Narcio Rodrigues
e outras 14 pessoas viram réus no caso Hidroex
Ministério Público apresentou denúncia por envolvimento
em crimes como fraude a licitação, organização criminosa, peculato, lavagem de
dinheiro e por embaraçar investigações
No final de junho, a Justiça
de Frutal aceitou duas denúncias do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG)
contra o ex-presidente do PSDB-MG, Narcio Rodrigues, e outras 14 pessoas.
Agora, eles são réus e acusados de envolvimento em crimes como fraude a
licitação, organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e por embaraçar
investigações. Aliado de Nárcio, o delator Firmino Antônio Guerreiro Vieira Monteiro
Rocha terá que devolver aos cofres públicos R$ 5 milhões.
Licitação direcionada
Um das denúncias aponta que a licitação para a
construção do complexo "Cidade das Águas" foi direcionada para
beneficiar a Construtora Waldemar Polizzi Ltda (CWP).
O edital previa cláusulas que restringiram a
competição e afastaram outros licitantes. Assim, apenas cinco empresas
apresentaram propostas, apesar de 32 acessarem o edital e 16 realizarem visitas
técnicas ao local.
Destas cinco, quatro foram inabilitadas por
não preencherem os requisitos do edital. Assim, apenas a CWP foi habilitada
para o negócio, que foi assinado por dois dos denunciados.
Organização criminosa e desvio
Sete pessoas, incluindo Narcio Rodrigues,
foram denunciadas por organização criminosa por desvios de recursos público
ocorridos desde 2011 na execução do contrato com a CWP.
Segundo o MPMG, a organização era chefiada por
Narcio, idealizador da Fundação Hidroex, com participação de outros funcionário
da secretaria e também representantes da empresa CWP.
A denúncia diz ainda que a organização
criminosa "adotava estratégias para ocultar a prática de desvios". E
completa: "os pagamentos ilícitos eram calçados por medições durante a
execução do contrato que não correspondem à realidade".
A conclusão de uma equipe técnica da
Controladoria-Geral do Estado (CGE) é que o esquema causou um dano aos cofres
públicos de R$ 8.771.734,66.
Embaraçar as investigações
Na denúncia, há também destaque para uma
apuração que diz que três dos denunciados atuaram, entre 2015 e 2016, para
embaraçar as investigações do MPMG e da CGE e ocultar o esquema por meio de
falsificação de diários de obras.
Segunda denúncia
A outra denúncia acatada pela Justiça de
Frutal é sobre uma acordo ilícito informal de Narcio Rodrigues com o grupo
português Yser para desvio de recursos públicos em troca de benefícios
financeiros e financiamento de campanha. Outras seis pessoas foram denunciadas.
O MPMG apurou que Narcio, então secretário de
Estado, solicitou aos representantes do grupo português, o pagamento indevido
de R$ 3 milhões para financiamento de campanha eleitoral.
Eles aceitaram participar do esquema e
pediram, em troca, benefícios no valor de R$ 15 milhões por meio de
"financiamento a fundo perdido" (doação de dinheiro por parte do governo
de Minas) e de um terreno de 20 mil m²;
De acordo com investigação do MPMG, Narcio
"solicitou e recebeu do grupo, através de um intermediário, no segundo
semestre de 2012, R$ 400 mil euros para suposto financiamento de
campanha".
A propina e paraísos fiscais
O pagamento de propina, ainda segundo
denúncia, ocorreu através de uma "estruturação" em paraísos fiscais
como Samoa e Hong Kong. Estruturação
é um fracionamento de uma grande quantia em pequenos valores visando escapar do
controle de grandes movimentações financeiras e dissimular a origem e o destino
do valor transferido.
Em 2014, em contrapartida ao pagamento de
propina, sete denunciados desviaram R$ 4.747.136,00 para a empresa SRN
Comercial e Importadora e Exportadora SA, que integra o Grupo Yser, e R$ 250
mil para a Fundação de Amparo à Pesquisa de Universidade Federal de São João
Del Rei (Fauf).
Na denúncia, em 2014, Narcio ainda recebeu de
representantes da Yser R$ 259 mil.
Para
entender:
Narcio
Rodrigues e Brumadinho
Ex-presidente
do PSDB mineiro, de 2004 a 2007 e de 2009 a
2011, o deputado preso é aliado do ex-prefeito Nenem da ASA (PV), que está
inelegível por ter doado R$ 160 mil ao PSDB. Nenem o considera “um
cidadão brumadinense”, e o deputado preso desde 30 de maio diz: “Nenem tem o
meu apoio!”
O deputado
do PSDB foi Secretário de
Estado de Governo de Antônio Anastasia (PSDB), pertence ao núcleo de Aécio
Neves, e é pai de outro deputado apoiado por Nenem da ASA, Caio Nárcio (PSDB).
Nenem da Asa e Nárcio Rodrigues
Nenen da ASA e o amigo que agora está preso por corrupção, Narcio Rodrigues (PSDB) |
Nenem da ASA (PV) é aliado da família do preso desde 2010,
quando apoiou Nárcio Rodrigues para deputado federal. Em vídeo gravado em apoio
à candidatura de Nárcio Rodrigues, Nenem da ASA (PV) enaltece o prisioneiro, dizendo: “Eu considero o Nárcio como um
cidadão brumadinense. Estamos apoiando mesmo Nárcio Rodrigues.” No vídeo (disponível
em https://www.youtube.com/watch?v=HzutUoha7O4)
Nenem diz que “Nárcio Rodrigues tem nos ajudado na construção do novo
hospital”. Até hoje o hospital está inacabado e se acabando no meio do mato,
apesar da construtora, ligada à família de Nenem ter recebido quase R$ 9
milhões pela obra. Quase três mil brumadinenses
(2.801) votaram em Nárcio Rodrigues (PSDB).
Já em
2014, o ex-prefeito retribuiu Nárcio Rodrigues (PSDB) e apoiou seu filho, Caio
Nárcio (PSDB). Desta vez, 1.628 brumadinenses votaram em Caio Nárcio (PSDB).
Como numa grande amizade, Nárcio Rodrigues (PSDB) retribuiu
o apoio de Nenem da ASA (PV), apoiando-o na reeleição em 2012. Em vídeo gravado para a campanha (disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ERbRG5Xwq7c),
Nárcio fala uma série de mentiras, e afirma que ajudou muito Brumadinho. Uma
das mentiras diz respeito à água: “Graças à nossa ação, Brumadinho recebeu 100%
de água tratada em Brumadinho”, o que ele chama de uma das “conquistas
extraordinárias”. Afirmando que aquela
era uma conquista “extraordinária” era dele e de Nenem, disse: “Nenem tem o meu
apoio!” No entanto, como se sabe, Brumadinho nunca teve água tratada para
metade da população.
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