Edição 153 –
Agosto/2013
"Chá com
Prosa" é puro show!
Casa de Cultura inicia projeto inovador que
garante registro da História de Brumadinho
Aconteceu na
tarde do dia 27 de agosto e quem participou saiu maravilhado da Casa de
Cultura. Idealizado por
Geni Coelho Moraes, a Casa deu início ao Projeto “Chá Com Prosa”. E com boa
prosa, diga-se de passagem.
Para inaugurar o Projeto foram convidados
ilustres moradores da cidade, detentores de saberes históricos importantes
sobre a vida de Brumadinho. Durante a tarde, os presentes puderam ouvir
histórias diversas da boca de Osvaldo Maciel da Cunha, o Seu Dico do Jota; Mardocheu de Souza Parreiras; seu
Zé Quintino; seu Severino José Coelho e dona Dagmar Rosa Silva, a dona Dica da
Pensão Santa Rosa. Mas não faltaram também intervenções de outros ilustres como
D. Maria Conceição Gonçalves Santana, a dona Maria Santana do Zé Barbeirinho;
D. Maria de Lourdes Câmpora, a dona Lourdinha do Zé Branco; dona Elza Fonseca,
esposa do Sr. Paulo Bernardes da Padaria; D. Efigênia Murta; Isabel Maria da
Conceição, a dona Bilica; e Nery Braga. Como ouvintes participaram o Prefeito
Tunico Brandão (PSDB) e sua esposa, Juraci Brandão; a Secretária de Turismo e
Cultura, Marta da Maroto; o diretor do departamento de Cultura, Marcelo Jabah;
o vereador Reinaldo Fernandes (PT), Wagner, responsável pela Casa de Cultura; a
Secretária de Educação, Neide Lima; o músico, cantor e agitador cultural Leci
Strada, dentre outros.
Histórias e mais histórias
Sob a coordenação de Andreia Olinda Pinto
Campos (Departamento de Cultura), os ilustres foram convidados a falar. Antes,
porém, Andreia apresentou uma “linha do tempo” com datas importantes do
Município (ver box)
Seu Dico do Jota,
94 anos, falou sobre o início da cidade, afirmando que o outro lado do rio
Paraopeba, onde hoje localiza-se o Canto do Rio, pertencia anteriormente à
cidade de Outro Preto. Ele foi vereador da primeira legislatura da cidade,
eleito com 134 votos, pelo PSD. Seu primeiro projeto de lei foi pedir 20 mil em
dinheiro da época para construção da escadaria e laterais da Igreja Matriz, o
que lhe rendeu uma carta de Pe. Elpídio Rosa de Freitas, o vigário da época, que
o agradecia pelo grande feito. O terreno fora doado pelo seu sogro, João
Fernandes do Carmo, o Jota, que era
proprietário de toda a região do hoje bairro do Jota.
A política
O ex-prefeito Mardocheu de Souza Parreiras
fora convidado para falar sobre Política, mas falou sobre Educação e muito mais
também. Nascido em 20 de abril de 1937, Mardocheu falou de inúmeros eventos dos
quais esteve à frente, como a criação do Instituto São Sebastião e, depois, da
criação do Colégio São Sebastião e o curso de Contabilidade; da primeira turma
e seus alunos brilhantes como Antônio Olavo e Alair Maciel; das brigas
políticas entre as duas famílias mais tradicionais, a do Jota e da do Sr.
Abelardo Passos; dom seu primeiro voto no prefeito Manoel Sampaio, em 1958, e
de como foi difícil conseguir vender o 50ª linha telefônica pra que o serviço
pudesse ter início em Brumadinho. Lembrou que Águas Claras foi o maior colégio
eleitoral e como era feito o cadastramento de leitores, a maioria analfabetos,
e como era o “voto de cabresto”, como se servia marmitas de comida para ganhar
o voto do eleitor e de como o Dr. José Ernesto colocou o Gibiu na política de
Brumadinho.
O comércio
Seu José Quintino, nascido em 25 de outubro
de 1921, proprietário de uma pequena loja de aviamentos, está no comércio desde
1964, dia 2 de janeiro, no mesmo lugar, ali na Praça da Bandeira. Diariamente
vai a pé para o trabalho, e mantém lucidez, simpatia e educação invejáveis.
Contou que foi oficial de Justiça depois de trabalhar de garçom no bar do
Jacaré (também até hoje ali na Praça), onde dormia depois de trabalhar até
tarde e para levantar-se bem cedo.
Os trabalhadores da mineração
Seu Severino contou as histórias dos trabalhadores da mineração e o fenômeno dos sapos no açude do Bananal |
Seu Severino José Coelho, no alto de seus
quase 86 anos, autoditada, explicou que seu forte era História do Brasil, e não
de Brumadinho. Afora a humildade, contou belas histórias dos trabalhadores das
mineradoras de Brumadinho: SOCOMIL, JANGADA, e outras. Lembrou que os
trabalhadores iam a pé, inclusive os que moravam no Brumado. E que tudo era
feito na picareta, sem máquinas, sem tratores. Se tinha caminhão, era enchido a “garfada”- garfo de ferro -, desperdiçando o minério
fino. Depois, uma báscula, mas que era movida com uma manivela. Contou de
quando uma companhia adquiriu um caminhão do Canadá, que era um tipo de tanque
usado na 2ª Guerra Mundial e que subia em qualquer lugar na mineração. E como
uma das empresas, a MIPASA, construiu através dos braços de seus empregados,
uma estrada ligando a mineração à linha de trem de ferro em Alberto Flores mas
que proibia qualquer caminhão de passar por ela (não havia estradas), deixando
um homem com um porrete caso alguém quisesse tentar. Severino lembrou que um de
seus colegas era o agora prefeito Antônio Brandão, então caminhoneiro. Contou que,
certa vez, Tejuco mudou de nome, e foi chamado de “Três Irmãos”. E terminou
falando de algo que ele chamou de “fenômeno”: o dia em que, no ano de 1939, o
açude onde fica hoje a Avenida do Bananal (Vigilato Braga) amanheceu cheio de
sapos. Nesta hora, seu Severino olhou para o Editor do de fato, que anotava
suas histórias, e disse que nem uma caneta, como aquela que o Editor estava
usando, era possível enfiar entre os sapos, tantos que eram.
O carnaval
Dona Dagmar Rosa Silva, a dona Dica, da
Pensão Santa Rosa, contou de como eram belos os carnavais, com suas marchinhas,
e como seu pai organizava os blocos juntos com o popular Caco, vivo até hoje e
morador do bairro São Conrado. Dona Dica veio para Brumadinho em 1941, e sua
pensão foi a segunda na cidade (a primeira foi do Sr. Edmundo, de 1950, pai de
Maria Santana, mãe do vereador Hideraldo Santana)
Interação e valorização dos saberes dos
idosos
“Foi além do que eu esperava”, disse
entusiasmada à reportagem do de fato a idealizadora do “Chá com Prosa”, Geni
Coelho Moraes. “Foi uma oportunidade de os participantes interagirem”,
completou, lembrando que muitas vezes os idosos não são ouvidos na sociedade,
tendo tanto para contar e contribuir. “O Chá com Prosa proporciona essa
interação”, concluiu Coelho.
Todas as entrevistas foram gravadas,
filmadas e, segundo foi informado aos presentes, serão transcritas.
Estão de parabéns a idealizadora do projeto,
Geni Coelho, e a Administração Municipal pelo belo trabalho. Agora é torcer que
se dê continuidade ao Projeto. Afinal, ainda há inúmeras histórias para serem
contadas.
“Linha do tempo”
1928 – Início da construção da ponte sobre
o rio Paraopeba
1929- Fundação da Banda de Música São
Sebastião
1938 – Emancipação de Brumadinho a
Município
1940- Criação da Paróquia de São Sebastião,
desmembrando-se de Bonfim
1955- Criação da Comarca de Brumadinho
1960- Criação do alto-forno da SIBRUSA
(Siderúrgica Brumadinho S. A.)
Chegada da CEMIG
Abastecimento de água vindo da Serra
Criação da Companhia telefônica de
Brumadinho
1966- Criação do Colégio Estadual (hoje,
Paulina Aluotto Ferreira)
Criação do Hospital João Fernandes do Carmo
1970- Criação da Praça da Rodoviária
Criação do Fórum novo
Inauguração da Escola Estadual Paulina
Aluotto Ferreira
Aquisição de um prédio para a prefeitura
pelo então prefeito Mardocheu de Souza Parreiras
1980- Construção da Praça de Esportes
(Quadra)
Asfaltamento da MG 040 de Sarzedo a Brumadinho
Construção da Barragem da COPASA (Sistema
Rio Manso)
Chegada da COPASA
Construção da cadeia
1990- Municipalização do Hospital João
Fernandes do Carmo
Entrada de Brumadinho na Região
Metropolitana de Belo Horizonte
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