Edição 151 –
Junho/2013
Projeto Oásis
em Brumadinho
Proprietários recebem dinheiro para conservar natureza
Iniciativa de Pagamento por Serviços
Ambientais (PSA) está sendo implantada por uma parceria entre poder público e
ONGs, em região considerada prioritária para a conservação
Importante para a proteção de mananciais
que abastecem cerca de quatro milhões de pessoas e próxima a importantes
unidades de conservação, a região da Serra da Moeda, ao sul de Belo Horizonte e
leste de Brumadinho, sofre grande pressão em virtude da expansão urbana e de
atividades extrativas. No dia 25 de junho, 3 proprietários de terra de
Brumadinho participaram da cerimônia de premiação financeira do Projeto Oásis
Serra da Moeda – Brumadinho. A iniciativa de PSA premia os proprietários
que conservam áreas naturais em suas propriedades e que adotam boas práticas de
uso e conservação do solo. Quatro proprietários não conseguiram chegar ao local
da cerimônia por causa dos protestos de rua que aconteceram no dia, fechando
corredores que traziam a Brumadinho. A cerimônia aconteceu na Câmara Municipal
e contou com a presença de Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo
Boticário; Ludmila Costa Reis, promotora de Meio Ambiente de Brumadinho;
Francisco Mourão Vasconcelos, conselheiro da AMDA, William Garcia Pinto Coelho,
ex-promotor de Brumadinho e incentivador do projeto; assessores do MP em
Brumadinho ; os vereadores Lucas Machado, Renata Marílian, Helbert Pena e
Reinaldo Fernandes , além dos três
proprietários de terra que receberam a gratificação.
A iniciativa é fruto de uma parceria entre
a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza com o Ministério Público de
Minas Gerais (MPMG) e com a Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente
(AMDA). A Fundação Grupo
Boticário – A
Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, organização sem fins
lucrativos cuja missão é promover e realizar ações de conservação da natureza, atua
com projetos de PSA desde 2006. Dentre
os beneficiados estava o proprietário da Reserva Particular do Patrimônio
Natural (RPPN) Sítio Grimpas (estrada que liga Casa Branca a Piedade do
Paraopeba), Dorivaldo Damascena, que disse estar feliz com o reconhecimento ao
trabalho realizado, ressaltando a importância da iniciativa. “Nunca havia
recebido ajuda, tudo o que fiz foi por conta própria. Portanto, trata-se de um
incentivo importante para a conservação da natureza”, afirmou. A propriedade de
Damascena tem cerca de 10 hectares e um manancial, que abastece o Ribeirão
Catarina. “É um espaço circundado por áreas urbanizadas, mas com boa taxa de conservação.
Inclusive, fazem soltura de animais no local e eu até construí um viveiro para
os pássaros que não conseguem voar se abrigarem”, lembra.
Os outros beneficiados presentes à
cerimônia foram Sônia Maria Pires, proprietária do Ilha Verde, na Portaria II
do condomínio fechado Retiro do Chalé; e Pedro Rosa, da Cachoeira da Boa Vista,
em Marques.
Considerando todas as propriedades
contratadas, o Projeto Oásis Serra da Moeda – Brumadinho protege uma área de
125 hectares de mata nativa, que abriga dez nascentes de rios. Elas estão todas
localizadas no bioma Mata Atlântica, que aqui região conecta-se com o Cerrado.
Região é prioritária para a conservação
A escolha de Brumadinho justifica-se pela
sua importância na proteção de mananciais e também pela possibilidade de
formação de corredores de interligação de unidades de conservação da região.
Além disso, a região da Serra da Moeda está situada em uma área prioritária
para conservação. Segundo o Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da
Diversidade Biológica (PROBIO), do Ministério do Meio Ambiente, ela é
classificada como área de prioridade extremamente alta, pois é uma área com
grande quantidade de fragmentos florestais contínuos, que formam a Área de
Proteção Ambiental Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte (APA Sul).
Apesar de sua importância para a
conservação, a região de Brumadinho sofre grande pressão da expansão urbana, da
especulação imobiliária e principalmente da mineração. Prova disso é a quebra
de braço entre a empresa Ferrous e ambientalistas. “Isoladamente, as
estratégias de comando e controle direcionadas à repressão de atos ilícitos na
região da Serra da Moeda já não são suficientes para se garantir a conservação
desta bacia. Neste cenário, esta primeira iniciativa de fomento e apoio a
projetos de PSA que se inicia na região marca uma nova forma de atuação do
Ministério Público de Minas Gerais, por meio da valorização da conservação da
natureza em terras privadas”, diz a Fundação.
Como funciona o PSA?
Os proprietários de Brumadinho foram
contratados pela Fundação Grupo Boticário, idealizadora do projeto. Essa é uma
ferramenta de conservação que atribui relevância às áreas naturais pelas
diversas funções que cumprem para a manutenção da vida no planeta, como
produção de água, conservação do solo, regulação do clima, manutenção do fluxo
gênico, entre outras. “Todos esses serviços ambientais são estratégicos para o
desenvolvimento do país e, por isso, a manutenção de áreas naturais que prestam
esses serviços desempenha papel crucial”, Malu Nunes. Ela ressalta que o PSA é
um mecanismo que torna a conservação mais atrativa que a sua degradação, o que
contribui para evitar o desmatamento em propriedades particulares.
Os recursos para pagamento dos
proprietários são encaminhados pelo Ministério Público de Minas Gerais e são
oriundos de medidas compensatórias, pagas por empresas condenadas por infrações
ambientais. Segundo informou à reportagem do de fato a Diretora Executiva,
esses valores variam de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 96.000,00 (noventa e seis
mil reais) por ano, pagos em duas parcelas semestrais.
Para o biólogo Francisco Mourão,
conselheiro da AMDA, “por meio do Projeto, importantes corredores de
conectividade ambiental poderão ser viabilizados, fortalecendo as ações de
implantação de mosaicos de áreas protegidas, incluindo aspectos de proteção da
biodiversidade e de mananciais de água para toda a região".
Em dezembro de 2012, o Projeto Oásis
Brumadinho – Serra da Moeda foi premiado no 11º Prêmio Furnas Ouro Azul,
promovido pelos Diários Associados, que edita o jornal Estado de Minas e
patrocinado pela Eletrobras Furnas. A instituição ficou em 2º lugar na
categoria Comunidade, em que participam ONGs e associações comunitárias, com
iniciativas que valorizam ideias de proteção e uso racional dos recursos
hídricos em Minas Gerais.
Os proprietários que ainda se interessarem
pelo projeto podem procurar a Fundação e seus parceiros para tratar da questão.
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