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terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Edição 193Dezembro 2016

Comissão de Participação Popular da ALMG debate Mudanças do Ensino Médio e PEC 55 em Brumadinho

A audiência pública foi solicitada pela deputada Marília Campos (PT) e realizada na Paulina

 

Educadores e alunos se manifestaram contrários à proposta de reforma do ensino médio e à PEC do teto dos gastos públicos, ambas em âmbito federal - Foto: Clarissa Barçante
 “Não se pode cortar investimentos sem levar em conta os que precisam dos serviços públicos; não se pode reformar o ensino médio sem ouvir primeiro os afetados. Meu pai sempre ensinou a ouvir primeiro e depois falar, e o governo está fazendo o contrário”. Com este protesto o estudante do ensino médio Leonardo Vitalino foi aplaudido por participantes na abertura de audiência pública da Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
A reunião foi realizada no dia 6/12/16), na Escola Estadual Paulina Aluotto Ferreira, em Brumadinho, dentro da série de debates promovidos pela comissão sobre as manifestações e ocupações em instituições de ensino. Dezenas de estudantes participaram do evento.
As maiores críticas de educadores e alunos são contra o fato de o governo federal ter proposto a reforma do ensino médio por  meio da Medida Provisória (MP) 746/16, que tem força de lei, sem ouvir a população. A MP foi publicada no final de setembro e precisa do aval do Congresso para não perder a validade. Prevê, entre outros, aumento da carga horária e flexibilização da grade curricular.
Houve, ainda, protestos contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55/16, conhecida como PEC do Fim do Mundo por congelar os gastos do governo federal pelo período de 20 anos. Ela já foi aprovada pela Câmara dos Deputados como PEC 241/16 e também pelo Senado em primeiro turno.

Lideranças de Brumadinho

A estudante Letícia Arantes avaliou que as duas propostas seriam contraditórias. “Temos uma MP de reforma do ensino médio e ao mesmo tempo uma PEC que limita gastos com a educação”.
Na mesma linha, seu colega de escola Flávio Augusto Moreira, do Grêmio da Paulina, ainda acrescentou que, apesar de a PEC congelar gastos, a reforma do ensino médio vai exigir investimentos em infraestutura e alimentação nas escolas e ainda em capacitação de professores
A estudante Letícia Arantes
“Disseram que para fazer essa proposta de reforma buscaram experiências de outros países, como França e Holanda. Mas lá foram quatro anos de debates antes”, argumentou o estudante, fazendo coro às críticas contra uma reforma imposta por medida provisória.
“A reforma do ensino médio tem que acontecer, mas consultando antes os atores principais, aqueles que estão no dia a dia da educação”, endossou o diretor da escola, Márcio Roberto de Souza. Apoiando a mobilização dos estudantes, ele ainda defendeu o fortalecimento do grêmio estudantil para estimular a participação dos alunos e auxiliar a direção da unidade em suas discussões. 
A estudante Letícia Peixoto
O Vereador e Professor Reinaldo Fernandes, convidado para participar da Mesa do evento, agitou a platéia quando começou sua fala: “Bom, pessoal, primeiramente...” E a galera foi aos gritos: “Fora Temer!” o Vereador elogiou os estudantes em sua luta contra a PEC e a “Reforma” do Ensino Médio: “Os livros de história no futuro trarão a luta de vocês”. “Você estão ensinando aos adultos, às centrais sindicais, aos sindicatos e movimentos sociais uma forma nova de lutar, incluindo as ocupações”, disse o Professor. Ao todo, mais de 1.200 escolas estão ocupadas no País. Em Minas Gerais, são mais de 100 ocupações.
 

Propostas podem aumentar desigualdades

Além de críticas à condução da reforma pelo governo, a professora Lilian Paraguai, Coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-Ute-MG), alertou para o que chamou de “momento gravíssimo” do País na área social. “Saímos de uma projeção de investimentos de 75% dos recursos do petróleo do pré-sal em educação e de 25% na saúde para um congelamento de 20 anos. É a PEC da morte”, disse sobre a limitação do crescimento dos gastos públicos à inflação proposta pelo governo federal.
Para o professor de História da rede estadual César Andrade, um dos pontos polêmicos da proposta de reforma é a divisão do currículo em cinco áreas, entre as quais a educação profissional ofertada depois do 1º ano. Na sua avaliação, a tendência é que essa área atraia, por necessidade, aqueles que necessitem de uma empregabilidade precoce. “A longo prazo isso pode gerar a ampliação da desigualdade social”, pontuou ele.
Também com críticas às duas propostas, a presidente da comissão, deputada Marília Campos (PT), ainda destacou que o governo federal enviou ao Congresso Nacional, no dia 6/12, a reforma da previdência, que desvincula o benefício da aposentadoria da variação do salário mínimo e amplia a idade para a aposentadoria. Segundo ela, esse é outro indicativo de corte de direitos da população.
A deputada, que pediu a audiência, ainda ressaltou a importância das manifestações e ocupações dos estudantes e reivindicou que o Governo do Estado elabore, numa relação de diálogo com todas as partes, uma proposta de ensino médio para Minas Gerais.
Em resposta, o diretor de ensino médio da Secretaria de Estado de Educação (SES), Wladimir Coelho, anunciou que a proposta da pasta é que seja realizado no começo do ano que vem um congresso nesse sentido, com o objetivo de discutir uma proposta para o Estado.
Além de alunos de Brumadinho, participaram da audiência também estudantes de outros municípios da RMBH, como Esmeraldas, Sarzedo, Contagem, Betim e Mário Campos.


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