Edição 149 – Abril/2013
Audiência
Pública na Assembleia Legislativa discute mineração
Perseguição de lideranças, invasão de propriedades privadas
e fraudes em licitações de mineradoras foram algumas das denúncias recebidas
pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais
(ALMG) na audiência pública realizada no dia 22 de abril. A reunião contou com a
presença de cerca de 100 pessoas de várias regiões do Estado ligadas a
movimentos sociais, que denunciam as violações e lutam por mais transparência
nos processos de licenciamento dos empreendimentos.
O presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), afirmou
que a mineração, da forma como é feita no Brasil, não é só uma questão de
degradação ambiental, mas também de direitos humanos. “A Vale é o símbolo dessa
violência em Minas Gerais. Por onde ela passa, fica o rastro de degradação e
morte”, afirmou.
O autor do
requerimento para a reunião, deputado petista Rogério Correia (que recebeu 379
votos em Brumadinho na última eleição) ressaltou que os convidados presentes
vinham de três regiões distintas e que seus problemas apresentavam, assim,
peculiaridades. No Norte de Minas, de acordo com ele, o maior risco é a
construção de um mineroduto, que exigiria grandes quantidades de água para
transportar o minério. “Isso em um local onde a água já não é farta, uma região
que já sofre com secas e estiagens”, disse.
Na Zona da Mata, o
parlamentar destacou a grande presença de agricultores familiares, que estariam
ameaçados pelos novos pedidos de exploração mineral. A terceira área apontada
por Rogério Correia é a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a mais populosa
do Estado. “Há pedidos para se minerar todas as serras próximas da Capital:
Moeda, Gandarela, Rola Moça”.
Convidados
denunciam mineradoras
Os convidados
tiveram a oportunidade de expor suas preocupações e relatar casos de violação
de direitos humanos. A piscicultora Aparecida Gonçalves da Silva, por exemplo,
deu seu depoimento contra as empresas Vale e Itaminas, vizinhas da sua
propriedade em Ibirité (RMBH). De acordo com ela, além de toda a vegetação às
margens do rio ter secado, os três poços que usava para criar peixes foram
submersos e ela perdeu toda a sua produção. Ela afirma, ainda, que seu sítio
está ilhado pelas mineradoras e ninguém, além dela e do seu companheiro, é
autorizado a entrar. “Na Semana Santa não permitiram que ninguém entrasse para
nos ajudar e, por isso, não conseguimos fazer todas as entregas”, relatou.
De acordo com a
piscicultora, ela chegou a ser retirada de casa à força por seguranças das
empresas quando estava com uma representante do sindicato na propriedade.
Perseguição de
lideranças comunitárias no Norte de Minas pela Sul Americana de Metais (SAM),
foi a denúncia de Moisés Borges de Oliveira, representante do Movimento dos
Atingidos por Barragens.
Também do Norte de
Minas veio Adair Pereira de Almeida, que, representando comunidade de Grão
Mogol, disse que há mais de 2 décadas empresas passam por cima dos moradores
para fazer estudos sobre o potencial mineral da região. “Eles cortam cercas,
invadem propriedades e usam agentes de saúde para enganar moradores e coletar
assinaturas favoráveis à mineração”, afirmou. Adair ressaltou que a SAM apenas
repete o discurso sobre a geração de empregos.
Movimentos
sociais questionam modelo de desenvolvimento
Alguns
dos presentes não só levaram denúncias à ALMG, mas também questionaram o modelo
de desenvolvimento. A coordenadora do Movimento pelas Serras de Minas, Maria
Tereza Corujo, por exemplo, listou o que ela considera os três mitos sobre a
mineração. O 1º é que a atividade seria de utilidade pública. “Precisamos parar
de repetir isso. O lucro é para a minoria e o minério nem no Brasil fica. Já as
perdas para a população são definitivas. Quando se perde um manancial de água,
ele nunca mais será recuperado”, afirmou.
O
2º mito seria o de que não há como barrar a mineração porque não existe
alternativa locacional, ou seja, o minério está apenas naquele lugar e, por
isso, a atividade não pode ser transferida para outra região. “Precisamos
contrapor esse discurso e mostrar que também não há alternativa locacional para
as nascentes de água e para os biomas regionais”, disse. Como último mito, ela
citou a crença de que as mineradoras levam desenvolvimento. “Os maiores índices
de pobreza do Estado são em regiões com mineradoras. Itabira, por exemplo, teve
mineração por 60 anos e agora está sem futuro. Nenhuma empresa quer ir para lá
porque a água acabou. Que tipo de desenvolvimento é esse?”, questionou.
Para
Beatriz Vignolo Silva, presidente da ONG Abrace a Serra da Moeda, todos os
movimentos sociais presentes e todas as pessoas que se mobilizam contra as
mineradoras no Estado precisam se unir, se fortalecer. “A conquista dos
direitos dos negros e das mulheres só se deu depois de muita luta. Será assim
também com os direitos ambientais”, disse.
Em
um discurso exaltado, o frei Gilvander Moreira, da Comissão Pastoral da Terra
(CPT), acusou a ditadura do poder econômico. “Não podemos ter discurso brando.
Mineradores e governo estão fazendo uma guerra sem tamanho contra os povos de
Minas Gerais. Não estamos contra um detalhe aqui, outro ali, estamos contra a
mineração. O povo não é só atingido, ele é esmagado, estraçalhado”, disse.
Representantes
do Estado são cautelosos nas respostas
Instituições
governamentais representadas na Audiência não se manifestaram sobre as
denúncias e questionamentos específicos apresentados pelos convidados. Já os
deputados, em contrapartida, foram diretos ao dizer que acreditam que existem
fraudes e violações dos direitos humanos pelas mineradoras.
Desdobramentos da
audiência pública
Ao fim da reunião,
o deputado Rogério Correia leu os requerimentos gerados pelo encontro. O 1º
deles é para que as notas taquigráficas da audiência sejam encaminhadas às
autoridades dos Ministérios Públicos Federal e Estadual, do Conselho Nacional
do Ministério Público, do Ibama, da Defensoria Pública da União em BH, do Incra
e da Subsecretaria de Estado de Agricultura Familiar. O 2º é para que sejam
encaminhados ao comandante-geral e ao corregedor-geral da Polícia Militar
documentos, como boletins de ocorrência, que denunciam a conduta irregular de
policiais nas áreas de mineração.
À Secretaria de
Estado de Meio Ambiente, será enviado ofício para pedir a averiguação de
irregularidades na concessão de licença para o projeto Minas-Rio, em Conceição
do Mato Dentro. Rogério Correia também se comprometeu a tentar conseguir as
assinaturas necessárias para a implantação de uma Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) sobre as mineradoras.
As
informações são da ALMG
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