Edição 195 – Fevereiro 2017
Editorial
O
cinismo sem limites
Fui vereador ao lado da vereadora
Alessandra do Brumado por quatro anos. É uma vereadora que trabalha, ninguém
pode negar, embora seja conservadora e com posturas de direita, e, em minha
opinião, não contribua para que a política e os políticos sejam melhores.
Atuei, também, durante quatro meses, junto com Toninho da Rifel e
não tenho o que reclamar dele. No entanto, esse vereador ficou 8 anos
inelegível, por ter praticado improbidade administrativa (nome bonito para quem
desvia dinheiro público) durante sua presidência na Câmara, ao contratar, de
forma ilegal, uma assessoria para concurso público: o concurso não aconteceu, a
população não teve seu suado dinheiro devolvido até hoje, e Toninho da Rifel
ficou inelegível; recentemente houve o episódio em que ele demitiu os
trabalhadores de sua empresa, não pagou o acerto e é acusado de não ter
depositado descontos como o Fundo de Garantia.
Já
o vereador Ninho (que queria pagar R$ 330.000,00 numa iluminação de Natal e foi
contestado na época pela Alessandra do Brumado, quando ela era de “oposição”),
é investigado pelo Ministério Público Estadual em várias questões, resultado,
também, de sua gestão frente à Câmara.
Outro investigado é Xodó, por receber horas
extras e gratificações ilegais da prefeitura.
Atuei também junto com Zé Raimundo e Juca
Dornas. O primeiro sempre se alinhou a qualquer um que estivesse no poder
executivo e cumpriu suas ordens. O segundo foi um bom vereador de 2001 a 2004,
muitas vezes indignado com as safadezas do prefeito, mas parece ter mudado de
lá para cá.
Todos esses seis votaram para aumentar seu
próprio salário em R$ 735,00, aumentando-o de R$
7.480,62 para
R$ 8.215,00. A gente já conhece essa turma e deles não se esperava uma postura
muito diferente. Mas foram acompanhados por mais quatro “novatos”: Flávio
Flecha, Geada, Ivam do Aranha e Bruno Fernandes.
O que nossos vereadores fizeram é
completamente indefensável! Quando a notícia do projeto de autoria de
Alessandra e Toninho da Rifel caiu na rede social houve uma reação imediata das
pessoas, posicionando-se contrariamente a esse absurdo. Os vereadores ficaram
sabendo dessa reação, é claro. Esperava-se, então, que refletissem em sua
atitude, percebessem que era errado o que queriam fazer, além de ser ilegal, e
voltassem atrás. Foi o que fizeram? Não, pelo contrário.
Os vereadores agiram, me perdoem dizê-lo,
de forma cínica: deram uma banana para seus eleitores e para a população em
geral. Não quiseram nem mesmo dar tempo a si próprios para refletirem: correram
para colocar o projeto em pauta, na surdina, às vésperas do Carnaval, para se
darem um aumento de 735 reais; sem publicar o PL no site da Câmara, e sem
contar para nós, população, quem votou a favor e quem votou contra. Quem sempre
combateu a falta de transparência agora faz o mesmo: Alessandra escreveu no
DOM: “Confira a votação completa no site www.cmbrumadinho.mg.gov.br.”
Mas no site não havia uma linha sequer sobre quem aprovou esse aumento! E o
cinismo continuou: “A próxima reunião está agendada para o dia 6 de abril, às
19h. A sua participação é muito importante!”
O cinismo não tem limites! Agiram de forma
cínica e desprezível, desprezaram a população, ignoraram que vivemos em tempos
de desemprego, ignoraram que os servidores públicos municipais não tiveram um
centavo de reajuste no ano passado, ignoraram a falta de remédios para a
população, ignoraram a chamada crise econômica, votaram um projeto de lei
ilegal, inconstitucional, e, em nossa opinião, imoral. Alguns desses vereadores,
que eles me perdoem a franqueza, jogam a própria história na lata de lixo.
Contribuem para que a população desacredite nos políticos e os coloquem todos
no mesmo saco.
Quando era para beneficiar a população
votando pelo fim da Taxa Ilegal de Iluminação Pública, vereadores como
Alessandra do Brumado, Ninho e Xodó votaram contra dizendo que o projeto era
inconstitucional. Agora, mesmo com a própria Assessoria Jurídica da Câmara
dizendo que era inconstitucional e desrespeitava até a nossa Lei Orgânica,
votaram a favor. Ou seja, quando é para aumentar seus próprios salários para R$
8.215,00, eles não estão nem aí para a inconstitucionalidade. Não estão nem aí
para quem os elegeu!
Quanto aos que votaram contra o aumento
para R$ 8.215,00 (Max Barrão, Hideraldo e Caio César), merecem nossos parabéns.
Agiram, no nosso entender, de forma correta, honesta e corajosa. Deles, agora,
esperamos coerência: que se recusem a receber esses 735,00 (R$ 37.000,00 ao final do mandato), mesmo
prevendo que a Presidência da Câmara dirá a eles que “não tem jeito de não
aceitar por causa do sistema da folha de pagamento, blá, blá, blá, blá.” Creio
que, se não agirem assim, recusando-se a receber mais esse privilégio, passarão
à população a ideia de que foram piores do que os outros: votaram contra apenas
porque sabiam que o aumento seria aprovado mesmo, que já havia votos
necessários (sete) para ser aprovado. Votar contra e depois usufruir do
privilégio os tornaria, nessa questão, piores do que Alessandra do Brumado, Toninho
da Rifel, Ninho, Xodó, Zé Raimundo, Juca Dornas, Geada, Bruno Fernandes, Ivam
do Aranha e Flávio Flecha.
Reinaldo Fernandes
Editor
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário