Edição 173 – Abril 2015
Tortura Nunca Mais e OAB
denunciam juiz Moro
Presidente do
grupo Tortura Nunca Mais em Goiás, o ex-preso político Waldomiro Baptista
denuncia o juiz Sérgio Moro pela prática de tortura. ”A ditadura, com o AI-5,
acabou com o habeas corpus e estimulou o dedurismo, a delação. O que vejo na
ação do juiz Sérgio Moro é algo semelhante: a prisão usada como método de
investigação e também de tortura, algo que achava que havia sido enterrado na
lata de lixo da história pela Constituição de 1988”, critica.
Waldomiro
Baptista, o Mirinho, como é conhecido, é irmão de Marco Antônio Dias Baptista,
15, o mais novo desaparecido político do Brasil, tendo sido visto pela última
vez em maio1970. Sua mãe, Maria de Campos Baptista, morreu em um acidente de
carro em 15 de fevereiro de 2006, na BR-060, no retorno de Brasília à Goiânia
após ter se encontrado com vice-presidente da República, e Ministro da Defesa,
José Alencar (PR), a aquém pediu a elucidação das circunstâncias da morte do
filho.
Mirinho diz que
ficou revoltado com os maus-tratos a que estão submetidos os empreiteiros
encarcerados pela Polícia Federal, em Curitiba-PR, após ler a pela reportagem
da jornalista Mônica Bergamo, à Folha de S. Paulo, que revelou os abusos: “Eles
estão em celas escuras, comem carne com as mãos, dividem-se em celas para
quatro pessoas, com uma latrina comum, e até recentemente estavam impedidos de
ler jornais e revistas”. Para o militante dos direitos humanos, a prisão e
humilhação dos acusados reforça a necessidade do país rever a Lei de Anistia.
“Ao não criminalizar a tortura e os torturados, o STF permitiu que a tortura
continue a ser usada como método investigativo. As circunstâncias mostram que o
juiz Moro pode estar fazendo uso deste método”, avalia.
Há três meses os
maiores empreiteiros do país, responsáveis direitos por mais de 200 mil
empregos, estão encarcerados indevidamente. Para Mirinho os empreiteiros Leo
Pinheiro, presidente da OAS, Ricardo Pessoa, presidente da UTC, Sérgio Mendes,
vice-presidente da Mendes Júnior, Dalto Avancini, presidente da Camargo Corrêa
e Idelfonso Colares Filho, presidente da Queiroz Galvão são presos políticos.
“Não há legalidade na prisão. Os acusados não têm direito ao contraditório, e
assim como na ditadura, os delatores tem mais fé pública que os acusados.
Assim, o que vemos é que da forma que conduz as apurações o juiz Sérgio Moro
tortura os presos com a prisão, dá como verdadeira as declarações de ladrões
confessos e quer vencer pelo esgotamento emocional os encarcerados, forçando-os
a delatar também. Isto, repito, é tortura”, alerta.
Para Waldomiro
Baptista as investigações são importantes, entretanto, ressalta que lei é lei e
ninguém está acima da lei ou da Constituição. “Recentemente o ministro Marco
Aurélio, do STF, numa crítica a Lava Jato disse que a prisão passou a ser regra
e a liberdade, exceção entre os acusados. Recentemente ao Estadão o ministro do
Superior Tribunal de Justiça (STJ), Rogério Schietti, da 6.ª Turma da corte,
também condenou as prisões esclarecendo que juízes não podem prender
cautelarmente antes da sentença final simplesmente levando em conta a gravidade
do crime. Como diria o árbitro Arnaldo Cesar Coelho, a regra é clara, quem não
está cumprindo é o juiz Moro”, informa.
Chantagem
Presidente da
Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB e da Comissão da Verdade do Rio e
ex-presidente da OAB-Rio o advogado Wadih Damous também criticou a condução das
investigações pelo juiz Sérgio Moro. No evento, na ABI, no Rio, em defesa da
Petrobras, ele foi claro: “O espetáculo do Dr. Moro não garante o direito de
defesa, o contraditório e a presunção de inocência”, frisa. Segundo ele, desde
o mensalão, acabou no Brasil presunção de inocência.” Esse juiz (Moro) é a
reprodução daquele que se presume falar pelos brasileiros e brasileiras
honestas. Em meu nome ele não fala”, reage.
De acordo com
Wadih Damous, a defesa da Petrobras é uma defesa da do Estado de Direito, que
está sob ameaça. “Esse juiz e esses procuradores se respondessem ao exame da
Ordem da forma como se comportam na investigação da Lava Jato não seriam
aprovados. Delação premiada é chantagem. Delação premiada não é pau de arara,
mas é tortura!”, denuncia.
Waldomiro
Baptista pretende encaminhar ofício ao Ministro da Justiça, José Cardozo,
pedindo esclarecimentos sobre os abusos denunciados pela jornalista Mônica
Bergamo na carceragem da PF de Curitiba. “Eu e minha família fomos vítimas do
arbítrio no passado, não desejo a nenhum ser humano a humilhação, o tratamento
desumano e o vilipêndio a honra. Nós que lutamos contra a ditadura, e ainda
lutamos pela valorização da vida, temos que nos indignar contra abusos contra
quem quer que seja, sendo rico ou pobre, petista ou tucano”, conclui. (Com
informações do site Conversa Afiada)
Juízes de Goiás
foram cassados por enfrentar a ditadura
Waldomiro Baptista
lembra que além de agentes políticos a ditadura militar de 1964 também foi
implacável com os defensores do Direito. Ele relata a cassação em abril de 1964
pelo AI-1, (primeiro ato do regime de exceção da ditadura) do desembargador
Frederico Medeiros, seu chefe de gabinete, Jesus Aquino Jayme e outros membros
do Judiciário, como os desembargadores Geraldo Bonfim e Jair Abrão.
“A ditadura
determinava a cassação dos direitos políticos de inúmeros adversários, e o
presidente do Tribunal Regional Eleitoral a época, o desembargador Frederico
Medeiros, não admitiu aquela violação do Estado de Direito. Foi cassado por dez
anos, juntamente com o seu chefe de gabinete, Jesus Aquino Jayme. Em seguida
foi empossado o desembargador Geraldo Bonfim, que fez um desagravo ao seu
antecessor, Frederico Medeiros, e também foi cassado. Na sequência foi
empossado Jairo Abrão, que também fez desagravo aos antecessores, criticando o
arbítrio, e também foi cassado. É preciso que a magistratura preste homenagens
àqueles que tiveram coragem de enfrentar o arbítrio e não se deixaram levar
pela opinião publicada. Digo isto porque em 1964 parte da grande imprensa
tramou e estimulou o golpe. Nos dias de hoje, os mesmos veículos de comunicação
estimulam o retrocesso. Não podemos compactuar com isto”, relata.
Waldomiro
Baptista relembrou também o papel de defensores públicos que defenderam presos
políticos contra os arbítrios do regime de exceção, dentre os quais Wanderley
de Medeiros. “Dr. Wanderley se ergueu contra a ditadura quando era presidente
da Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás. Foi enquadrado na famigerada LSN
(Lei de Segurança Nacional) por seus discursos e posicionamento público contra
o golpe e mesmo assim continuou acreditando no Direito, advogando de graça para
as famílias de presos políticos em Goiás. Num ato de ousadia discursou certa
feita, em 1982, numa plenária da OAB do Rio de Janeiro:
- Sejamos
advogados. Mas sejamos principalmente homens identificados com a Corporação,
ciosos de seu insuperável valor, honrados com nossa carteira vermelha, para que
possamos exibi-la como Maiakovski fazia com seu passaporte soviético: Lede e
inveja-me, sou membro da OAB”!
Para o defensor
dos direitos humanos, é imprescindível que os membros da Ordem e da
Magistratura enfrentem a tentação autoritária a qual se apegam alguns setores
do Judiciário e do Ministério Público, “sob pena de um retrocesso nos direitos
do cidadão, que podem vir a corromper as conquistas da Carta Cidadã de 1988”,
conclui.
Matéria de Marcus
Vinícius, especial para o site Brasil247
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