Edição 173 – Abril 2015
Escândalo do HSBC tem empresários de mídia
mas a grande imprensa esconde os corruptos
Donos
de veículos de comunicação, como Veja, Globo e Band; herdeiros e jornalistas
estão entre os correntistas do banco na Suíça
Manter dinheiro no exterior pode não ser crime, desde que se
declare no Imposto de Renda. No entanto, o escândalo do banco HSBC escancara
uma relação de criminosos, que depositaram dinheiro na Suíça, sem declarar no
Imposto de Renda. Uma investigação feita na França revelou que a filial suíça
do banco britânico HSBC "ajudava" clientes ricos a evadir o pagamento
de milhões de dólares em impostos. Esse esquema permitiu que centenas de bilhões de euros
transitassem, em Genebra, por contas secretas de 106 mil clientes, entre eles,
empresários, políticos, estrelas do showbizz e esportistas, mas também
traficantes de drogas e armas e suspeitos de ligações com atividades
terroristas. Os documentos também incluem dados sobre 5,5 mil contas secretas
de brasileiros, com um saldo total de US$ 7 bilhões (cerca de R$ 19,5 bilhões).
A Suíça é um dos chamados “paraísos fiscais” do Planeta e é para
lá que muitos criminosos mandam seu dinheiro. O fato de jornalistas brasileiros
abrirem conta na Suíça também é bastante suspeito.
O caso HSBC é um escândalo a expor a hipocrisia de quem pretende
derrubar Dilma, acusando-a de corrupção, sem que haja uma mísera prova concreta
contra a presidenta, atuando em parceria com a turma de famílias midiáticas com
dinheiro na Suíça. A mídia insiste, diariamente, em falar dos escândalos na
PETROBRÁS, mas finge que o escândalo do HSBC não existe, e que não é maior do
que o da petrolífera.
Na lista dos 8.667 brasileiros que, em 2006
e 2007, tinham contas numeradas no HSBC da Suíça, aparecem donos, diretores e
herdeiros de veículos de comunicação, além de jornalistas.
Um levantamento feito pelo GLOBO, em
parceria com o UOL, com base nos documentos oficiais que foram vazados por um
ex-funcionário da instituição financeira, indica que há ao menos 22 empresários
e sete jornalistas brasileiros entre os correntistas do HSBC suíço.
Os correntistas localizados negaram a
existência das contas e qualquer irregularidade.
A grande mídia envolvida no escândalo
Nos documentos, constam os nomes de
proprietários do Grupo Folha, ao qual pertence o UOL. Tiveram conta conjunta
naquela instituição os empresários Octavio Frias de Oliveira (1912-2007) e
Carlos Caldeira Filho (1913-1993).
Luiz Frias (atual presidente da Folha e
presidente/CEO do UOL) aparece como beneficiário da mesma conta, que foi criada
em 1990 e oficialmente encerrada em 1998. Em 2006/2007, os arquivos do banco
ainda mantinham os registros, mas, no período, ela estava inativa e zerada.
Quatro integrantes da família Saad, dona da
Rede Bandeirantes, também tinham contas no HSBC na época em que os arquivos
foram vazados.
Constam entre os correntistas os nomes do
fundador da Bandeirantes, João Jorge Saad (1919-1999), da empresária Maria
Helena Saad Barros (1928-1996) e de Ricardo Saad e Silvia Saad Jafet, filho e
sobrinha de João Jorge.
Lily de Carvalho, viúva de dois jornalistas
e donos de jornais, Horácio de Carvalho (1908-1983) e Roberto Marinho
(1904-2003), aparece na lista. Horácio de Carvalho foi proprietário do extinto
“Diário Carioca”. Roberto Marinho foi dono das Organizações Globo, hoje Grupo
Globo, ao qual pertence O GLOBO.
O nome de Lily surge nos documentos com o
sobrenome de Horácio, seu primeiro marido, e o representante legal da conta
junto ao HSBC é a Fundação Horácio de Carvalho Jr. O saldo registrado em
2006/2007 era de US$ 750,2 mil. Lily morreu em 2011.
Do Grupo Edson Queiroz, dono da TV Verdes
Mares e do “Diário do Nordeste”, estão Lenise Queiroz Rocha, Yolanda Vidal
Queiroz e Paula Frota Queiroz (membros do conselho de administração). Elas
tinham US$ 83,9 milhões em 2006/2007. Edson Queiroz Filho também surge como
beneficiário da conta. Ele morreu em 2008.
Luiz Fernando Ferreira Levy (1911-2002),
que foi proprietário do jornal “Gazeta Mercantil”, que não existe mais, teve
conta no HSBC em Genebra entre os anos de 1992 a 1995.
Dorival Masci de Abreu (morto em 2004), que
era proprietário da Rede CBS de rádios (Scalla, Tupi, Kiss e outras), foi correntista
da instituição financeira na Suíça entre 1990 a 1998.
João Lydio Seiler Bettega, dono das rádios
Curitiba e Ouro Verde FM, no Paraná, tinha conta ativa em 2006/2007. O saldo
era de US$ 167,1 mil.
Fernando João Pereira dos Santos, do Grupo
João Santos, que tem a TV e a rádio Tribuna (no Espírito Santo e em Pernambuco)
e o jornal “A Tribuna” tinha duas contas no período a que se refere os
documentos. O saldo delas era de US$ 4,4 milhões e US$ 5,6 milhões.
Anna Bentes, que foi casada com Adolpho Bloch
(1908-1995), fundador do antigo Grupo Manchete, fechou sua conta no ano 2000.
Os “reis” da moralidade
O apresentador de TV Carlos Roberto Massa,
conhecido como Ratinho - aquele que berra,
e pede “justiça” na TV - e
dono da “Rede Massa” (afiliada ao SBT no Paraná) tinha uma conta com sua
mulher, Solange Martinez Massa, em 2006/2007. O saldo era de US$ 12,5 milhões.
Aloysio de Andrade Faria, do Grupo Alfa
(Rede Transamérica), tinha US$ 120,6 milhões.
Os sete jornalistas que aparecem nos
registros do HSBC são Arnaldo Bloch (“O Globo”), José Roberto Guzzo (Editora
Abril), Mona Dorf (jornalista que
divide bancada na Jovem Pan com Reinaldo Azevedo, da Veja, no programa “Pingos
nos Is” – tribuna de onde acusam o governo petista – e só o governo petista –
de todas as mazelas brasileiras); Arnaldo Dines, Alexandre Dines, Debora
Dines e Liana Dines, filhos de Alberto Dines (apresentador do programa
Observatório da Imprensa, jornalista
que em 1964 defendeu o golpe militar). Fernando Luiz Vieira de Mello (1929-2001),
ex-rádio Jovem Pan, teve uma conta, que foi encerrada em 1999.
As contas de Bloch e Guzzo estavam
encerradas. Mona tinha US$ 310,6 mil. Os quatro jornalistas Dines guardavam US$
1,395 milhão.
* Participaram também da apuração desta
reportagem os jornalistas Fernando Rodrigues e Bruno Lupion (do UOL)
** A investigação jornalística
multinacional é comandada pelo ICIJ, sigla em inglês para Consórcio
Internacional de Jornalistas Investigativos (www.icij.org)
Por Chico Otávio / Cristina Tardaguila /
Ruben Berta*, em O Globo
Para entender a história
Um ex-funcionário do HSBC na Suíça entregou todo o papelório das
contas, que chegou às mãos de jornalistas do ‘Le Monde’, jornal francês. Ao
perceber o tamanho da encrenca (há milionários de dezenas de países envolvidos
com ao crime), os franceses resolveram dividir os documentos com o ICIJ (um
consórcio de jornalistas).
Walker Guevara, diretora do ICIJ, resolveu “escolher” apenas um
jornalista para decifrar o conteúdo de mais de 8 mil contas da elite
brasileira: Fernando Rodrigues, do UOL/Folha. Estranhamente, ele passou a
divulgar apenas as contas relacionadas ao caso Petrobras. Disse que era preciso
ver se havia “interesse público” envolvido nos demais casos.
Rodrigues é considerado jornalista sério. Foi ele quem noticiou a
compra de votos de FHC (PSDB) para a reeleição, o que jamais foi investigado.
Mas nesse caso HSBC, cumpriu um triste papel. Claramente, estava sob pressão
pra segurar os nomes. Ele trabalha para a família Frias – dona do UOL/Folha. O
irmão de Otávio Frias, Luís Frias (operador administrativo do grupo), está na
lista da Suíça.
Amaury Ribeiro Jr (jornalista premiado, que integrava o ICIJ)
pediu pra ter acesso ao papelório. Walker teria dado a ele uma resposta desaforada.
E Amaury então se retirou do ICIJ. Logo depois, a senhora Walker decidiu que
mais um “órgão de imprensa” teria direito de ver os papéis: “O Globo”.
Agora é “O Globo” quem faz os vazamentos das informações. Mas só
vaza os nomes que interessam ao Globo. A tentativa é de controlar os nomes,
seguir na linha dos vazamentos seletivos, e com a menor exposição possível.
A matéria de “O Globo” explica que Lily Marinho abriu a conta com
sobrenome de seu primeiro marido (Carvalho, também jornalista). Ou seja, a
tentativa é dar a entender que a sujeira não tem a ver com os Marinho – mas com
o falecido Carvalho.
Mistérios do caso HSBC
Algumas outras estranhezas rodam o caso HSBC. Fernando Rodrigues
dizia que não podia revelar outros nomes porque era preciso apurar se ‘havia
interesse público’. Supomos que "O
Globo” siga a mesma norma, então a conclusão é de que agora há interesse
público. Mas o Globo não esclarece qual “interesse público”. Houve desvio de
dinheiro? Sonegação?
Por outro lado, circulam informações de que há mais nomes
relacionados à mídia e ao PSDB. “Artistas da Globo no Projac estariam
preocupados”, revela uma fonte muito bem informada. Talvez esteja havendo
censura para que não se noticie mais.
Entre os que ignoram o caso HSBC está Reinaldo Azevedo da VEJA, que vive defendendo a moralidade mas
foi citado numa planilha da Camargo Correia, segundo informou a jornalista
Conceição Lemes, no site VioMundo. O nome de Azevedo aparece na Operação
Castelo de Areia, com seu nome associado a “Revista A”, “50.000,00″, “Andrea
Matarazo” (este último, vereador e operador do PSDB). Azevedo ainda não foi
investigado, a operação foi barrada na Justiça brasileira. Porém seu nome está
lá na planilha da empreiteira.
Os envolvidos são os mesmos que defendeu um golpe contra a
Presidenta Dilma Rousseff (PT). São os que se dizem preocupados em “limpar o
Brasil”. OU que querem que tudo “volte a ser como antes” – quando o dinheiro
deles podia circular em paraísos fiscais sem que Polícia Federal, Ministério
Público Federal e a internet estivessem de olho.
Com informações
de Rodrigo Vianna, da Revista Fórum
Nenhum comentário:
Postar um comentário