Opinião

Edição 112-Abril/2010

Opinião

MARCAS DO TEMPO

Margarida de Mello Silva.

Hoje começo a coluna agradecendo a Deus por ser mãe e pelos filhos que tenho. Obrigado Senhor da Vida!

Não se sabe ao certo se o progresso ajuda ou atrapalha os sentimentos. Porém uma coisa é certa: modifica a maneira, a forma como são apresentados. Algum tempo atrás, dia das mães era comemorado com almoço fora, dia de entretenimento, dia de lazer, de presentear, de passear, de retornar a casa, de abraçar, de beijar, de pedir desculpa por não ser um bom filho, por não escutar seus conselhos, por se ausentar sem falar, por andar em más companhias, por ter pegado vícios.  A presença era vital, produzindo na mãe um riso de alegria, com dentes brancos, sem dentes, de dentes estragados, feias, bonitas, magras, gordas, elegantes, deselegantes, jovens, velhas, mas, acima de tudo, amadas. Para elas se faziam canções, poesias, festas, reuniões, orações, roupas novas, perfumes, casas, almoços, cartões. Os maridos, companheiros, amantes, também homenageavam as mães de seus filhos. Só o lado bom era apresentado nesse dia.

Conversando com uma mãe outro dia ela me disse que tem quatro anos que seu único filho não a abraça, não a beija, não a visita no dia das mães, não fala com ela. Admirada, ouvi sua narrativa e perguntei-lhe: Seu filho morreu? Ela simplesmente respondeu-me: não. Constrangida, completou: manda-me apenas e-mails, o que me causa um vazio enorme.

Hoje quero homenagear todas as mães da forma como elas merecem, rezando por elas, em especial pela minha mãe, dona Yayá, e minha irmã Myriam, amores terrenos, hoje eternos; Marília e Beatriz, irmãs; as minhas amigas e todas as mães, desejando que tenham todo o lado bom apresentado anteriormente com presença de seus filhos. Que tenham a alegria de terem filhos bons, dedicados, amorosos e presentes. Que os filhos trilhem só a estrada principal e não vão para caminhos diferentes. Que Deus as apare sempre e que, mesmo sofrendo por várias razões negativas, sejam otimistas. Alegres. Esperançosas. Felizes. Que Nossa Senhora, a mãe maior, nos proteja com seu manto protetor e olhe por nós. E as que recebem e-mails, que a internet não saia do ar. Mas, que os filhos façam resgate dos valores significativos deixados para trás. Se sair, que os filhos que mandam só e-mails fiquem antigos e vão vê-las. Usem um transporte rápido ou lento. Façam uma ligação telefônica. Ponham voz e calor humano para expressar seus sentimentos de filhos. São marcas do tempo! Achem tempo e abracem suas mães. Mãe merece o melhor de nós em qualquer situação. Apaguem as marcas das ausências (virtuais).  Sejam presentes sempre. Façam tempo, para aconchego nesta data especialíssima, pois braços maternos estão esperando.

MULHERES MARAVILHOSAS, FELIZ DIA DAS MÃES!!!!!!!

Aos que não se omitiram

Jane*

Os professores que participam (participaram) do movimento grevista estadual em Brumadinho foram corajosos, pois participar de uma greve não é uma coisa fácil, muitos não compreendem e não se preocupam se os professores estão recebendo mal, acham que isso não influencia no dia-a-dia da sala de aula ou na saúde do professor. No entanto os professores resistiram. Resistiram ao corte do ponto, resistiram às críticas dos colegas que não aderiram ao movimento, resistiram às mentiras do governo estadual, resistiram à sua própria vontade de voltar para a sala de aula e deixar tudo como está. Não é fácil fazer um curso superior, um concurso, trabalhar 15 anos e ter um salário básico de 500,00 depois que um piso de R$ 1312,00 foi aprovado pelo governo federal desde 2008.

Quando conversava com alguns alunos e pais preocupados com a reposição, tentava acalmá-los e argumentava da necessidade de estar nessa luta. Comentei que muitas vezes cheguei a uma sala de aula e meus alunos diziam que tiveram 2, 3 ou até 4 horários vagos, pois um professor tinha tirado licença médica, mas, como eram somente 9 dias, o governo estadual não havia contratado professor substituto e ficaram de horário vago. Isso é um grande motivo para que pais e alunos fiquem indignados, pois essas aulas nunca serão repostas. Muitos criticam a greve (direito constitucional) que vai ser reposta depois, e não criticam essa situação que é culpa do governo e não do professor que fica doente.

Além disso, a greve é também instrumento de luta contra as péssimas condições de trabalho e as inúmeras vezes que o trabalhador do Estado não pode ser substituído, causando prejuízo real aos alunos. Muitos compreendem e apóiam. Alguns argumentam que a procura pelo magistério está baixa, pois sabem que estar em uma sala de aula hoje em dia não é para qualquer um. O professor deve ter muito amor pelo que faz e enfrentar inúmeros problemas que não é necessário citar, pois todos já sabem. Participar de um movimento de greve é o mínimo que um professor deve fazer. Quem trabalha com seus alunos o tema cidadania, ser cidadão pleno, lutar e exigir seus direitos deve dar o exemplo. Foi o que fizeram os professores, trabalharam o tema na teoria e tentaram colocá-lo em prática, juntamente com milhares de outros professores de todo o estado de Minas Gerais.

Comprovei também neste movimento que a mídia realmente não está de todos os lados, a não ser por uma reportagem que vi pela internet do Jornal Alterosa, segunda edição, do dia 5 de maio. Nessa reportagem realmente foram mostrados os 15.000 professores e funcionários presentes na assembléia, naquele dia protestando em Belo Horizonte, mostrando seus contracheques e comparando-os com os das redes municipal e privada de Belo Horizonte. Fiquei emocionada, senti que todos precisavam ver aquela reportagem, os meus colegas de escola, os pais, e principalmente meus alunos, que respeito muito.

Depois de todos esses dias, os professores estaduais estão preocupados, mas continuam na luta. Quem luta não se arrepende! Em poucos dias, os professores vão recuperar o conteúdo com seus alunos e o seu exemplo de luta por mais dignidade por uma classe sofrida vai ficar. E um dia, quando seus alunos tiverem que fazer o mesmo, vão se inspirar neles.

Sei que muitas pessoas reconhecem o trabalho dos professores e os elogiam. Mas vi essas mesmas pessoas pensarem duas vezes antes de elogiar os mesmos professores depois que eles entraram em greve, reivindicando um salário justo. O que fica de tudo é que tudo vale à pena se a alma não é pequena. Sigo acreditando e lutando por uma educação de qualidade. Por fim, é sempre bom lembrar que quem decide se a greve continua e ou não são os professores em assembléia estadual. E quando a greve continua é porque a grande maioria dos professores em assembléia decidiu. A grandíssima maioria.

Jane, professora de Geografia, da Escola Estadual Paulo Neto Alkmim.