
na responsabilidade de cada um de nós com a cidade e com o futuro.
Se a sociedade civil não se une para disputar
as escolhas públicas com o setor privado e as autoridades públicas, certamente
ela fica frágil e o resultado das escolhas sempre favorece os mais poderosos.
Apenas uma sociedade forte consegue coesão social e capacidade para fazer com
que o setor privado tenha responsabilidade social e que o setor público
priorize, de fato, o bem comum.
Em Brumadinho, muitos estão tentando se unir
em torno de projetos sociais. No caso do Portal, além dos integrantes das
instituições responsáveis, cooperaram para o sucesso da iniciativa
universidades (PUCMinas, UFMG, UEMG), especialistas (Mariza Suricato e Gisela
Torquato) e inúmeras pessoas, voluntárias ou contratadas.
Portal trabalhará com dois eixos
De forma cooperativa, escolhemos dois eixos de ação para fomentar a cidadania: Orçamento e Sociedade Civil. No eixo orçamento, vamos disponibilizar cursos e vídeos rápidos sobre orçamento e políticas públicas, dados e análises das receitas e das despesas do poder público. Isso nos possibilitará entender, por exemplo, quanto a Vale está repassando de recursos ao município, como a economia local está reagindo e, também, em que o poder público está gastando os recursos.
O que diferencia o Portal Diálogos dos portais
de governo é que buscamos linguagem e forma de análise de fácil acesso a todos
cidadãos. Nosso desafio é que cada pessoa interessada possa criar significado
próprio para conhecer os fatos e tirar a própria conclusão. Também, vamos
cooperar para a maior efetividade dos conselhos de políticas públicas na
deliberação e aprovação de prestações de contas.
No eixo sociedade civil, estamos possibilitando
o mapeamento das organizações e movimentos sociais da cidade. A proposta é favorecer
a formação de uma rede forte na sociedade civil que conheça as ações em curso
no território e que cooperem entre si para que seus objetivos sejam atingidos.
Esse mapeamento será central para a mobilização dos movimentos sociais do
território na defesa de seus interesses. Assim, convidamos todas as
organizações a acessarem o Portal e a preencherem o questionário disponibilizado
na aba Território e Organizações da Sociedade Civil.
Acesse e conheça o Portal Diálogos: https://portaldialogos.org.br`
Por Leice Maria Garcia,
Coordenadora-Executiva do Portal Diálogos
Edição 238 – Janeiro 2021
Sancionada lei de petista que garante acesso à vacina contra a COVID-19
O Estado deverá garantir a toda a população de Minas Gerais o acesso à vacinação
contra a Covid-19. É o que estabelece a Lei 23.787, de 2021, publicada no Minas
Gerais desta sexta-feira (8/1/21).
A proposta foi de autoria do deputado André Quintão (PT), e foi aprovada
no dia 11/12 pelo Plenário.
A norma fixa que a vacinação será facultativa e gratuita. O Estado
deverá garantir aos mineiros a vacina aprovada pela Anvisa.
Edição 238 – Janeiro 2021
Dica de Leitura
Lula e Dilma - 10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil, Org. Emir Sader
Sebo Literatura & Arte, 97338-8203, R$15,00
Edição 238 – Janeiro 2021
As áreas de cultivo no mundo e a falácia dos transgênicos
"Dos
193 países com população no meio rural, somente 29 adotam sementes transgênicas. Graças
a manipulações midiáticas, foi criada a ideia de que agora, na agricultura,
toda a produção é transgênica e, portanto, melhor. Porém, dos 1,5 bilhões de
hectares cultivados no mundo, apenas 190 milhões utilizam sementes transgênicas,
ou seja, apenas 13% da área total."
As
sementes transgênicas, em especial de grãos, são aquelas sementes que sofreram
mutações genéticas em laboratório, para se transformarem em plantas mais resistentes
ao uso de determinados agrotóxicos. Assim, as pesquisas, a produção e a difusão
dessas sementes modificadas são patrocinadas pelas grandes corporações mundiais
que também produzem os agrotóxicos, como a Monsanto/Bayer, Basf, Syngenta, apenas
para ficar entre as principais.
Aumento de agrotóxicos, cientistas comprados
A adoção de sementes transgênicas leva, necessariamente, ao aumento do uso de
agrotóxicos e, com isso, a destruição da biodiversidade nas áreas, trazendo como
consequência todo tipo de desiquilíbrio ambiental, desde a destruição da vida, a
contaminação das águas, da atmosfera, até das chuvas (pelo agrotóxico secante que
evapora e sobe às nuvens) e das mercadorias produzidas.
Além
disso, o reconhecimento do direito à propriedade privada das empresas sobre
essas sementes obriga o pagamento de royalties na hora da colheita em todo mundo,
que variam de 2 a 8% do valor da produção.
Essas
empresas ainda utilizam muitos recursos para viabilizar esse grande negócio. Está
comprovado que compraram inclusive pareceres técnicos de “cientistas” que venderam
seus artigos para justificar que as sementes transgênicas não traziam problemas.
Mesma prática adotada no passado pelas fábricas de cigarro, que compravam
pareceres de médicos para dizer que o tabaco não produzia câncer. E milhões de
pessoas morreram com essa doença em seus pulmões provocados pelo tabagismo.
Promessas nunca foram cumpridas
Gastaram milhões de dólares em propaganda, na imprensa burguesa e em meios de comunicação de massa, afirmando que os transgênicos aumentariam a produtividade, a renda dos agricultores e eliminariam a fome. Nas últimas duas décadas, os transgênicos foram tomando conta da agricultura de grãos, mas nenhuma dessas promessas foi cumprida. Ao contrário, aumentaram os desiquilíbrios climáticos, o monocultivo eliminou a biodiversidade e a fome atinge um número ainda maior de pessoas. E também as pragas se mostraram cada vez mais resistentes e os agricultores precisam aplicar cada vez mais agrotóxicos. As empresas agradecem eufóricas.
Graças
a essas manipulações midiáticas foi criado o senso comum de que agora, na agricultura,
toda a produção é transgênica e, portanto, melhor; o progresso da tecnologia.Agricultura familiar em Mário Campos
foto: reinaldo fernandes / jornal de fato
Link da matéria completa: https://www.thetricontinental.org/pt-pt/brasil/as-areas-de-cultivo-no-mundo-e-a-falacia-dos-transgenicos/
Por
MST Nacional
Edição 238 – Janeiro 2021
Opinião
A Pandemia e o desrespeito à vida: “O povo está sendo matado por falta
de conhecimento”
Frei Gilvander Moreira *
Considero
inegável que a espiral de violência e morte que avassala o povo brasileiro é
causada pela superexploração do sistema capitalista, máquina cruel de moer
vidas, que funciona dia e noite, sob direção da classe dominante que vive no
luxo, mas com sangue nas mãos. O mito do progresso e do desenvolvimento
econômico só para a classe dominante gerou a pandemia do novo coronavírus. A ideologia
dominante, a crise dos partidos políticos e os falsos religiosos impuseram no
Executivo Federal um desgoverno fascista que tem sede de sangue. Os fascistas
continuam no poder pela conivência do STF e do Congresso Nacional acovardados
que, diante de dezenas de crimes de responsabilidades cometidos por Jair
Bolsonaro, seguem não apenas omissos, mas cúmplices da escalada de morte no nosso
país. Cegado e anestesiado, até quando o povo aceitará morrer aos poucos sem se
rebelar massivamente?
A
pandemia do novo coronavírus no Brasil iniciou-se com uma onda que cresceu e continua
crescendo muito rapidamente. É notório o cansaço do povo diante da pandemia. É
certo que o povo anseia pelo fim da pandemia, mas foi chocante e estarrecedor ver
as aglomerações suicidas e assassinas durante os festejos de natal e na virada
de ano. Nessas aglomerações gritaram alto o egoísmo e a ignorância de muita gente.
Desgovernado por fascistas, o Brasil marcha para se tornar uma ameaça sanitária
mundial. Em 2021, daremos conta de enterrar nossos mortos por política de morte
e pela irresponsabilidade dos cúmplices?
Cabe lembrar
que, mesclado com o ódio de classe que a elite tem do povo pobre, “quando a
ignorância impera, o amor se cala, se aniquila e os sonhos se desfazem, porque
insuportável é a arrogância de quem só conhece suas verdades falsificadas”,
alerta Helenice Augusta da Cunha.
Diante
dos alertas repetidos à exaustão de que é preciso manter o distanciamento
corporal e social, assistimos às aglomerações estarrecedoras promovidas por
“celebridades” medíocres e ignorantes ou por pessoas em geral cansadas de
quarentena, além de motivadas pelo próprio comportamento negacionista, genocida
e debochado do presidente Bolsonaro em relação à gravidade da pandemia. Em
tempos de pandemia, além de imoral, é atitude criminosa promover e/ou
participar de aglomerações. Da mesma forma, é crime quando quem tem o dever de
fiscalizar as aglomerações não fiscaliza.
No Código
Penal e na CF, muitas ações que colocam em risco a vida de uma pessoa ou
omissões são tipificadas como crime. O não cumprimento de decretos que obrigam
o uso de máscaras em locais públicos, pode muito bem ensejar crime de homicídio,
já que a transmissão do contágio pode levar à morte. Em vários países, quem é
surpreendido pela polícia em aglomerações está sendo multado.
Propomos
que estas pessoas – incluindo funcionários públicos que não fiscalizam - que
não se sentem obrigadas a ajudar a não contaminar outrem sejam levadas a
responderem na seara criminal. Enquanto durar a pandemia, o interesse da coletividade
está acima dos pretensos direitos individuais de pessoas que não são apenas
egoístas e irresponsáveis, mas agem de forma criminosa.
O
profeta Oseias denuncia os líderes religiosos causadores da violência. Líderes
que rejeitavam o verdadeiro conhecimento, se agarravam à ignorância, à hipocrisia
e a posturas moralistas, como atualmente ocorre com muitas lideranças religiosas:
“O meu povo está sendo matado por falta de conhecimento” (Os 4,6). O vírus
mata, mas a ignorância mata mais. A ignorância gera o caos, a sabedoria não. Os
fascistas no poder matariam menos se não encontrassem no meio do povo pequenos
fascistas ignorantes, egoístas, estúpidos, irresponsáveis e, em última instância,
criminosos também.
*Gilvander
Moreira é frei e padre da Ordem dos Carmelitas;
doutor em Educação; licenciado e bacharel em Filosofia; bacharel em Teologia;
mestre em Exegese Bíblica; agente da CPT, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas;
prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” e de Teologia
bíblica.
Edição 238 – Janeiro 2021
Só Rindo
Paletó novo
Em
um comício daquela pequena cidade, dizia o prefeito:
___
Queridos cidadãos e cidadãs, durante todo o meu mandato, coloquei a minha honestidade
acima de qualquer interesse político. Eu sou honesto, minha
família é honesta, a gente não deve nada a ninguém, a gente cumpre os nossos
deveres...Vocês podem ter certeza de que neste bolso – e batia no bolso do paletó
com uma das mãos – nunca entrou dinheiro do povo.
No meio do povo, um eleitor grita bem alto:
___ Paletó novo,
hein, doutor!
Morte de
bebum
Três bêbados, Zé, Mané
e Wilson, bebem literalmente até cair. Quando dois deles acordam, descobrem que
o terceiro morreu durante a noite.
Depois, no funeral
eles olham para o amigo no caixão.
___ Puxa... o Zé tá
com uma aparência tão boa..., diz um deles.
___ Claro! Diz o outro.
O que você queria? Faz dois dias que ele não bebe...
De madrugada
A mulher fala pro marido
às cinco da matina, quando ele chega fedendo a ´[álcool:
___ Você pode me
explicar por que você chega a esta hora meio bêbado?
O marido:
___ É que acabou a grana.
Iniciativa
privada
Dois médicos da
UNIMED conversando:
___ Temos que
operar imediatamente o paciente do quarto 325.
___ O que ele tem?
___ Muita grana!
Aparelho Auditivo
O médico atende um
paciente idoso e milionário que estava usando um aparelho de audição e
pergunta:
___ E aí, seu
Wilson, está gostando do aparelho?
___ É muito bom! Respondeu o velhinho.
___ E a família, gostou?
_ Pergunta o médico.
___ Não contei a
ninguém ainda... mas já mudei meu testamento três vezes!
Edição 238 – Janeiro 2021
O que pode e o que não pode na pandemia agora
Orientações da médica Ligia
Bahia, doutora em saúde pública e professora da UFRJ, em entrevista ao TUTAMÉIA
TV:
- PRESERVAR O ISOLAMENTO
SOCIAL É FUNDAMENTAL
- NÃO PODE abrir as atividades
- NÃO ESTÁ NA HORA da volta às aulas. Voltar às aulas presenciais vai fazer
explodir os casos de Covid, e não temos infraestrutura para suportar uma
explosão de casos
- TEM QUE USAR MÁSCARA e tem que lavar a mão o tempo todo. Usar o álcool gel sempre
- EVITAR transporte lotado
- NÃO ANDAR DE UBER. Você pode transmitir para o motorista, que transmitirá para os
próximos passageiros
- NÃO IR PARA A RUA e ficar parado dentro de lugares fechados durante horas. Não ficar
em locais fechados. A transmissão em locais fechados é muito maior do que
em locais abertos
- NÃO VÁ AO SHOPPING
- Se tiver que fazer
compras, faça de forma muito rápida. Não fique escolhendo
- NÃO ABUSAR dos pedidos de entrega em casa. Estamos expondo os entregadores
o tempo todo. Sim, é um problema, porque se essas pessoas não trabalham
não conseguem ter renda
- Se tiver que cortar o
cabelo, tente fazê-lo num local aberto. NÃO CORTAR CABELO COM AGLOMERAÇÃO.
Se puder, deixe o cabelo ficar branco; se puder, pinte em casa
- NÃO PODE ir à praia
- NÃO PODE BEBER CERVEJA
NO BAR, mesmo que o local seja aberto. Não pode, porque
beber cerveja e aglomeração é a mesma coisa. É impossível que a gente beba
sem cuspir, sem falar alto
- CONTINUAR PAGANDO as pessoas que nos prestam serviços e que devem continuar em casa.
Para mantê-las em casa, devemos manter os pagamentos regulares. Especialmente
se essas pessoas tiverem algum tipo de comorbidade e forem idosas. Os porteiros,
por exemplo, aqui no Rio de Janeiro estão trabalhando na pandemia o tempo
todo. As pessoas podiam muito bem fazer o favor de abrir a portaria
- A GENTE PODE começar a ver parentes muito queridos. Isso se a gente tiver quarentenado
e se as outras pessoas tiverem quarentenadas. E a gente tiver certeza de que
as pessoas estão há 14 dias bem de saúde e sem sair de casa. Pode, mas é preciso
também manter a distância, ficar com máscara. Ficar um pouco perto, mas não
muito perto. Não pode ficar muito perto
- NÃO PODE fazer reunião
- NÃO PODE fazer festa de aniversário
- PODE VER A MÃE MUITO
IDOSA, porque a gente já está há muito tempo assim.
Precisa usar essas estratégias de bolha social, mas muito, muito, muito
meticulosas
- PODE FAZER CAMINHADAS
AO AR LIVRE. Mas não em locais de aglomeração. Caminhadas
ao ar livre em locais que sejam ermos, que não tenham muita gente. É bom fazer.
Não é bom a gente ficar em casa o tempo todo, porque neurotiza.
Edição 238 – Janeiro 2021
Atividade física é a melhor prescrição para amenizar sintomas de ansiedade e depressão
A pandemia causada pelo novo coronavírus tem afetado severamente a saúde mental
dos brasileiros. O isolamento social aumentou de maneira alarmante os casos de
ansiedade e depressão. Pesquisa realizada pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro apontou que as ocorrências de depressão quase dobraram e as de ansiedade
e estresse tiveram um aumento de 80%; nesse contexto, as mais afetadas são as
mulheres.
A instabilidade e
a preocupação com todo o caos causado pela Covid-19 transformaram a vida de
muitas pessoas no Brasil e no mundo. De fato, ter a rotina alterada abruptamente
mexe com as emoções e gera muitas incertezas.
A pergunta a ser feita é: como lidar com essa nova realidade? Estudos ressaltam que a atividade física regular ajuda a reduzir esses sentimentos. Exercícios de respiração, Yoga e Pilates são uma excelente opção para amenizar a sensação de pânico, medo e preocupação. “A saúde e a qualidade de vida das pessoas podem ser preservadas e aprimoradas pela prática regular da atividade física. Inúmeras evidências científicas têm demonstrado uma forte associação entre estilo de vida ativo, melhor qualidade de vida e longevidade”, enfatiza Ge Gurak, educadora física e consultora fitness.
Prática de atividades físicas
Estudos neurocientíficos reforçam a importância da prática frequente de atividades. Manter o corpo ativo, atua diretamente sobre a neuroplasticidade cerebral promovendo mudanças dos mapas mentais (mindset), ou seja, o caminho de conexões que o cérebro costuma seguir diante de diferentes estímulos e situações. “Quando uma pessoa se sente ansiosa ou deprimida, tende a manter um padrão na interpretação de cada vivência ou relacionamento em que se envolve. Esse padrão gera comportamentos repetitivos e reativa sentimentos que acabam mantendo os sintomas depressivos e ansiosos”, alerta Deise Navarro, psicóloga e educadora física.
Para mudar este quadro,
é fundamental unir tratamento médico, ajuda psicológica e exercícios físicos. Durante
a prática esportiva, o corpo libera hormônios na corrente sanguínea
como a endorfina (que tem ação analgésica natural e é capaz de aliviar a dor, controlar
a ansiedade e diminuir o estresse), a serotonina (que regula o sono e as funções
cognitivas) e dopamina (que aumenta a motivação, o prazer e melhora o humor), responsáveis
por promover bem-estar.
Criar rotina de treino
Segundo a educadora física, o primeiro passo é criar uma rotina de treino, independentemente do local, se em estúdio, em casa ou na academia, e regularidade é a palavra de ordem. A próxima etapa é encontrar uma atividade para “chamar de sua”, aquela quem tem o seu perfil e proporciona prazer e relaxamento. Depois, é só seguir as dicas:
Estabeleça
objetivos possíveis.
Não fique apenas
focado na estética, foque na sua saúde e no bem-estar.
Tenha uma alimentação
saudável para ter energia para se exercitar.
Faça exercícios que
envolvam concentração e controle da respiração. Pilates, com a utilização de
equipamentos, com acessórios ou no solo é uma ótima opção.
Durma bem e respeite
o dia de descanso.
Escolha o melhor período
do dia para se exercitar e marque na agenda o compromisso com a sua rotina de bem-estar
e saúde.
Mudar um mau comportamento
é sempre bom, mas não é poderoso o suficiente para provocar essa alteração de mindset,
se não vier acompanhado de mudanças internas. Por isso, a importância da atividade
física, a qual, somada ao tratamento psicológico, realizará a modificação de dentro
para fora. Praticar exercícios é algo terapêutico e o principal benefício percebido
é o fortalecimento da autoestima do praticante, que diz respeito não apenas a melhorias
estéticas, mas também à maneira como o exercício físico faz com que as pessoas se
sintam mais satisfeitas com si mesmas em todos os aspectos.
Melhorar a autoestima
“Costumo dizer que a atividade física fortalece “os músculos da nossa autoestima” e, embora a maioria das pessoas associe esse fenômeno aos aspectos estéticos, na verdade ele se dá especialmente pela sensação de superação que o praticante experimenta ainda que diante de obstáculos relativamente pequenos. Parece que, a cada obstáculo vencido, ainda que seja pequeno diante dos seus próprios olhos e do olhar dos demais, a pessoa começa a sentir o fortalecimento poderoso para vencer os sintomas depressivos ou ansiosos e uma mudança efetiva em seu mindset”, observa a psicóloga.
GalEria
Dois
anos dos crimes da VALE em Brumadinho
2019-2021
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