Edição 194 – Janeiro 2017
Editorial:
A Demagogia e a Demagoga de plantão
"À mulher de César
não basta ser honesta, deve parecer honesta"
A frase acima tem origem na Roma do séc. I
a. C., no episódio em que César se divorcia de
Pompeia, sua esposa, sob a alegação de que "minha esposa não deve estar
nem sob suspeita": pairava a dúvida, sem nenhuma prova, de que Pompeia
poderia ter sido seduzida pelo jovem Públio Clódio. Desta frase derivou outra:
"À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta". E
desta, resultou outra muito ensinada
pelo líder da Revolução Burguesa da França, Nicolau Maquiavel, “Mais importante do que ser é parecer ser.” Esta, por sua vez, muito utilizada na política brasileira.
Segundo Maquiavel, não
é necessário ter todas as qualidades, mas é indispensável parecer tê-las. “Se
as tiver e utilizar sempre, serão danosas, enquanto, se parecer tê-las, serão
úteis. "...empenhar-se para
que, em suas ações, se reconheça grandeza, ânimo, ponderação e energia",
ensina o autor de “O Príncipe”. É ele também que ensina: “Fazei o mal, mas
fingi fazer o bem” e “Lograi o próximo toda vez que puderdes.”
A isso, chamo “demagogia”, um termo mais
moderno, embora de origem grega. Demagogia significa
"arte ou poder de conduzir o povo". “É uma forma
de atuação política na qual existe um claro interesse em manipular ou agradar a
massa popular, incluindo promessas que muito provavelmente não serão
realizadas, visando apenas a conquista do poder político ou outras
vantagens correlacionadas.”
A (o) demagoga
(o) usa essa “estratégia de
condução político-ideológica, valendo-se da utilização de argumentos
apelativos, emocionais ou irracionais, ao invés de argumentos racionais para
proveito próprio.” Trata-se
de manipulação da população pelo uso de aparentes argumentos de senso comum entremeados com falácias, falsas
verdades.
A demagoga
aparenta humildade ou honestidade para atrair o reconhecimento ou admiração dos
outros.
No livro
"A Política", Aristóteles aponta a demagogia como a corrupção da
democracia. Nos dias de hoje a democracia é corrompida graças, também, à
demagogia quando políticos (vereadoras, prefeitos, deputados etc) - que
deveriam servir ao povo - utilizam estratégias para enganá-lo, fazendo
promessas que nunca serão cumpridas, tudo para o seu próprio benefício.
A política
demagoga é aquele tipo de gente que vive postando fotos no face book enquanto
participa de uma reunião ou evento: muitas vezes, não está colaborando em nada
com o evento (isso quando não está atrapalhando!). No entanto, na foto, parece
(“Mais importante do que ser é parecer ser.”) que está contribuindo para aquela reunião.
Aliás, a demagoga chega num evento depois que ele já se iniciou, fica dez
minutos, pede a alguém para fotografá-la, envia para o face, e se retira.
Porque, o importante, mesmo, não é apoiar o evento, mas parecer que apoia.
Outro exemplo seria (mera suposição, é claro!): a demagoga
chega para a senhora, mesmo que seja num velório, momento de dor (“utilização de argumentos apelativos, emocionais”), abraça-a e diz: “Nossa, a senhora está muito bem! E suas
filhas, como vão?”, embora aquela senhora nunca tenha tido filhas. A demagoga
não se importa com aquela senhora e sua família. Mas isso não é importante! O importante é parecer que ela se preocupa com aquela senhora, com
seus eleitores, com a população.
Outro
exemplo de demagogia, a título, assim, de argumentação teórica, mera suposição:
uma demagoga chega para a moça e diz: “Oi, Fulana! (dando dois beijinhos, igual
Judas em Cristo...) Cadê o namorado?” A que a moça responde: “Não tenho
namorado.” E como a demagoga é uma “cara de pau”, sempre preparada para
enganar, sorri e acrescenta: “Não tem porque não quer, porque você é linda!”
Os demagogos, e as demagogas, são assim.
Aprovam uma lei para beneficiar servidores
públicos, para fazer demagogia com dinheiro do cidadão. E quando são pegos “com
a boca na botija” pelo Ministério Público dizem para os servidores: “É um
absurdo esse MP, exagerado, era só uma forma de ajudar vocês, de melhorar a
vida de vocês!” e recebem os abraços dos incautos, inocentes ou, por vezes,
outros igualmente demagogos.
Os demagogos – e as demagogas – criticam um
projeto de lei por seu conteúdo. Embora tenha agido da mesma forma alguns meses
antes.
“Agradar a
massa popular, incluindo promessas que muito provavelmente não serão
realizadas”: a demagoga fala o que o povo quer ouvir, mas não fala o que o povo
precisa ouvir. Vamos supor outra situação: a demagoga promete protocolar um
Projeto de Lei para que todos possam ter um carro particular do SUS para
levá-los a BH, embora saiba que essa é uma proposta inconstitucional e que o PL
não será aprovado. Outro exercício retórico: a demagoga promete protocolar um
Projeto de Lei para que todas as meninas possam
receber gratuitamente a vacina contra o HPV nas escolas de Ensino Médio (onde
há jovens que votam!). Embora a demagoga saiba que a vacinação gratuita para o
HPV seja apenas para meninas de 11 a 13 anos de idade e saiba que essa é uma proposta inconstitucional e que o PL não será
aprovado. Mas isso, também, não é importante: o importante é “parecer” que quis
defender os interesses do povo e dos eleitores. Depois diz: “Eu tentei, gente.
Eles é que reprovaram meu projeto!”
Reinaldo Fernandes
Editor
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“Fazei o mal, mas
fingi fazer o bem”: o demagogo é um enganador! Quando você, caro leitor, se
interessar por aquele que você acha que pode ser uma demagoga (o), acompanhe
seu trabalho, fiscalize. Você vai descobrir que fala demais, faz de menos. O
grosso mesmo, do que “parece” fazer, não faz! São fotos, discursos, enganação:
demagogia. Minha mãe não era grega. Nem romana. Mas era sábia: “O fundo da
panela quem conhece é a colher!”
Boa leitura
do de fato, edição nº 194, ano 19 de circulação!
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