Edição 159 – Fevereiro/2014
Editorial
8
de Março: Machismo às avessas? Ou a mulher precisa mesmo ser “melhor”, mais “gostosa” e mais
“bela”?
Nesse sábado
comemorou-se mais um Dia Internacional da Mulher. Melhor seria que não tivesse
acontecido. Não as comemorações, mas o dia em si. O fato de existir um dia
especial não é bom negócio, é um indicador de que as coisas não vão bem. Mas,
já que o Dia existe, valhamo-nos dele para contribuir com algumas reflexões.
Nesta edição trazemos um belo artigo a respeito, “Dizem que a Mulher é o Sexo Frágil...”, de
Teo Armindo. Belo porque profundo, foge do lugar comum das comemorações e põe o
dedo na ferida. É disso que precisamos, disso que a luta pela emancipação
feminina precisa. “Sob
pena de “levarem, mas não ganharem”, ou seja, conquistarem muita coisa, mas não
alcançarem sua emancipação”, como defende Teo.
De nosso lado, os homens, nada, ou de muito pouco,
nos adiantará mandar flores, escrever poemas mas continuarmos, por exemplo,
fechando os olhos para o fato de que em Brumadinho, companheiros, namorados
e maridos continuam espancando suas mulheres,
tratando-as como se delas fossem donos e senhores, tratando-as como se fossem
seres inferiores.
Também não adianta comemorar o 8 de Março e
continuar fazendo piadinhas machistas, pagando salários menores pelo mesmo
trabalho, ou irritando-se quando as vemos jogando futebol, ocupando cargos
políticos importantes ou tendo que conviver com o fato de elas serem nossas
chefias na empresa. Não adianta comemorar e se recusar a ajudar no trabalho
doméstico, a dar banho nos filhos, e implicar com ela porque escolheu uma
profissão “masculina”. Ou dizer que ela é “mal-amada” ou criticá-la por ter
feito opção pela vida de solteira ou por não ter filhos.
Reinaldo Fernandes
Editor
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Por outro lado, as próprias mulheres – quem nos
alerta novamente é Teo Armindo – precisam se cuidar para que não caiam na
esparrela da visão de mundo e dos valores do machismo e da sociedade
capitalista, baseada no superficial; na vida loucamente corrida, dominada pelo
trabalho e busca de dinheiro, dinheiro e mais dinheiro, sem tempo para si
mesma, para os amigos, para a família; sociedade baseada na efemeridade, na
hipocrisia, na fachada.
Assim, é hora de se perguntar o que fazer com a
ditadura da “beleza”. É crime ser gorda ou baixa? Está correta essa obsessão
pelo corpo “perfeito”? É crime ser solteira, descasada ou divorciada? O cabelo
precisa, mesmo, ser liso? Por que é preciso depilar?
Ser “melhor”, mais “gostosa”, ter mais coisas do
que a outra mulher; ou fazer algo concreto pelas mais pobres, mais maltratadas,
mais marginalizadas, mais menos em tudo?
Se o Dia Internacional da Mulher nos servir para
que possamos refletir de forma mais profunda sobre a situação da mulher de
Brumadinho - e também da mulher do Brasil e do Mundo -, ele terá valido a pena.
Se não, será apenas mais um 8 de março. Ano que vem tem mais!
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