Edição 193 – Dezembro 2016
Comissão de Participação Popular da ALMG debate Mudanças
do Ensino Médio e PEC 55 em Brumadinho
A audiência pública
foi solicitada pela deputada Marília Campos (PT) e realizada na Paulina
Educadores e alunos se manifestaram contrários à proposta de reforma do ensino médio e à PEC do teto dos gastos públicos, ambas em âmbito federal - Foto: Clarissa Barçante
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“Não
se pode cortar investimentos sem levar em conta os que precisam dos serviços
públicos; não se pode reformar o ensino médio sem ouvir primeiro os afetados.
Meu pai sempre ensinou a ouvir primeiro e depois falar, e o governo está
fazendo o contrário”. Com este protesto o estudante do ensino médio Leonardo
Vitalino foi aplaudido por participantes na abertura de audiência pública da
Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais
(ALMG).
A reunião foi realizada no dia 6/12/16), na
Escola Estadual Paulina Aluotto Ferreira, em Brumadinho, dentro da série de
debates promovidos pela comissão sobre as manifestações e ocupações em
instituições de ensino. Dezenas de estudantes participaram do
evento.
As maiores críticas de educadores e alunos
são contra o fato de o governo federal ter proposto a reforma do ensino
médio por meio da Medida
Provisória (MP) 746/16, que tem força de lei, sem ouvir a população.
A MP foi publicada no final de setembro e precisa do aval do Congresso para não
perder a validade. Prevê, entre outros, aumento da carga horária e
flexibilização da grade curricular.
Houve, ainda, protestos contra a Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) 55/16, conhecida como PEC do Fim
do Mundo por congelar os gastos do governo federal pelo período de 20 anos.
Ela já foi aprovada pela Câmara dos Deputados como PEC 241/16 e também pelo
Senado em primeiro turno.
Lideranças de Brumadinho
A estudante Letícia Arantes avaliou que as
duas propostas seriam contraditórias. “Temos uma MP de reforma do ensino médio
e ao mesmo tempo uma PEC que limita gastos com a educação”.
Na mesma linha, seu colega de escola Flávio
Augusto Moreira, do Grêmio da Paulina, ainda acrescentou que, apesar de a PEC
congelar gastos, a reforma do ensino médio vai exigir investimentos em
infraestutura e alimentação nas escolas e ainda em capacitação de professores
A estudante Letícia Arantes |
“Disseram que para fazer essa proposta de
reforma buscaram experiências de outros países, como França e Holanda. Mas lá
foram quatro anos de debates antes”, argumentou o estudante, fazendo coro às
críticas contra uma reforma imposta por medida provisória.
“A reforma do ensino médio tem que
acontecer, mas consultando antes os atores principais, aqueles que estão no dia
a dia da educação”, endossou o diretor da escola, Márcio Roberto de Souza.
Apoiando a mobilização dos estudantes, ele ainda defendeu o fortalecimento do
grêmio estudantil para estimular a participação dos alunos e auxiliar a direção
da unidade em suas discussões.
A estudante Letícia Peixoto |
O Vereador e Professor Reinaldo Fernandes,
convidado para participar da Mesa do evento, agitou a platéia quando começou
sua fala: “Bom, pessoal, primeiramente...” E a galera foi aos gritos: “Fora
Temer!” o Vereador elogiou os estudantes em sua luta contra a PEC e a “Reforma”
do Ensino Médio: “Os livros de história no futuro trarão a luta de vocês”.
“Você estão ensinando aos adultos, às centrais sindicais, aos sindicatos e
movimentos sociais uma forma nova de lutar, incluindo as ocupações”, disse o
Professor. Ao todo, mais de 1.200 escolas estão ocupadas no País. Em Minas
Gerais, são mais de 100 ocupações.
Propostas podem aumentar
desigualdades
Além de críticas à condução da reforma pelo
governo, a professora Lilian Paraguai, Coordenadora do Sindicato dos
Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-Ute-MG), alertou para o que
chamou de “momento gravíssimo” do País na área social. “Saímos de uma projeção
de investimentos de 75% dos recursos do petróleo do pré-sal em educação e de
25% na saúde para um congelamento de 20 anos. É a PEC da morte”, disse sobre a
limitação do crescimento dos gastos públicos à inflação proposta pelo governo
federal.
Para o professor de História da rede
estadual César Andrade, um dos pontos polêmicos da proposta de reforma é a
divisão do currículo em cinco áreas, entre as quais a educação profissional
ofertada depois do 1º ano. Na sua avaliação, a tendência é que essa área
atraia, por necessidade, aqueles que necessitem de uma empregabilidade precoce.
“A longo prazo isso pode gerar a ampliação da desigualdade social”, pontuou
ele.
Também com críticas às duas propostas, a
presidente da comissão, deputada Marília Campos (PT), ainda destacou que o
governo federal enviou ao Congresso Nacional, no dia 6/12, a reforma da
previdência, que desvincula o benefício da aposentadoria da variação do
salário mínimo e amplia a idade para a aposentadoria. Segundo ela, esse é outro
indicativo de corte de direitos da população.
A deputada, que pediu a audiência, ainda
ressaltou a importância das manifestações e ocupações dos estudantes e
reivindicou que o Governo do Estado elabore, numa relação de diálogo com todas
as partes, uma proposta de ensino médio para Minas Gerais.
Em resposta, o diretor de ensino médio da
Secretaria de Estado de Educação (SES), Wladimir Coelho, anunciou que a
proposta da pasta é que seja realizado no começo do ano que vem um congresso
nesse sentido, com o objetivo de discutir uma proposta para o Estado.
Além de alunos de Brumadinho, participaram
da audiência também estudantes de outros municípios da RMBH, como Esmeraldas,
Sarzedo, Contagem, Betim e Mário Campos.
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