Edição 153 –
Agosto/2013
Opinião
Indignação &
Inanição da Cidadania em Brumadinho
Armindo dos Santos de Sousa Teodósio (Téo)*
Nos últimos meses, uma onda de manifestações varreu o Brasil, assim como
vem acontecendo em outras partes do mundo. Em comum, dentre outras coisas,
esses movimentos têm a indignação contra uma série de problemas que afetam a
vida em sociedade e o exercício da política.
A presença do povo nas ruas, manifestando suas vontades, é um dos
elementos, apesar de não o único, de democracias maduras e vigorosas. A
pergunta que fica é como canalizar essa indignação, que lembra a famosa “ira
santa” de que falava o saudoso Miguel Arraes, para ações que consigam
efetivamente melhorar nossa vida em sociedade. O desafio é justamente colocar
em ação essa indignação, para que ela não se transforme em inanição da
cidadania.
Um dos caminhos necessários e promissores para transformar nossas cidades,
para transformar nossa querida Brumadinho em um lugar melhor para se viver, é
se envolver com uma série de lutas que não são recentes, como a própria luta
pelo passe livre, mas são essenciais para conquistarmos uma cidade mais justa,
democrática e sustentável.
Essas lutas envolvem a ampliação dos espaços de participação popular na
discussão sobre caminhos para o desenvolvimento de Brumadinho; o apoio a
pequenos empreendimentos inovadores em termos sociais e ambientais, através de
crédito justo, capazes de gerar trabalho, renda e condições de trabalho dignas,
mitigando a pobreza e reduzindo as diferenças de renda dentro do município ao
mesmo tempo em que reduzem nossa dependência das mineradoras e do Museu
Inhotim; a promoção de políticas públicas que contribuam para o transporte
coletivo em detrimento do individual; o envolvimento efetivo e democrático da
comunidade na gestão educacional, fazendo da educação uma de nossas
prioridades; a consolidação da atenção básica à saúde e o avanço do programa de
saúde da família; o aprimoramento do tratamento adequado da água, capaz de
efetivamente mitigar os problemas com as enchentes e com escassez e carestia
para os pobres; a ampliação do saneamento, alcançando principalmente as
comunidades periféricas; a promoção de formas compartilhadas de acesso e
gerenciamento da habitação popular, consolidando a ideia de direito à moradia;
a valorização da expressão cultural das populações tradicionais de nossa
cidade, oferecendo outras opções culturais autênticas para além do Museu
Inhotim e do circuito turístico em torno de Casa Branca; a implantação da
Política Nacional de Resíduos Sólidos, sem que nenhuma concessão seja feita
para dinâmicas empresariais ávidas por excluir os recicladores da riqueza
gerada pelo lixo; a ampliação da cultura de transparência, prestação de contas
e controle social em relação aos poderes executivo, legislativo e também
judiciário em Brumadinho.
Como se pode perceber, vários caminhos podem servir
para que a indignação não se transforme em inanição. Falta de opções não há,
assim como muitas outras lutas também podem se somar a essas. Para tanto, é
preciso que floresça em Brumadinho não apenas o belo e contagiante espírito de
indignação contra as mazelas da política, mas também uma multiplicidade de
ações da sociedade civil. Só assim, movidos por uma indignação que resulta em
obras, ações, maiores e melhores debates realizados em ambiente efetivamente
democrático, poderemos conquistar, ao contrário de ganhar dos governantes de
plantão, melhores formas de se bem viver em nossa estimada Brumadinho. Caso
isso não aconteça, talvez a música do Skank ainda continue a nos diz o que
somos como povo, uma “indigna nação, indigna...”. Eu aponto no contrário, eu
aposto na “ira santa” daqueles que verdadeiramente têm compromisso com
Brumadinho. E você, querido leitor, qual será a sua aposta?
* Armindo dos Santos de Sousa Teodósio (Téo) é Professor
do Programa de Pós-Graduação em Administração da PUC Minas
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