Edição 154 – Setembro/2013
Câmara Municipal discute PPP do Rio Manso
Obra
é cara de desnecessária
Vereadores, trabalhadores e representantes
da diretoria da COPASA, Sindicato dos Trabalhadores e populares estiveram
reunidos em Audiência Púbica no último dia 25 para discutir sobre a proposta de
Parceira Público-Privada para o Sistema Rio Manso. O Governo do Estado (PSDB),
através de sua empresa de saneamento básico, a COPASA, quer privatizar o
sistema Rio Manso, barragem que fornece água para Belo Horizonte.
Durante a Audiência, a Câmara explicou o
que é uma PPP, o que foi feito pelo vereador Reinaldo Fernandes (PT), um dos
autores do Requerimento que solicitou a reunião.
Aberta a palavra à empresa, o diretor
de novos negócios da companhia, Cláudio Doti, defendeu a PPP, dizendo aos
trabalhadores que eles poderiam confiar no Presidente da empresa. O representante
da COPASA disse que a empresa optou pelo modelo
de PPP porque o custo da obra é alto em comparação com a demanda que existe
hoje em todo o Brasil por serviços de saneamento. Ele acrescenta que a
capacidade da empresa de fazer investimentos e captar recursos é limitada. “Além
disso, no modelo da PPP há uma divisão de riscos entre quem vai fazer a obra e
quem vai prestar os serviços.” Essa é a primeira obra feita pela Copasa via
PPP. O objetivo da obra, segundo a empresa, é ampliar a capacidade produtiva de
água do Sistema Rio Manso de 4 metros cúbicos por segundo para 5,8 metros
cúbicos por segundo. A obra envolve ampliação da barragem e do sistema de
tratamento da água e construção de uma nova adutora para distribuição. Há
previsão também de instalação de uma hidrelétrica com capacidade para gerar
1.000 quilowatts (kw) de energia para a própria unidade
Já os representantes do Sindicato dos
Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em
Serviços de Esgotos de Minas Gerais (Sindágua/MG), alertou a população para o
risco de se ter uma PPP numa área estratégica e estruturante como é o
saneamento básico.
Wagner Xavier e José Maria, do Sindágua; vereadores Renata Marilian e Reinaldo Fernandes; Cláudio Doti e Mauro, da COPASA |
Proposta cara e
sem necessidade
O Sind’Água,
representado pelo seu Presidente, José Maria e por um Assessor, Wagner Xavier
mostrou que a proposta é cara e não há necessidade da obra. Segundo os
dirigentes, um estudo encomendado pelo Sindicato e pela Federação Nacional dos
Urbanitários (FNU) aponta que a obra não seria necessária nos próximos 20 anos e
levanta a dúvida sobre a motivação da PPP.
Considerada a
segunda maior fonte de abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte
(RMBH), o sistema da Rio Manso opera com folga. Conforme o levantamento
realizado pelo economista João Batista Peixoto, atualmente o sistema produz
apenas 2.930 litros/segundo quando sua capacidade é de 4.200, o que foi
lembrado por um dos populares que usou a Tribuna na Audiência, Handerson. Além
disso, o abastecimento da Grande BH é feito integrado às bacias de Serra Azul e
do Rio das Velhas, sendo que esta última foi ampliada recentemente e passou sua
produção de 6,75 m³/s até 2011 para 9 m³/s em 2013. Some-se a isso o fato de a
COPASA “perder” 40% da água que sai do Sistema, por causa de vazamentos.
"Calculando
a produção da Copasa na Região Metropolitana, associada ao crescimento
vegetativo da população em 15 anos e o dia de maior calor, que aumenta o
consumo de água em 19%, a obra não será necessária pelo menos nos próximos dez
anos. Além disso, não contamos a ampliação feita pela Copasa no sistema do Rio
das Velhas, que abastece a mesma região, e passou a ter uma produção de
9m³/segundo, ou seja, 9 mil litros de água por segundo", explicou o
assessor da diretoria Sindágua/MG, Wagner Xavier. Já em cenários onde são considerados
a ampliação do sistema do Rio das Velhas e metas de redução de perdas na
produção, a obra de expansão em Rio Manso poderia ser feita depois de 2040.
Motivação
duvidosa
O economista João
Batista Peixoto questiona ainda a motivação da obra, uma vez que não há nenhum
Plano Regional ou Municipais de Saneamento Básico consolidados para a RMBH.
Conforme prevê a lei 11.445/2007, para que um contrato de prestação de serviço
público em saneamento básico seja firmado, é necessário um plano de saneamento
básico.
"Esse tipo
de obra, se não estiver prevista em contrato e não é o caso porque não há um
contrato com a RMBH, simplesmente não pode ser realizada. Nenhum município da
RMBH elaborou um plano que prevê medidas de saneamento básico. Apenas Belo
Horizonte tem um plano antigo, que foi atualizado recentemente, mas que não
trata da expansão do sistema produtor de água. Então, quem autoriza esse tipo
de investimento se não há um plano de saneamento básico para a região?",
questionou.
Questionamento
parecido foi feito por Inês de Assis, moradora da COHAB, ao dizer que achava
estranho que a PPP fosse proposta às vésperas das eleições de 2014.
O estudo dos
sindicalistas questiona ainda o modelo de PPP, na modalidade de concessão
administrativa, uma vez que a empresa vencedora da licitação terá dois anos
para conclusão das obras de operação e 13 de exploração do sistema. "Não
precisaria de uma PPP porque é apenas uma obra de expansão. A Copasa não vai
entregar a operação de captação e distribuição de água a outra empresa. Então,
qual atividade a empresa ganhadora irá fazer? Essa operação só foi colocada no
edital para justificar a PPP, mas a Copasa já opera uma adutora ao lado desta
que será construída. Quem opera uma, opera duas, afinal o sistema já é bastante
automatizado".
Ainda conforme o
estudo, atividades que não estão diretamente relacionadas à expansão da
produção do sistema de Rio Manso foram incluídas no edital de licitação da
Copasa. Entre elas manutenção predial, conservação de áreas verdes, serviços de
limpeza e vigilância patrimonial. Entretanto, todas estas atividades já são
realizadas pela Copasa por meio de terceirização e viola termos da Lei federal
nº 11.079/2004 que proíbe a execução de contratos de PPPs para fornecimento de
mão de obra.
Campanha contra o
entreguismo
Ao final da
Audiência em Brumadinho, Reinaldo Fernandes (PT) apontou que o representante da
COPASA não conseguiu explicar a necessidade da obra. Diante do estudo e das
lacunas não preenchidas pela Copasa durante as audiências públicas realizadas
sobre a PPP de Rio Manso, representantes do Sindágua acreditam que este edital
de licitação é uma forma de "privatizar" a água dos mineiros.
"Na época, a Copasa alegou que a PPP seria necessária por causa do
endividamento da empresa, mas o argumento é falso. A taxa de retorno da Copasa
hoje é de 13%, índice superior à maioria dos investimentos. Além disso, não tem
nenhuma empresa apta a realizar o serviço de saneamento em Minas Gerais além da
própria Copasa", disse o assessor do Sindágua, Wagner Xavier.
O Sindágua teme
que, com essa obra, a Copasa transfira aos poucos todos os empreendimentos à
iniciativa privada e entregue aos empresários o patrimônio dos mineiros. Por
isso, a entidade está realizando uma campanha contra o que chamam de
"Entreguismo". "Uma obra milionária e serviços que deveriam
continuar nas mãos da Copasa e do Estado deverão ser entregues a empreiteira, o
que deverá resultar em aumento de tarifa dos serviços em todo o Estado",
diz o informativo da campanha. A obra incialmente seria de 390 milhões, mas
depois foi “reajustada” para mais de meio bilhão de reais.
Aumento na conta
de água
Além da questão
do "entreguismo", Wagner Xavier alerta também para a possibilidade de
aumento da tarifa cobrada dos consumidores. "Esse estudo feito pelo
economista João Batista Peixoto concluiu que essa PPP tem um impacto de 3,5% de
aumento na tarifa, que pode ou não ser repassado ao consumidor, e que estará na
planilha da empresa tensionando a tarifa para cima". Esse aumento estimado
seria se os investimentos da Copasa na RMBH forem divididos entre todos os
consumidores onde a empresa atua em Minas Gerais. Caso o custo seja rateado
apenas entre os moradores da Grande BH, o aumento na conta pode chegar a 8%.
"A Copasa
fez uma argumentação oral de que não vai consideram esse custo na tarifa, mas
não nenhum documento onde consta esse compromisso. Se for seguir hoje a norma
que a Copasa utiliza, o custo vai afetar a tarifa sem trazer nenhum benefício
imediato aos consumidores. Além de ser uma irracionalidade econômica, do ponto
de vista do interesse público, essa obra toda é uma grande aberração",
concluiu o economista João Batista Peixoto.
Privatização da
COPASA
“O problema
principal da COPASA é a sua própria privatização”, apontou o Vereador Reinaldo,
acrescentando que os acionistas privados já detém 59% das ações da COPASA. “A
COPASA não fez nada em termos de obas em Brumadinho para o tratamento do
esgoto. No entanto, quando a gente questiona, a empresa diz que não tem
dinheiro. Ao mesmo tempo, publica que nos últimos cinco anos obteve lucros de
quase 2 bilhões e meio de reais”, denunciou Fernandes. Já Wagner Xavier disse
que a empresa possuiu equipe para cuidar dos investimentos da COPASA na Bolsa
de Valores de São Paulo, mas não possui equipe para receber e conversar com
prefeitos e vereadores. Nesse momento, Reinaldo explicou que os vereadores
enviaram um documento ao Presidente da empresa, exigindo sua vinda a Brumadinho
para conversar sobre as obras na cidade e sobre a relação da empresa com o
Município: “o documento foi assinado por 9 dos 13 vereadores e levamos lá em
Belo Horizonte. Mas o Presidente nem ao menos respondeu”, denunciou.
Renata Marilian,
Presidente da Câmara, lembrou o descaso da empresa com o Município. Preocupada
com a PPP, Renata orientou sua Assessoria e naquela noite mesmo os vereadores
presentes à Audiência (Hideraldo, Ronaldo Ribeiro, Aurélio, Dr. Lucas, além
dela própria e Reinaldo Fernandes) assinaram um requerimento solicitando ao MP
que acompanhe todo o processo da PPP.
Em torno de 50
pessoas participaram da Audiência, número lamentado pelo Roberto Silva, que
representa Brumadinho no Sindágua: “Fizemos uma boa convocação, mas infelizmente
a população compareceu em pequeno número”, disse ele ao de fato.
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