Busque em todo o blog do Jornal de fato

ENTRE EM CONTATO CONOSCO: defatojornal@gmail.com / 99209-9899
ACOMPANHE-NOS NO facebook.com/jornaldefato

sábado, 19 de julho de 2014

Edição 163 – Junho/2014
Opinião
Qual a grandeza de Brumadinho?

Há uma mudança de compreensão cultural sobre o papel das empresas junto à sociedade atualmente. Cada vez mais, não se espera das empresas apenas o mero exercício de responsabilidade fiscal e boa gestão interna dos negócios através do ciclo investimento, geração de emprego e salários, distribuição de lucros e pagamento de impostos. Isso não constitui virtude de nenhuma empresa, mas sim obrigação legal, moral e cidadã. Ou seja, as empresas não fazem nenhum favor às cidades em que atuam, como na nossa querida e sofrida Brumadinho, ao pagarem impostos corretamente, oferecerem condições adequadas de trabalho, oferecerem salários justos e remunerarem adequadamente seus proprietários pelo lucro gerado.
Empresas que desejam se manter operantes e competitivas no futuro devem atender à crescente e legítima expectativa das cidades em que atuam de se envolverem e apoiarem as comunidades na solução dos problemas sociais e ambientais que as afligem, independentemente dessas empresas terem ou não gerado esses mesmos problemas. E em Brumadinho não é diferente.
As expectativas com relação aos impactos sociais e ambientais (e não apenas de geração de emprego e renda) são grandes em relação aos diferentes empreendimentos de grande porte que operam em Brumadinho, seja no campo tradicional da mineração, seja no emergente turismo cultural ou mesmo na geração de águas para a Região Metropolitana de Belo Horizonte. Paira sobre essas empresas a justa expectativa dos brumadinenses de que elas também sejam corresponsáveis pela solução dos problemas sociais e ambientais que afligem nossa cidade.
Com o aumento da complexidade das sociedades e sua interligação pelas mídias digitais, grupos sociais com expectativas, interesses e direitos junto às empresas multiplicaram-se para muito além dos públicos tradicionais ligados ao negócio, como consumidores, trabalhadores e comunidades diretamente afetadas pelas atividades das empresas. Hoje em dia, através de mídias sociais como Face book, Twitter e YouTube, dentre outras, temos informações sobre diferentes benefícios e malefícios produzidos pelas empresas em diferentes cidades do mundo, mesmo que sejam pequenos municípios como Brumadinho, que para os desavisados (e alienados) de plantão, não teriam nenhum poder de pressão sobre as grandes empresas. Ledo engano, pois as lutas sociais e ambientais não são apenas lutas de um lugar, de uma cidade como Brumadinho, mas de todo o planeta. E nessas lutas, comunidades locais recebem apoio de outras comunidades, solidárias a ela pelos mesmos problemas vivenciados, e ONGs de diferentes partes do mundo, muitas delas com grande capacidade de pressão junto a governos e forte penetração na mídia.
Sendo assim, cabe repensar as práticas empresariais no sentido de avaliá-las não apenas em termos de distribuição de riquezas, mas considerar se a pujança econômica que geram também é acompanhada de melhor distribuição de renda (ou redução da desigualdade social) na cidade em que operam, por avanços também na capacidade da sociedade se organizar para resolver seus problemas sociais e ambientais e promover a preservação dos patrimônios naturais e culturais.
Isso tudo pode parecer muito complexo e distante da realidade de Brumadinho. No entanto, não é. Nossa cidade já passou por diferentes ciclos de expansão econômica, seguidos de todos os benefícios e malefícios que a ampliação das empresas, sobretudo as de grande porte, pode gerar para as cidades em que operam. Já se foi o tempo que os brumadinenses acreditavam que as mineradoras ou o turismo cultural trariam apenas prosperidade à nossa cidade. Expansão urbana desenfreada, degradação ambiental, carestia nos aluguéis e nos itens de consumo diário (padaria, supermercado, ...), trânsito caótico, invasão de empresários de fora, bons empregos com altos salários para trabalhadores contratados fora de Brumadinho e empregos medianos e precários com baixos salários para a população local são alguns dos legados questionáveis dos grandes empreendimentos que operam em nossa cidade.
Mas, esse cenário pode ser alterado, desde que não cruzemos os braços e tenhamos a altivez de espírito de acreditar que Brumadinho não apenas abriga as melhores jazidas do mais puro minério de ferro de Minas ou o maior empreendimento cultural do mundo, mas também abriga um lugar com gente tão grande quanto esses empreendimentos. Eu acredito nisso, querido leitor e leitora. Mas para que sejamos realmente grandes, precisamos, como nos convida a música do Rappa, ter em mente que não podemos “sentar na poltrona no dia de domingo”. É preciso acreditar em uma Brumadinho melhor, mais justa e sustentável, e efetivamente agir de forma coletiva nessa direção, não só porque grandes empreendimentos aqui vieram fazer morada, mas porque aqui moram pessoas que sempre foram maiores que quaisquer interesses, estranhos à nossa cidade, cujos impactos sobre Brumadinho são questionáveis.

Armindo dos Santos de Sousa Teodósio (Téo) é Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração da PUC Minas

Nenhum comentário:

Postar um comentário