Edição 199 – Junho 2017
Córrego é tomado por lama da mineradora
Tejucana
Prefeitura coloca-se a favor da empresa
e multa vítima; mas técnicos do Estado demonstram culpa da mineradora
fotos feitas por moradores da região |
Moradores da localidade de
Córrego do Barro acordaram no dia 26 de junho diante de um desastre ambiental:
o córrego, que tinha água limpa, estava tomado por lama de mineração. Após
fazer filmagens e fotografias, moradores denunciaram no facebook.
As denúncias feitas pelos
moradores de que já sabiam que a lama era da mineradora Tejucana foi tratada
como boato. Um canal de uma TV local (via rede social) intitulou sua matéria de
“BOATO SOBRE O
ROMPIMENTO DE BARRAGEM ASSUSTA POPULAÇÃO DE BRUMADINHO”, com a seguinte lide:
“Circula pelas redes sociais que barragem da mineração Lions/Tejucana teria
rompido impactando o Córrego do Barro, efluente do rio Paraopeba. Empresa e
prefeitura desmentem.”
A TV entrevistou um dos
responsáveis pela empresa, que disse que estava apenas fazendo um favor a um
vizinho e não falou em carreamento de rejeitos ou que os rejeitos eram de sua
mineração.
Já a Prefeitura, através da
Secretaria Municipal de Meio Ambiente, deu mostras de que a mineradora era
inocente. Em entrevista ao canal, Marciano Reis Mariano (PSDB), técnico da
Secretaria, se disse assustado com a informação, defendendo a mineradora,
dizendo que ela não tem barragem. Reis (PSDB) jogou a culpar no sitiante e
ainda o autuou para pagar multa de R$ 2.500,00. Reis (PSDB) disse que o
sitiante estava tentado fazer uma manutenção na lagoa e ela se rompeu.
Em nota, a Defesa Civil do Município, culpabilizou o
proprietário, afirmando que era ele que fazia a manutenção da represa e durante
o serviço aconteceu o rompimento. A nota não esclarecia que tipo de efluente
havia no reservatório, tampouco em que dia ocorrera o acidente. A Defesa Civil
informou que foram exigidas do sitiante medidas de contenção imediatas para
drenagem e remoção dos materiais que possam ser retirados sem maiores danos.
Revolta dos moradores
Indignados com a vergonhosa
postura da Prefeitura em pleno mês que se comemora o Dia Mundial do Meio
Ambiente, e de serem tratados como “boateiros”, moradores recorreram ao Governo
do Estado e à imprensa regional. Depois que perceberam que a Secretaria
Municipal de Meio Ambiente não agiria de forma correta e que defenderia a
Mineradora, moradores buscaram ajuda na Secretaria de
Estado de Meio-Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - SEMAD.
SEMAD
demonstra culpa da Mineradora, diferentemente da Secretaria Municipal de Meio
Ambiente
No dia seguinte, de manhã, a SEMAD esteve no local. Os técnicos constataram que a
lagoa do sitiante fica próximo à mineradora e vem recebendo resíduos (barro e
minério) da mineração nos últimos anos. Verificaram que, a bem da verdade, a
Mineradora fora quem provocara o estouro da lagoa quando foi tentar limpá-la.
A SEMAD explicou que a lagoa
em uma área particular que se rompeu recebia rejeitos da mineradora carreados
pela chuva que, com o rompimento, acabou causando os danos ambientais. Segundo os técnicos do Núcleo de Emergências
Ambientais (NEA) apuraram, o reservatório de água, que pertence a um produtor
rural, recebia com frequência sedimentos provenientes da mineradora, provocados
por carreamentos de chuva. “Quando estes sedimentos atingiam níveis elevados no
reservatório, a mineradora promovia o seu desassoreamento”, informou a SEMAD
por nota. A nota informa que o rompimento da
lagoa ocorreu durante uma operação de limpeza realizada pela
Mineradora Tejucana. O terreno com a lagoa fica ao lado de área da mineradora.
Ainda conforme o órgão ambiental do EStado, quando os sedimentos atingiam
níveis elevados no reservatório, a mineradora promovia o desassoreamento.
Durante uma manobra errada, parte da margem foi arrancada. Já Marciano Reis
Mariano (PSDB), a Tejucana e a reportagem do canal local negaram isso,
preferindo considerar as denúncias dos moradores como “boatos”.
O engenheiro ambiental Pedro
Barbosa, coordenador do Núcleo de Emergência Ambiental (NEA), da SEMAD, que
vistoriou a área, pontuou irregularidades. “São duas falhas. Esse sedimento
está passando numa área de terceiros em grande quantidade, uma primeira falha.
E uma segunda falha: na hora de realizar essa obra, esse material deveria ter
sido dragado, retirado e destinado adequadamente. Mas não, ele foi jogado para
o curso d’água ajusante [abaixo], uma segunda falha muito grave”, disse.
Marciano Reis (PSDB)
Procurado pela reportagem de
um telejornal regional, Marciano Reis (PSDB), identificado como fiscal da
Secretaria Municipal de Meio Ambiente, disse que todas as vezes que a
prefeitura vai ao local, a Tejucana “tem os licenciamentos, tem os
procedimentos corretos”. E terminou justificando a postura da empresa ao dizer
que “é obvio que exploração causa impacto ambiental”.
Diferentemente do que ia
fazer a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Brumadinho, a SEMAD vai autuar
a mineradora e deu prazo de 15 dias para que a empresa desassoreie o
córrego. A mineradora deverá ainda
analisar amostras da água para garantir sua qualidade.
O dono do sítio foi autuado
pelo fiscal Marciano Reis (PSDB), da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. No
entanto, o proprietário disse que vai recorrer porque se considera vítima
também da mineração.
Já a população local espera
que o rio seja recuperado e volte a ter água limpa, como em outros tempos.
Abastecimento
De acordo com o fiscal Marciano Reis (PSDB), “a princípio, não há comprometimento de
abastecimento”. No entanto, a Secretaria Estadual ainda está avaliando se
alguma carga de sedimentos alcançou o Paraopeba, já que o Córrego do Barro é
afluente do rio para Paraopeba. Aliás, não é “efluente”, como erroneamente
escreveu a Defesa Civil do
município em sua Nota. Efluente refere-se ao resíduo que sai de um
equipamento e de despejos e esgotos industriais e domésticos, ou um adjetivo,
significando algo que eflui, que emana de algo.
A COPASA informou que está avaliando a qualidade
da água e, por enquanto, não há registro de alteração na água do Paraopeba.
População
reage à posição da Prefeitura e fala até em “propina”
Depois da presença da Secretaria
de Estado de Meio-Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SEMAD – que demonstrou
claramente os erros da mineradora Tejucana, em oposição à Prefeitura que
praticamente defendeu a empresa, moradores se manifestaram nas redes sociais.
“ Então...não era do vizinho?”,
escreveu uma moradora que tinha postado bas fotos inicialmente no facebook e tinha
assistido a reportagem do canal local.
“Até que enfim alguém foi atrás da verdade!”, escreveu outro.
“Tava na hora, né? Não podíamos ser culpados por
atitudes nítidas de mineradora!”, desabafou Zeuzo Junior, filho do sitiante multado injustamente pela
Prefeitura.
“E jogaram a todo momento que o sitiante estava fazendo a
limpeza da Lagoa mas não falaram que foi eles que tentaram consertar a cagada
fazendo outra pior ainda neh!”, registrou outra, referindo-se à entrevista dada
pelo fiscal Marciano Reis Mariano (PSDB). “Cadê
os puxa-sacos que estava falando que não era rejeito de minério e que a
mineração não tinha culpa???”, perguntou outra na mesma direção do que dissera Marciano
Reis Mariano (PSDB).
“A administração
municipal, que é do Partido Verde, já se manifestou para a população? A
declaração do secretário nos leva a acreditar que nada será feito, afinal a
mineração "causa impactos ambientais",
também referindo-se à declaração feito à TV por Marciano Reis Mariano
(PSDB).
Outra internauta escreveu: “Tá na hora da prefeitura
lançar outra nota justificando a primeira.” A que o filho do sitiante
respondeu: “Com certeza ! Estou aguardando ansiosamente.”
E uma última pessoa arrematou de forma veemente: “Revoltante a declaração do secretário do "meio
ambiente", foi vergonhosa! Abre a boca e fala sem pensar...triste isso!!!
Pois é, cadê o meio ambiente de brumadinho, não tem, NÉ, só tem pra cobrar
propina c d f d p”, referindo-se novamente à declaração do fiscal Marciano
Reis. O Secretário Municipal de Meio Ambiente não foi visto em lugar nenhum
tratando do assunto, que foi noticiado pela TV, pelo canal de Brumadinho, e
ainda mais dois jornais de Minas Gerais e outro site de notícias online.
Foto mostra lama descendo |
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