Edição 154 – Setembro/2013
Opinião
Brumadinho: recicla ou te devoro!
Materiais recicláveis sempre foram objeto
de negócios, muito antes das preocupações ambientais se fazerem presentes. No
passado, a presença de sucateiros que concentravam o recolhimento de materiais
recicláveis já se fazia presente. Isso se dava também em Brumadinho. Em
seguida, começaram a surgir indivíduos autônomos, muitos deles vivendo em
situação de rua, que recolhiam papeis e outros tipos de materiais valorizados
por essa rede de sucateiros.
É com o advento das cooperativas de
recicladores, que surgiram com o apoio de grupos da Igreja Católica que atuavam
com a população de rua, que vai se fortalecendo a reciclagem. Minas Gerais
assumiu grande destaque, não apenas nacional, mas internacional, sobretudo pela
presença da ASMARE em Belo Horizonte, considerada cooperativa modelo para outros
empreendimentos solidários de reciclagem. O surgimento dessa cooperativa e,
posteriormente, de toda uma rede de empreendimentos recicladores em cidades de
Minas Gerais, inclusive em Brumadinho, trouxe novos avanços e capacidade para a
luta pela inclusão social e produtiva dos catadores.
Atualmente, o mercado de reciclagem se
estabeleceu e os materiais recicláveis adquiriram maior valor econômico,
despertando o interesse de pessoas e grupos que atuam em paralelo com as
cooperativas já existentes. Um problema da maioria absoluta das cidades
brasileiras é que a coleta seletiva e a reciclagem se mantiveram restritas
diante do grande volume de resíduos gerados.
Com a alteração do marco legal da gestão de
resíduos sólidos no Brasil, a partir da Política Nacional de Resíduos Sólidos,
que determina o fim dos lixões até 2014, a urgência de avanços mais
significativos na coleta seletiva e reciclagem torna-se mais evidente. A Região
Metropolitana de Belo Horizonte permanece como uma referência, tanto pela
presença da CATAUNIDOS, uma rede de empreendimentos solidários de reciclagem
que envolve também a cooperativa de Brumadinho, como também pela atuação de
lideranças do Movimento Nacional de Catadores e Recicladores.
As tentativas atuais do governo de Minas
Gerais de estabelecer as controversas Parcerias Público-Privado (PPPs) na
gestão de resíduos sólidos trazem elementos que têm gerado muitas
controvérsias, mobilizando cooperativas, organizações da sociedade civil, ONGs
internacionais, ativistas ambientais e políticos na luta por uma reciclagem
solidária. O grande risco da proposta dessa PPP é justamente abrir brechas para
o uso da incineração nas atividades das empresas que ganharem a licitação para
a gestão dos resíduos. Pesquisadores confiáveis afirmam que os danos
ambientais, sociais, para a saúde humana e até mesmo em ternos de balanço
energético fazem da incineração a pior escolha em termos de tratamento dos
resíduos.
A proposta do governo do Estado também
deixa outra brecha muito arriscada para a gestão de resíduos sólidos, que pode
acabar por inviabilizar as cooperativas de reciclagem. O apoio aos recicladores
organizados em cooperativas será feito pelas prefeituras. Assim, caso o poder
público local não apoie devidamente esses empreendimentos, eles podem simplesmente
desaparecer, dando lugar a cooperativas não solidárias e, no limite, pouco
eficientes para a proteção ambiental, visto que a preservação ambiental efetiva
só se faz em contextos de cooperação e solidariedade. Essa pergunta fica para
Brumadinho: qual opção adotará frente a controversa proposta de PPP da gestão
de resíduos na RMBH? Espero que você, querido leitor, lute por uma proposta que
seja solidária com aqueles que nos ensinaram a duras penas o valor da
reciclagem e da solidariedade: nossos queridos irmãos catadores.
Armindo
dos Santos de Sousa Teodósio (Téo)
Professor
do Programa de Pós-Graduação em Administração da PUC Minas
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