Edição 170 –
Janeiro
Aécio Neves vai enfrentar
enxurrada de CPIs
O ano de 2015
promete ser o início de uma forte dor de cabeça para o senador Aécio Neves
(PSDB-MG). Várias Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPIs) estão na mira da
antiga oposição da Assembleia Legislativa para investigar tanto a gestão do
parlamentar mineiro, que governou Minas de 2003 a 2010, como a do seu
correligionário e sucessor, Antônio Anastasia (PSDB), eleito senador em 2014 (10635
votos em Brumadinho).
“Durante esses 12 anos de governo do PSDB
em Minas, a oposição foi impedida de instalar CPIs. Havia boicotes”, afirma o
deputado estadual Rogério Correia (PT), reeleito para o seu quarto mandato na
Assembleia de Minas Gerais, com 72.413 votos (234 votos em Brumadinho).
A CPI de Repasses Educacionais é uma das
que estão na lista dos antigos oposicionistas, que agora compõem a base aliada
do governador eleito de Minas, o ex-ministro Fernando Pimentel (PT). Com base
em cálculos do Tribunal de Contas do Estado (TCE), o deputado afirma que há uma
defasagem de R$ 8 bilhões em recursos que deveriam de sido aplicados na área
nos 12 anos de governo tucano em Minas.
“Jamais aplicaram o mínimo de 25% como
determina a legislação”, diz Correia. Segundo o parlamentar, se for instalada,
a CPI da Saúde também investigará uma defasagem em torno de R$ 8 bilhões no
setor.
Superfaturamento
Outra CPI envolve um parente de Aécio,
conforme o deputado, a da Construção da Cidade Administrativa Presidente
Tancredo Neves, sede do governo mineiro, entregue em 2010. O deputado informa
que a obra teve um custo de R$ 600 milhões, porém a despesa final alcançou R$
1,2 bilhão, o dobro do valor inicial.
De acordo com o petista, a Companhia de
Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) foi a responsável pela
obra, que era presidida por um parente de Aécio chamado Oswaldo Borges da
Costa. “Ele preside a Codemig desde que Aécio entrou no governo”, complementa.
Ainda referindo-se à Codemig, o parlamentar afirma que será investigada a
extração de um minério conhecido como Nóbio feita sem licitação.
CPIs do Mineirão e Cemig
Nem mesmo o Mineirão, um dos estádios-sede
da Copa do Mundo ficou de fora da lista de CPIs por parte dos antigos
oposicionistas. Correia diz que, segundo o contrato entre o governo mineiro e o
consórcio Minas Arena, responsável pelo gerenciamento do estádio, o consórcio
deve atingir um lucro de R$ 7 milhões com a manutenção da arena.
“No ano passado (2014), o governo
desembolsou cerca de R$ 50 milhões só para o lucro do consórcio. Tira dinheiro
público para sustentar o lucro da empresa”, denuncia o parlamentar. O deputado
aponta, ainda, superfaturamento nas obras.
Em relação à Companhia Energética de Minas
Gerias (Cemig), Correia afirma que atualmente a empresa é controlada pela
Andrade Gutierrez (a mesma envolvida na Operação Lava Jato, da Polícia
Federal). “A Andrade, embora tenha participação minoritária, tem um mando, no
mínimo, estranho”, complementa.
Rádio Arco-Íris
Outra CPI citada pelo deputado, que pode
ser instalada, é a das Verbas Publicitárias. Parlamentares da Assembleia de
Minas pretendem investigar a doação de verba publicitária para a Rádio
Arco-Íris, da qual Aécio é proprietário, bem como sua irmã, Andrea Neves. Vale
ressaltar que, em 2012, o Ministério Público (MP-MG) instaurou um inquérito
civil com o objetivo de apurar os repasses feitos ao veículo entre 2003 e 2010.
A ligação de Aécio com a emissora veio à
tona em abril de 2011, quando o senador mineiro se recusou a fazer o teste do
bafômetro depois de ser parado em uma blitz da Lei Seca no Rio de Janeiro. O
parlamentar, que foi multado em R$ 1.149,24, teve a carteira de habilitação
(vencida) apreendida. O senador tucano dirigia uma Land Rover de placa
HMA-1003, comprado em novembro de 2010 em nome da emissora, detentora de uma
franquia da Rádio Jovem Pan FM em Belo Horizonte.
Em nota, a assessoria de Aécio negou que a
rádio tenha recebido patrocínios durante a gestão do tucano. De acordo com a
assessoria do senador, foram utilizados critérios técnicos na escolha das
rádios que receberiam verbas publicitárias e negou interferência de Andrea no
direcionamento de recursos – ela foi coordenadora do Núcleo Gestor de
Comunicação Social do Executivo, órgão responsável por controlar gastos do
governo com comunicação.
IPSEMG
O deputado do PT menciona, também, o Instituto
de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (IPSEMG) como um dos
possíveis alvos de investigações. Sem maiores detalhes, Correia diz que
recursos foram retirados do instituto para o caixa único do governo. O valor
seria cerca de R$ 250 milhões.
Em novembro passado, o governo mineiro
informou, em nota, que o decreto referente à medida “apenas” regulamenta a
transferência dos recursos de uma conta bancária para outra, e comprometerá o
orçamento destinado à assistência médica dos servidores por meio do Ipsemg. “O
dinheiro do Ipsemg é o único, dentre os órgãos públicos, que não está no caixa
único do Estado. O decreto apenas regulamenta a transferência do dinheiro, que
será feita aos poucos”.
Conforme a nota, o caixa único pode
aumentar os rendimentos dos recursos do instituto de previdência dos
servidores. “O caixa único do Estado tem mais dinheiro do que o fundo usado
para a assistência médica. Dessa forma, os rendimentos são maiores também, o
que pode garantir mais dinheiro para o Ipsemg e mais benefícios para o
servidor”.
Aeroporto de Cláudio
Talvez o caso mais conhecido acerca de
possíveis investigações contra Aécio, o aeroporto de Cláudio, município do
interior mineiro. Conforme denúncia do jornal Folha de São Paulo, em matéria
publicada em julho do ano passado, o tucano cometeu ato de improbidade
administrativa ao utilizar R$ 14 milhões de recursos públicos para construir um
aeroporto, em uma área desapropriada que pertencia ao seu tio-avô.
Também no mês de julho, em artigo enviado
para a Folha, Aécio afirmou que, “se algum equívoco houve, certamente eu posso
reconhecer e não ter me preocupado em examinar em que estágio o processo de
homologação está. Este é um equívoco e eu quero reconhecer.” O MP-MG abriu
investigação sobre o caso.
Correia informa que o início dos trabalhos
e a ordem das instalações das CPIs na Assembleia ainda serão definidos.
Senador Nota Zero
Questionado sobre a atuação de Aécio
durante a campanha presidencial, o deputado Rogério Correia foi taxativo:
“Minas derrotou Aécio. Isso diz tudo. Mostrou ao Brasil que onde ele governava
não se confia, tanto do ponto de vista moral e ético como administrativo”,
alfinetou. No primeiro turno da eleição, a presidente Dilma Rousseff (PT)
venceu Aécio em Minas por 43% dos votos válidos contra 39% do senador. No
segundo turno, a petista também ficou na frente (52,41% a 47,49%).
“É um senador nota zero”, cutuca o
deputado, em referência à nota da revista Veja atribuída ao senador. Ao
explicar a nota dada ao tucano, a revista disse que o senador foi afetado pela
campanha presidencial, que teria provocado seu afastamento das atividades
parlamentares. “A pior revista do Brasil dá nota zero ao pior senador”, dispara
Correia.
Para o deputado, Aécio “se sustentou no
antipetismo”. “Se não fosse isso, ele teria tomado uma ‘balaiada’ da Dilma”,
afirma Correia. Dilma venceu a eleição, em segundo turno, por 51,64% a 48,36%.
“Com a vitória de (Fernando) Pimentel, vamos mostrar o que de fato foi governo
Aécio em Minas”.
Apoiado pelo Prefeito Brandão, o Secretário
de Saúde José Paulo, o vereador Itamar Franco (todos do PSDB), Aécio Neves
obteve 9799 votos em Brumadinho no 1º turno das eleições presidenciais. No
segundo turno obteve 11.601 votos.
Com informações do Brasil 247.
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