Edição 158 –
Janeiro/2014
Editorial
Em defesa do Rolezinho
A bola da vez são os “Rolezinhos”. A
Wikipédia ainda não registrou, mas trata-se de um passeio que a garotada –
idade por volta dos 15 anos - faz aos shoppings, especialmente das grandes
cidades, mas também de médias como Betim e Contagem. Até aí tudo parece muito
normal, afinal, os shoppings foram criados como espaços para vender, vender e
vender, com uma fórmula capitalista muito bem pensada para atrair as pessoas:
junto às centenas de lojas – em espaços amplos, corredores largos munidos de
bancos -, a Praça de Alimentação e o cinema, e, dependendo do shopping, algum
outro espaço de entretenimento. E se é “normal”, se os shoppings foram
construídos para serem visitados, porque a garotada – que, diga-se de passagem,
são os mais sensíveis ao consumismo – não pode mais frequentá-los? Por que os
shoppings têm buscado autorizações da Justiça para proibir a entrada e
permanência desses jovens?
A questão não é que os jovens não possam
frequentá-lo. A questão é “o tipo de jovem”. A garotada que virou notícia
nacional, protagonistas do “Rolezinho”, é formada em sua grande maioria de
negros, mora nos morros, tem cabelo pintado de amarelo ou com algum estilo
muito pessoal, fala uma língua cheia de gírias, tem muita alegria e energia,
muito dela consumida na sua música preferida, o funk. Na última década, sua
família usufruiu da política de distribuição de rendas implementada pelo PT, no
governo Lula e, agora, por Dilma. Seu
irmão entrou na Universidade (PRO-UNI, SISU, FIES etc), sua família melhorou de
vida, tem mais, bebe mais, comprou TV de LCD, aparelho de som, muitos compraram
carro. Porque a vida da família melhorou, a da garotada também, o que é
traduzido em mais roupa, mais tênis, mais dinheiro para os cabelos, para o
computador e o smartphone. E é aí que entra o X da questão.
Todos sabem que o Rolezinho é articulado a
partir das redes sociais. Com a idade que tem, essa garotada quer se
relacionar, conversar, “trocar ideia”, paquerar, “ficar”. Ora, a mesma política que aumentou sua renda
nada fez - – ou quase nada – para melhorar substancialmente os serviços básicos
de que essa garotada necessita: acesso a uma Educação de qualidade, aos bens
culturais, à Saúde de qualidade, às atividades físicas e ao lazer. Sem essas
opções, sobraram o computador e o smartphone. Sem opções de espaços de lazer em
suas comunidades, restou o shopping, com sua sedução de consumismo. E é pra lá
que eles foram.
Reinaldo Fernandes
Editor
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Mas, se aumentou sua renda, se a família da
garotada pode, inclusive, fazer curso superior, a qualidade da Educação
continua a mesma, ou seja, não tem qualidade. A consequência é uma sociedade
com mais dinheiro no bolso, mas com os velhos preconceitos, as velhas ideias, a
mesma discriminação de sempre. A sociedade chega mesmo a esquecer de que a
garotada tem algum dinheiro para gastar no shopping: o preconceito é tamanho
que se esquecem deste detalhe e se lembram apenas de que eles são do morro, que
têm cabelo amarelo, falam gírias, gostam de funk e que o shopping ficaria
melhor – e mais bonito – sem eles. É por
isso que querem proibi-los!
“Beira o ridículo negar a inclusão social
promovida pelo PT. Foi substancial”, afirma Renato Janine Ribeiro, professor
titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. No entanto,
a inclusão se deu pelo que nossa sociedade consumista mais valoriza, o consumo.
Para ir além, é preciso que o Poder Público tenha a necessária coragem de
apostar na melhoria dos bens públicos, especialmente das opções de lazer,
cultura e qualidade na Educação. Uma Educação que aponte para a construção de
um outro mundo, para além do consumismo, para além dos velhos preconceitos. Um
outro mundo é possível!
Enquanto isso... Viva o Rolezinho!
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