“Marta da Maroto é eleita Presidente da Câmara”
Essa deveria ser o título da matéria a ser publicada pelos jornais da cidade. Mas não foi. O título correto é bem outro:
Leônidas é eleito Presidente da Câmara
Leônidas Vicente da Silva Maciel (PMDB) é o novo presidente da Câmara, vencendo o pleito por 5 votos a 4. Sua eleição aconteceu no último 2 de dezembro, em sessão extraordinária realizada no Legislativo e acompanhada por dezenas de populares. Leônidas venceu com o apoio do Prefeito Municipal, Nenem da ASA (PV), e derrotou sua colega de partido, a vereadora Marta da Maroto. Ele recebeu os votos dos quatro vereadores do prefeito: Zezé do Picolé, Professor Adriano Brasil, Fernando Japão e Vanderlei Xodó, todos do Partido Verde. Até as 18:47 horas, momento em que Leônidas proferiu seu voto, votando em si mesmo, Marta da Maroto tinha os cinco votos garantidos para ser eleita: tinha seu próprio voto, além dos votos de Lilian Paraguai (PT), Itamar Franco (PSDB), Jaime Wilson (PSDB) e de Leônidas Maciel.
“Pai Nosso” e “nome do Pai”
Pouco antes das 18 horas, a Câmara municipal começou a receber interessados na eleição, curiosos e membros de partidos políticos. A vereadora Marta da Maroto estava animada, com muitos correligionários na platéia, entre amigos e familiares. Cartazes eram espalhados pelo local, com palavras que diziam que a Câmara seria do povo. Já estavam na Câmara os vereadores Itamar Franco, Jaime Wilson e Lilian Paraguai. Faltava o 5º voto, o vereador Leônidas. Por volta das 18 e 30, Leônidas ainda não tinha chegado. Nem tinham chegado os 4 vereadores do prefeito.
Para quem acompanha a política de Brumadinho, a ausência de Leônidas e dos quatro vereadores que apoiam o prefeito preanunciava o que aconteceria. No entanto, a animação da vereadora Marta tinha razão de ser: depois de intensas conversações das últimas semanas, havia pouco mais de 2 horas que tinham se reunido pela última vez. O encontro acontecera na casa do vereador Itamar Franco, em Aranha, e, por volta das 15e 30, tinham saído da reunião com o compromisso de Leônidas de que votaria em Marta. A reunião terminara com pose para fotos e a oração do “Pai Nosso”, rezada de mãos dadas.
Quando os vereadores do prefeito chegaram, tudo foi muito rápido. Fernando Japão entrou fazendo “o nome do Pai” e dirigiam-se rapidamente às suas cadeiras, o que não impediu que o Presidente do PMDB, Breno Carone, falasse algumas palavras para Leônidas.
“Vendido”, “Judas” e “Traidor”
Nos termos do Regimento Interno da Câmara, a votação se dava por ordem alfabética, começando pelo cargo de Presidente. O primeiro a votar foi Adriano Brasil, seguido de José de Figueiredo. Leônidas era o 3º. Quando Zezé do Picolé fez a chamada para o vereador Leônidas votar, ele pareceu meio atordoado, respondendo “presente”. Zezé do Picolé explicou que era para ele votar, e o vereador perguntou se Adriano Brasil já tinha votado e em quem tinha votado. “Votou em você”, esclareceu o Presidente. Então o vereador proferiu seu voto: “Leônidas Vicente da Silva Maciel”. Foi o sinal para a plateia começar a gritar: “Vendido! É um vendido! Judas! Traiu a população de Brumadinho!”
E os impropérios não pararam.quando Leônidas votou em Adriano Brasil para vice presidente, uma voz ecoou nas cadeiras: “Cara de pau! Voto comprado!”
Declarada eleita a Mesa, com Zezé do Picolé de Secretário, a vereadora Marta pediu a palavra e fez um duro discurso, referindo-se a Leônidas como “traidor do Partido”. “Ele se comprometeu em todas as reuniões que fizemos, assinou ata do grupo. Uma pessoa que mente,engana, trai, não merece meu respeito”, disparou Marta. “Pessoa que assinou compromisso conosco. Ele se comprometeu, orou o Pai Nosso conosco e, chegando aqui, tomou outra posição”, completou a vereadora. “Se ele enganou 5 pessoas,com ele, o que ele fará como Presidente da Casa?”, indagou.
Já a vereadora Lilian Paraguai fez um discurso mais comedido, mas não menos duro: “Precisamos fazer uma reflexão sobre a ética. Faltou ética. A gente não consegue admitir que uma pessoa esteja com a gente há poucos minutos e vote contra. É uma questão de caráter”, disse.
Leônidas se mantém calado
Traição para eleição da Mesa Diretora da Câmara não é o que se pode chamar de novidade. A novidade talvez tenha sido o silêncio do eleito. Nenhuma palavra foi proferida por Leônidas Maciel, nenhuma explicação foi dada à população presente à Câmara. Declarada a eleição, ouviu-se, ao mesmo tempo, um foguetório, patrocinado pelo Prefeito, segundo apurou a reportagem do de fato. No mais, foi o silêncio do Presidente eleito e sua retirada rápida, conduzida por uma assessora preocupada com sua integridade física, enquanto partidários de Marta da Maroto gritavam: “Traíra! Judas! Judas!”
Uma pessoa mais afoita gritava: “Vamos atrás dele! A Câmara é nossa!” “Vamos lá embaixo!”, insistia a voz, irritada, tentando arrastar adeptos. Mas as pessoas presentes preferiram não partir par as “vias de fato”.
PMDB promete expulsão
“Breno, tem que expulsar o homem”, gritara uma voz durante a eleição. Em conversa com o de fato, o Presidente do PMDB, Breno Carone, explicou que o vereador Leônidas deverá ser punido. Segundo Carone, seu caso seria encaminhado à Comissão de ética do Partido. “Ele reincidente! Apoiou Dinis Pinheiro, que não é do PMDB e já teve um mandato cassado”, disse Breno. O mandato cassado foi em 2008, porque Leônidas tinha apoiado um candidato que não era do PSB, seu Partido, e mudado para o partido do prefeito daquela época, Tunico da Bruma (PMDB). Agora, Leônidas volta aos braços do PSB, já que seu antigo partido faz parte do Governo de Nenem da ASA, que o elegeu.
Carone explicou que o PMDB vai reunir documentos e pedir a cassação de seu mandato. Mas a situação não é tão fácil quanto pensa Breno Carone. A rigor, no que diz respeito á questão legal e não ética, Leônidas não traiu seu partido na eleição da Câmara pios não votou em nenhum candidato de outro partido, votou em si mesmo, que é do PMDB. Já a saída do Partido, Breno Carone dá como certa: “Do PMDB elevai ser expulso!”, afirmou categoricamente. Anonimato
Quatro dias depois da eleição, quem passasse em frente à Câmara viria uma faixa onde se lia que “Leônidas: a Câmara continua sendo do povo”. Se a gestão atual, de Zezé do Picolé, termina marcada pela ilegalidade e arbitrariedade quanto ao processo do IPTU, a de Leônidas já aponta no mesmo rumo. A Constituição Brasileira de 88 garantiu a todos os cidadãos, em seu art. 5, inciso IV, o direito à manifestação do pensamento. No entanto, o mesmo inciso IV completa: “..., sendo vedado o anonimato”. Antes mesmo de começar uma gestão, usar de um recurso ilegal, ou deixar que ele seja usado, não é bom para a democracia.
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