Edição 194 – Janeiro 2017
Opinião:
Mistérios rondam
a morte de Theori Zavascki
Amadeu
Roberto Garrido de Paula*
Um
avião deixa o Campo de Marte num momento de chuva intensa, expõe-se a fortes
chuvas no início da tarde em Parati, aeroporto sem condições de aterrissagem
salvo por meio visual, desprovido de mínimas condições tecnológicas para operar
nessas circunstâncias. As chuvas em Parati perderiam intensidade, como
efetivamente perderam, minutos ou horas depois, o que afastaria o risco. Imprudência
de jovens aventureiros, mas absolutamente inadmissível, estando na aeronave o
nome mais importante na operação lava-jato, o procedimento policial e criminal
mais importante na história do Brasil.
É
certo que pelo menos o corpo de uma mulher, ainda no começo da manhã desta
sexta, ainda se encontra na aeronave. Os primeiros agentes salvadores
procuraram retirar os destroços das águas, porém receberam ordem da aeronáutica
de deixá-lo como se encontrava, "para facilitar a perícia". Ora, em
mais longas horas sob a ação da intempérie e das naturais oscilações do mar
tais destroços sofreram os efeitos de causas supervenientes. A perícia se
prejudica, ao invés de ser facilitada.
O
macabro está em deixar no interior da aeronave o corpo feminino, de cerca de
vinte anos (notícia veiculada pela imprensa), supostamente morto. Supostamente
porque não foi resgatado para certificação dos sinais tanatológicos de certeza,
e, em caso positivo, para a indispensável necropsia. O único indício da morte
está em que a vítima deixou de responder, o que é simplesmente grosseiro no
campo da medicina legal. A hipótese de morte decorrente da suposição e da
inércia em se retirar o que restava do avião do mar não pode ser
definitivamente descartada.
Por
outro lado, há notícias de mais dois corpos desaparecidos e parcas informações
de busca. Os nomes dessas três pessoas não foram divulgados. É impossível que a
empresa proprietária da aeronave, que conduzia seu Presidente, e o sistema
administrativo do Campo de Marte, não disponha desses elementos. Segredo de
Estado, a ser divulgado depois de mais de duas décadas ao povo
brasileiro?
É
possível que essa conduta tenha em conta preservar a reputação das vítimas
identificadas, principalmente a do impoluto Ministro Teori, mas isto está longe
de ser uma justificativa para as ações adotadas, especialmente porque o que
eventualmente resvala para o terreno de moralidade ou de preconceitos não pode
influir na segurança jurídica.
Em
suma, é cruel não resgatar de imediato um corpo preso nos destroços e deixar
que se deteriore, sobretudo sem certeza sobre a preservação de sinais vitais. É
homicídio marcado por dolo eventual, caso a perícia superveniente possa
determinar com precisão a hora da morte, considerado, agora, o estado de
decomposição do corpo.
A Aeronáutica e
outras autoridades têm esclarecimentos a prestar, diante de circunstâncias do
fato que foram pulverizadas por um lava-jato.
*
Amadeu Roberto Garrido de Paula é
Advogado e membro da Academia Latino-Americana de Ciências Humanas.
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