Edição 205 – Janeiro 2018
Cássio Prado lança mais um livro
“Pipilar de Um Pardal – Escritos”, da CreateSpace
Amazon, 282 páginas, Nov/2017, traz textos publicados no jornal de fato e
outros espaços; Editor do Jornal de fato participa da obra analisando um
conjunto de poemas do autor
Cássio Vilela Prado é natural de Itaúna.
Para se tornar bancário – onde ficou de 1987 a 1996 -, abandonou os cursos de
Engenharia Mecânica e Direito. Em 2002, aprovado em Concurso Público da Prefeitura,
instalou-se em Brumadinho e agora mora no bairro de Lourdes. O psicólogo Cássio
é especialista em Clínica, participa da luta antimanicomial (desconstrução do modelo hospitalocêntrico e avanço no
trato da atenção, do cuidado e da inserção na sociedade) no tratamento de
cidadãos em sofrimento mental.
Em
o “Pipilar de Um Pardal”, “o ainda
comunista” e “anarquista conservador” Cássio Vilela mistura política,
psicologia, linguística, psicanálise, poesia, literatura.
Atual
e atento ao momento político porque passa o País, “Pipilar
de Um Pardal” traz
uma série de textos em que Cássio refletiu sobre o “Golpeachement”, como Golpe
de Estado: um olhar kafkiano, Quem são os inimigos do Brasil, Impeachment ou
canibalismo: um viés psicanalítico, A doença do ressentimento e a violência de
um golpe consentido, O golpe jurídico agoniza... É um bom registro histórico:
assim não corremos o risco da fala única do MEC do DEM registrar nos livros de
história para as futuras gerações que houve um impeachment.
Na poesia, “Pipilar de Um Pardal” registra poemas como Latinha Levada, Tela
invisível, Uma estrela nenhuma e O último poema, participantes de Concursos de
Poesias realizados pelo jornal de fato. Essas e outras são analisadas pelo
Editor do Jornal, Reinaldo Fernandes, captando o que ele chamou de “poesia para
declamar, porquanto feita de sonoridade; para saborear, porquanto feita no
supermercado; para pensar, porquanto nietzschiana”. Um poeta “inquieto, um
turbilhão, um vulcão. Preparado para entrar em erupção a qualquer momento, com
um novo livro, sempre mais eruptivo do que o anterior.”
“O escritor Cássio Prado é o nosso Thomas Morus: tal o renascentista
inglês, ele lê pelo avesso a loucura dos homens e lança-lhes ao rosto a
obrigatoriedade de serem ‘utópicos”, vale dizer, em acepção concordante com a
segunda das virtudes teologais, não perderem jamais a esperança em si mesmos,
enquanto seres agregários, socializáveis e históricos”, diz dele o poeta e
psicanalista José Marcus de Castro Mattos.
Então,
se você, caro (a) leitor (a) quer a leitura completa de “Pipilar de Um Pardal”, adquira-o pelo site da Amazon. Mas saiba: é preciso
ter coragem para ler Cássio Vilela Prado. Ele vai joga na nossa cara “a
obrigatoriedade de sermos ‘utópicos”, a necessidade de não perdermos jamais a
esperança em nós mesmos, enquanto seres históricos que somos.
Acompanhe
abaixo a entrevista que o autor concedeu ao jornal de fato:
de fato: Você tem lançado vários livros.
Quantos lançou ultimamente?
Cássio Vilela Prado: Iniciei
a escrita do meu primeiro livro em agosto de 2014, concluído e publicado pela
Amazon em maio de 2015, de nome “O olhar de um instante: matéria, sujeito e
representação”. O segundo livro escrito foi no final de 2015: “E você, foi
cagado ou parido? Descubra antes de morrer”, onde trato de alguns temas
importantes como Religião, Álcool e Outras Drogas (lícitas e ilícitas),
Psicoterapias, Instituições, Política... O terceiro livro foi: “Pipilar de um
pardal: escritos”, do qual falo mais abaixo, na pergunta 3. Aproveito, desde
já, para manifestar os meus agradecimentos pela honrosa participação do Editor
do Jornal de fato como um dos comentaristas do livro assim como agradeço aos
demais colaboradores de Minas e de outros estados do país. O quarto livro, escrito e publicado em 31 de
março de 2016, também foi escrito bem rápido: “O golpe na Presidenta Dilma
Rousseff: Golpeachment”. Nunca vi tantos perversos e alienados juntos,
fantasiados de verde-amarelos. Atualmente, desde meados do ano passado, estou
escrevendo o quinto, ainda sem título definido, mas trata-se dos descaminhos
tomados por certa Psicologia e seus profissionais diante das “religiões
contemporâneas capitalistas”, das políticas neoliberais e autoritárias, teses
americanizadas...
de fato: Por que escrever e publicar livros?
Cássio Vilela Prado: Escrevo
para esvaziar-me. Encho-me e esvazio-me. Em termos freudianos, bem “anal”, né?
Ou um balão de ar quente, pronto para explodir e desaparecer. Quem pretende
sobreviver com a venda de livros tem que ter muito talento e patrocínio. Não é
o meu caso. Parece que a maioria dos brasileiros ainda prefere assistir à Rede
Globo, o Facebook, o Instagram (nada contra, também faço isso! Mas a vida não
pode ser apenas virtual)... Não consigo ficar sem ler (livros) e escrever, acho
que eu já teria morrido se não os fizesse.
de fato: Você diz na “Nota” (pág. viii), de
“Pipilar de Um Pardal” que “o
objetivo único desses escritos é a sua própria reunião e organização,
absolutamente mais nada.” Afinal, para quem você escreve?
Cássio Vilela Prado: Pois
é! Quando escrevi esse livro: “Pipilar de um pardal: escritos” eu sentia certa
desesperança com os rumos que a política brasileira estava tomando após o golpe
de 2016 e a concomitante instalação desse Estado de exceção que está em vigor,
dizimando a vida material, psicológica, social, simbólica dos mais simples como
eu e grande parcela do povo. Eu também tentava me recuperar de algumas perdas
importantes que tive num curto espaço de tempo da minha vida: a morte de dois
irmãos muito próximos, minha mãe, alguns amigos... Sacanagem de colegas
próximos... (risos). A distância do meu filho por questões excepcionais. Vivi
um luto intenso. Adoeci. O “Pipilar” me ajudou muito a retomar a minha vida!
Claro, a mudança da minha esposa (Ana Maria) para Brumadinho foi essencial. Fiz
uma “reunião e organização” das coisas que estavam dissociadas. Comecei pelos
meus escritos “espalhados”, fiz interação com colegas velhos e novos...
Eliminei outros... Fiz uma faxina. Sempre é bom a gente fazer faxina (risos). Neste
sentido, escrevi para mim mesmo e fiz uma abertura ao Outro (tanto o “Outro em
mim” quanto ao outro ser humano). Esse livro tem um tom cinza, todavia, com um
vislumbramento em cores mais intensas dado pelos seus comentaristas. Quando
digo “absolutamente mais nada”, acredito que se trata de uma “queda sublime”,
sem alarde, ou seja, é uma elaboração do “luto”, pois os leitores e o Outro
(excesso de imaginário e simbólico) já não tinham mais tanta importância, haja
vista que “adoecemos” por excesso ou falta do Outro. Precisamos beijar mais o
“real” sem temor. Conforme o filósofo italiano, Giogio Agamben, no livro
“Profanações”, é preciso ter mais contato com o “Genius”, esse estranho
aterrador, paradoxalmente angelical, que nos habita, sem um locus definido...
de fato: O que você quer transmitir ao
leitor com seus livros?
Cássio Vilela Prado: Sinceramente,
a transmissão de alguma coisa é um problema quando se usa apenas a linguagem
escrita ou falada. Sempre escapa a essência daquilo que mais se deseja transmitir.
Tento transmitir ao leitor para não ser babaca como eu fui em certos aspectos:
deixar de ir na onda dos outros, nos modismos, nas estéticas e éticas sociais
frívolas e supérfluas. Nunca tomar a realidade social e a política como alguma
coisa natural, divinizada, imprescindível. Sou meio pessimista (ou realista
quanto a isso?). Acho que concordo com Nietzsche: "Melhorar a humanidade?
Eis a última coisa que eu prometeria”. Às vezes a gente tem uma recaída e tenta
alguma melhora, mas sem promessa! (risos).
de fato: A publicação de livros tem ajudado
em sua vida? Em que aspectos?
Cássio Vilela Prado: Sim.
Bastante! Principalmente nos aspectos psicossociais. Gosto de muita privacidade
e também de muita “zoeira”. Depende do momento. Depois que eu vejo a “obra
publicada”, sinto muito alívio. Os psicanalistas dirão que há um “gozo” com a
escrita. Entretanto, no meu caso, tento fazer essa repetição de forma
diferente. Pensei agora no “castigo de Sísifo”, aquele personagem mitológico
que empurra uma pedra até o topo da montanha e a deixa rolar novamente ao ponto
de partida. A mesma pedra nunca
ultrapassa a montanha. É um trabalho repetitivo e continuado. Todos nós, de
alguma forma, somos “Sísifos”. Com uma diferença, para alguns há momentos nos
quais conseguem fazer a pedra atravessar o topo da montanha e rolar para o
outro lado. O problema é que depois têm outras montanhas (risos)...
de fato: Por que o título “Pipilar de um
pardal”?
Cássio Vilela Prado: Muito bem. É a expressão de certo cansaço com a fala e a escrita,
é uma “denúncia” da impotência da própria linguagem, da cultura do simbólico e
do imaginário. É uma fadiga com os signos, inclusive com a teoria do
“significante lacaniano”. “Pipilar” tem um sentido esvaziado de sentido,
próprio do mundo do “real”, do impossível, que está aquém e além da palavra,
portanto, algo do “humano, demasiadamente humano”, de Nietzsche. “Pipilar” é
também ir na direção do silêncio fônico do signo, “sussurrar sem som”, na
fronteira da cultura com a natureza, a própria natureza inanimada, mas vivaz e
soberba. É o som de um pardal sem “pedigree”, “sem dinheiro no banco, sem
parentes importantes e vindo do interior” (Belchior)... Pura sensação. “Pipilar
de um pardal: escritos” também não deixa de ser um “grito sagrado” dos excluídos.
Nesse livro, estou muito atrelado ao pensamento do filósofo Wittgenstein, em
seu "Tratado Lógico-Filosófico", “isso não pode ser demonstrado, é
algo que apenas se mostra” ou então: “aquilo que não pode ser dito, deve ser
silenciado”. Porém, “pipilemos”.
Valeu, Reinaldo!
ResponderExcluirAbraços.