Edição 158 –
Janeiro/2014
Opinião
A gente não quer só dinheiro...
Com a
virada de ano, as promessas e superstições para atrair dinheiro tomam conta dos
brasileiros. É como diz a tradicional música de ano novo: “muito dinheiro no
bolso...”. Se na esfera privada, os sonhos são importantes para tocar a vida e
avançar para um futuro melhor, na esfera pública, mais ainda. Em matéria de
orçamento, Brumadinho está com o bolso cheio. Recursos é o que não parece faltar
para o governo da nossa cidade tomando-se em conta a realidade de municípios de
mesmo porte no Brasil.
Porém,
como na vida pessoal, nas questões de interesse público, o sonho pode virar
pesadelo, pois “dinheiro na mão é vendaval”. Alguém deve estar se perguntando
como as sábias palavras do samba imortalizado por Paulinho da Viola podem
representar algo ruim, se para muitos desafios da cidadania no Brasil o
problema maior é o orçamento. Com recursos, saúde, educação, segurança pública
e tantas outras agendas de políticas públicas seriam equacionadas. Sem
dinheiro, os problemas se avolumam como já estamos habituados a ver em nossa
triste sina de cidadãos tupiniquins, em nossa cidadania pequena como diria
Pedro Demo.
Porém,
“a gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro e felicidade...”. Nessa
outra música importante de nossa cultura, os Titãs nos alertam para o sentido
da vida. E, em termos de vida pública, o sentido da vida é a ética. Tanto que
para pensadores gregos clássicos como Aristóteles e Platão, que ajudaram a
moldar a cultura do mundo ocidental, ética é representada pela felicidade, que
por sua vez é entendida como bem viver em conjunto na pólis, ou seja, na
cidade. Daí, a essência da tão desgastada, mas tão necessária palavra
“política”: viver e agir na pólis em busca da ética, do bem viver em conjunto,
para conquistarmos nossa felicidade como povo, quer seja de Brumadinho, quer
seja do Brasil ou como cidadãos do mundo.
Para
avançar além do rico orçamento de nossa cidade e conquistarmos a cidade na qual
todos sonhamos e merecemos viver é preciso que nossa sociedade se reinvente em
termos democráticos cotidianamente. Não basta apenas que nos regozijemos com os
recursos que temos e que outros municípios não têm e deixemos para que o
governo nos informe o que pretende fazer com tão volumosa quantia. Em ambientes
nos quais os cidadãos não se mobilizaram para construir propostas de ação em
conjunto com o governo, cobrar o direito à informação orçamentária clara e
acessível para todo e qualquer cidadão, independentemente de seu grau de
conhecimento contábil e financeiro, e punir desvios, má conduta e inapetência
gerencial pública, o orçamento mais rico não resultou em melhores políticas
públicas. Em muitos casos, como já vimos presenciamos várias vezes em
Brumadinho, esse orçamento mais polpudo apenas ajudou encher os cofres
privados.
Então,
como votos de feliz 2014, desejo um ano novo cheio de boa política democrática
para todos nós em Brumadinho, atuando de forma proativa na construção de um
orçamento público que seja participativamente discutido, represente os efetivos
interesses públicos, seja implementado em colaboração com a população, se faça
alvo da prestação de contas para além das obrigações judiciais e permita a
todos nós nos tornarmos mais senhores de nossa cidadania.
Armindo dos Santos de Sousa Teodósio (Téo)
Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração da PUC Minas
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