Edição 159 –
Fevereiro/2014
Márcio
Nagô, letrista, compositor e cantor
De Brumadinho, A Caminho do Mar
Em 31 de março de
1980, ele nasceu Marcio Roberto Ferreira Lima, hoje é Márcio Nagô, letrista,
compositor e cantor. Com mais de 100 composições em sua bagagem, lançando seu
segundo trabalho, A Caminho do Mar, Márcio
Nagô já se apresenta mais maduro, sabendo o que quer, consciente da música que
faz.
E a música que
faz é das boas! Suas parceiras vão desde o músico Sanrah (“Samba nas Veias”)
até Serginho Beagá, um dos maiores nomes do samba de BH, de renome mundial, e
gravadora japonesa. Pelo caminho das parceiras ainda tem Mandruvá, Pirulito da
Vila, Fabinho do Terreiro e Waldir Silva, músico cavaquinista, que
levou o som de seu cavaquinho aos cinco continentes, gravou mais de 30 discos e
comandava o projeto Minas Ao Luar (falecido em 1/92013).
Ele produz e canta
samba de raiz, e este seu segundo trabalho traz fortemente a marca de sua
africanidade, especialmente nas faixas 1 (Nego de Angola), 5 (Zumbi Nagô) e 13
(Força da Fé). No entanto, em metalinguagem das boas, seu samba tem como tema o
próprio samba, uma exaltação ao gênero, como se verifica nas faixas Menino
Traquina (nº 6), De Ponta Cabeça (nº 7, parceria com Serginho Beagá), Está Escrito
(10), Samba nas Veias (11), Cantar Cantei (12), Força da Fé (13) e
especialmente em Fazer o quê (9).
E não faltou a
força da negritude, especialmente em Samba nas Veias (“Não sou de fugir da
batalha, não sou de correr, meu negócio é lutar. Se a vida tá dura, a gente
segura que vai melhorar”); em A Força da Fé (“Somos herdeiros do samba, sim,
não desistimos e vamos lutar... com a espada de Ogum, vencer quimbandas; com o
machado de Xangô, a Justiça liberar”);
Em dezembro,
lançou seu cd no espaço Oi Futuro, em BH, e já tem agenda para fazer o mesmo no
Rio de Janeiro.
O jornal de fato,
de olho nos novos talentos, conversou com Márcio Nagô, e se orgulha de tê-lo
como um brumadinense tão ilustre! Acompanhe a entrevista.
de fato:
Pra começar: por que Márcio “Nagô”?
Márcio Nagô:
Porque Nagô é uma linguagem, um idioma. É a cultura africana que veio para o
Brasil, que veio muito da cultura nagô, apesar de não ter sido só desta
cultura. Escolhi esse nome a partir do momento em que os elementos da minha
música estão todos voltados para a África. É uma palavra que tem uma força.
Escolhi essa força, o lado mitológico da palavra.
de fato:
Letrista, compositor, cantor: como tudo começou?
Márcio Nagô: Participei
de Congado, de Capoeira. O início, não inconsciente, é por aí. Mais
profissionalmente com o grupo Atrassamba, com, Marcelo Jabah, Rei Batuque,
Sidney de Paiva.
de fato: Este,
A Caminho do Mar, é seu 2º trabalho. O que foi feito do primeiro?
Márcio Nagô: O
primeiro disco foi gravado em 2008, intitulado “Raiz do Meu Samba”. Esse disco
me proporcionou entrar em rádios como a Itatiaia, Inconfidência, alguns canais
de TV fechados, me deu a possibilidade ainda na construção do disco, conhecer o
cantor Serginho Beagá, um divisor de águas pra mim. Serginho me levou para
disputar o carnaval pela sua escola de samba em Belo Horizonte, a Império de
Nova Era. Fui o puxador do samba e a Escola foi a campeã do carnaval 2009.
de fato:
Como foi o show de lançamento deste 2º trabalho?
Márcio Nagô:
Tivemos o público esperado, apoio totla da crítica mineira. No ápice do show,
fizemos uma homenagem ao grande Marku Ribas. E uma homenagem ao saudoso Valdir
Silva. Outro resultado do show é que a Oi Futuro nos convidou para fazer o
lançamento do disco, no 2º semestre, no Rio de Janeiro.
de fato:
Como foi o processo de construção deste trabalho, quanto tempo?
Márcio Nagô: Em
torno de seis meses para fazer a gravação. Eu já tinha muitas músicas, e fiz a
escolha a partir do conceito do disco.
de fato:
Um panorama deste trabalho: você tem conseguido espaços para mostrar seu
trabalho? Tocando onde; Quantos cd´s vendidos? À venda onde?
Márcio Nagô: O
trabalho está sendo executado nas grades de rádios importantes, como a
Inconfidência FM e a Itatiaia, a Viva o Samba, do Rio. A estratégia foi de
distribuição do disco, sem venda, por achar que as pessoas devem ter acesso ao
trabalho, foram 3.000 presentes distribuídos.
de fato:
Suas parcerias, como surgem?
Márcio Nagô: Acontece
na mesa de um bar, numa roda de samba, um papo informal. Frequentemente, quando
o artista sente que um trabalho tem a ver com outro artista, aí a gente entra
em contato, faz música até pelo telefone. Minha parceira com Mandruvá, em Sincero e Puro (faixa 4 do cd), por
exemplo, ele me ligou, estava vivendo um situação. Aí desligamos o telefone,
compus a música e liguei pra ele: “Cara, é isso mesmo!”, me falou no Mandruvá.
Como Pirulito da Vila aconteceu algo parecido, comecei a música, achei que era a
cara dele, liguei e ele completou.
de fato:
Quais são suas influências?
Márcio Nagô: Acho
que comecei com a Perla, andando atrás de um disco de vinil. Cresci ouvindo
todos os tipos de música, de Martinho da Vila a Roberto Carlos. Mas o samba foi
o que me chamou mais a atenção. Bezerra da Silva, Almir Quineto, Agepê, Benito
de Paula e Zeca Pagodinho, é claro, são alguns.
de fato:
Como você define sua música, qual é o gênero?
Márcio Nagô: Eu
diria que é samba de raiz, mas com variações, samba de terreiro, samba de roda,
partido alto, que pra todo mundo é samba.
de fato:
Quando você compõe, como é seu processo?
Márcio Nagô: Meu
processo é basicamente inspiração, algo me toca, a minha vida, a vida do outro,
a manifestação cultural ou não do povo. Às vezes acordo de madrugada com a
música pronta, como aconteceu com Está Escrito (faixa 10). A música pode
acontecer em qualquer momento. Depois a gente lapida, trabalha melhor, troca
palavra, troca melodia. O que eu não consigo é escrever só a letra.
de fato:
Sua música fala de Zumbi de Palmares, de Angola, Aruanda, do povo Nagô, tem um
viés de africanidade. De onde vem isso?
Márcio Nagô:
primeiro, porque sou afro-brasileiro. Depois, por ter sido influenciado pelo
Congado, ainda criança. Tenho também estudado mitologia africana e tento trazer
todo esse universo pra dentro da minha música.
de fato:
O que temos pela frente? Shows marcados? Quais são seus projetos?
Márcio Nagô: No dia
8 de abril vou participar da abertura do Projeto “Sambaqui”, no Conservatório
de Música da UFMG. E, no segundo semestre, o lançamento do disco no Rio, no
Teatro Oi Futuro, em Ipanema. Para este lançamento no Rio estou buscando
parcerias.
Apaixonei-me pela sensibilidade e beleza das letras e musicalidade desse compositor, letrista e cantor brasileiro. Que bom conhecê-lo!!!
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