Edição 159 –
Fevereiro/2014
Nesta edição trazemos novas poesias do VI
Concurso de Poesias “Paulo Viotti” do Jornal de fato, edição 2013. Continuamos
as publicações seguindo a ordem alfabética dos poemas.
De Marília de Lourdes Carvalho trazemos “É
vida também!” e “Fale comigo”. A dançarina Marília de Lourdes
Carvalho participou de Concurso de Poesias do Jornal de
fato pela primeira vez. Concorreu com três poemas: “Vida”, “É vida
também” e “Fale Comigo”. Venceu com o poema “Vida”. Marília nasceu em
Conselheiro Lafaiete e veio para Brumadinho ainda pequena. Mora no bairro São
Sebastião, ama a natureza, gosta de dançar, nadar, cantar. Durante muitos anos
foi professora de pré-escola e de dança. Gosta de escrever poesias, crônicas e
até letras de música.
Isabella Rayane é nossa segunda poeta desta
edição. Dela trazemos “Escrever”. Isabella inscreveu dois poemas, um deles, “Brumadinho
e Brumadinhenses”, já publicado em nossas páginas. Isabella tem 16 anos, é estudante do 2º ano do Ensino Médio. Tem paixão por
escrever e por criar o novo. Ama estar em família e entre os amigos. Ama
estudar idiomas, como inglês e espanhol, que estuda sozinha desde os 7 anos.
Mora em Aranha.
Valéria das Dôres
Moreira concorreu com os poemas “Inércia”, “Estações” e
“Itinerário”, esta, vencedora do prêmio “As 10 Melhores”. Nesta edição trazemos
“Inércia” e “Estações”. Valéria, nascida em Brumadinho, é Bacharel em Direito,
atualmente Secretária Municipal de Administração da Prefeitura Municipal de
Brumadinho. Ama literatura, especialmente poesia e mais ainda o poeta Manoel de
Barros. Gosta de culinária, vinho, música e bons diálogos. Adora postar fotos
sensíveis no facebook, tendo Brumadinho como pano de fundo.
De Paola Viotti trazemos o poema “Estrela”. Estudante de Psicologia,
estagiária no SEMEAR, escritora, cantora, pintora, artista. Além disso, filha
do nosso homenageado com o concurso, Vicente de Paula Viotti, o Paulo Viotti.
Aliás, a própria poesia é uma homenagem ao Pai, falecido no início do ano
passado.
Para fechar nossa edição, trazemos o poema “Indústria Faturadora”, de
Jéssica Rezende Silva, que se inscreveu com o pseudônimo de “Brisa”. Ela mora
no Parque da cachoeira. Concorreu com 3 poesias: Indústria Faturadora, Século
21, e O Mundo pede um novo movimento artístico. Ela tem 15 anos, gosta da
poesia chamada de marginal, de Chacal, Paulo Leminski. Jéssica realiza
trabalhos artísticos como intervenções, performances e recitais. Na verdade, é
uma amante da arte. Ela anda vivendo e pensando arte porque, acredita ela, a
arte liberta.
Vamos aos poemas!
É vida também!
Autora: Marília de Lourdes Carvalho
Pseudônimo: Mégh Liláh
Que
vida é essa minha gente
Eu
de cá e eles de lá.
Que
vida é essa gente!
Enquanto
sofro de cá
Outros
se alegram de lá.
E
não compartilham comigo
Nem
um abraço
De
um amigo.
Vida
que negam pra gente
Sem
se importar
Com
o que posso pensar
Nem
com as lágrimas
Que
sempre deixo rolar!
É
assim que me sinto
Com
essa vida sem gente
Quando
sorriem do alto
Choro
e caminho somente.
Quero
esta vida
Bem
vivida
Mesmo
como único amigo
Alguém
demente
E
que às vezes
Me
fere e mente,
Mas
que também
Me
deixa contente.
Solidão
que foi embora
Com
esse amigo
Que
me olha diferente
Olhos
cheios de amor
Outras
vezes
Insanos
e de terror,
Mas
é a vida que tenho
Mesmo
me causando pavor!
É
o único que me quer
É
tudo que tenho aqui
Esse
amor de pai
Muitas
vezes ausente
E
se for pra viver
Viverei
o tempo que for
Com
esse demente
Que
me trouxe à vida
Mesmo
que não tenha sido
Vida
vivida.
Somente
o ruído da chuva
Que
agora cai de mansinho
Molha
de lá e de cá
Com
o mesmo carinho
E
talvez eu adormeça
Com
meu amigo demente
Embalada
pelo seu
Burburinho.
Sei
que um dia,
Meu
amigo demente
Irá
para sempre,
Pois
tão fraco está,
Seu
corpo arqueado,
Olhos
tão embaçados,
Vai-se
sua visão
E
não verá da lua
Nenhum
clarão!
Às
vezes choro
Abraçada
a esse amigo
Que
no momento
Olha
para o chão,
E
então percebo
Que
para ele
Só
existe a escuridão.
E
terei mesmo
Que
seguir em frente
Pois
tenho certeza
Que
ele irá de repente...
E
minha alegria
Mesmo
que vá embora
Voltará
aos poucos
Acabando
de vez
Com
toda nostalgia.
E
da janela o que vejo?
Ali
logo em frente
Um
muro frio e cinzento
Que
me deixa descontente.
Da
janela lá de cima
Se
veem casas coloridas
Verdes
montanhas
E
o céu azul
São
paisagens tão queridas!
E
quando saio dali
E
volto para dentro,
O
que tenho agora,
Naquela
casa sombria
Além
da escuridão
Que
corrói e destrói?
É
um amigo demente
Um
doente
Mas
que ainda
É GENTE!
Marília, à direita, ladeada pro Arlete Balbino |
Escrever
Autora: Isabella Rayane
Ler
Criar
Reescrever
Reinventar
Tão
simples ao parecer
Difícil
quando vou escrever
A
cada dia uma palavra
Como
um olhar em cada piscada
Um
sonho se realizando
Ao
som de pássaros cantando
Um
livro, um rabisco
Como
um novo sol ao amanhecer...
É
assim o meu escrever.
Poeta Isabella Rayane |
Estações
Autora:
Valéria das Dores Moreira
Pseudônimo:
Gaia
Canto
porque a música
se faz presente então.
Em sintonia,
as estações se
sucedem
e a primavera,
na hora
derradeira de sua despedida
trouxe-me , além
das flores de sempre,
uma presença,
uma promessa de
vida lato sensu.
Trouxe as
canções de outrora
- as que canto
agora -
um primar de
cores,
e o perfume
cálido e terno
de um eterno
outono.
Canto e celebro.
Embora pareça
quieta
transborda em
profusão
uma profunda
e saborosa
inquietação,
onde a realidade
ora derrama
hectares de
lavanda
risos de alegria
genuína
cantos de tenor,
palavras antes
inodoras
antes ocultas,
com um certo dom
de cura.
Canto às cinzas
que voam,
às cicatrizes de
chagas
que se colaram
ao longo das
estações,
e que agora se
esmaecem
sob o julgo da
mesma
e
ainda mais intensa paixão.
Estrela
Autora:
Paola Viotti
Pseudônimo:
Zieni
Em cada canto, uma história,
em cada segundo, uma lembrança.
Em minha metade restante,
ele, inteiro.
Saudade, silêncio... presença!
A calma, o conforto, a fé,
o amor e a certeza da eternidade,
a paz de saber que quem se foi é estrela,
e sempre está presente, aqui.
Fátima e Paolinha Viotti |
Fale comigo
Autora: Marília de Lourdes Carvalho
Pseudônimo: Mégh Liláh
Fale
um pouco comigo
quero
ouvir tua voz
olhar
em teus olhos
e
dizer que te amo!
Fale
um pouco comigo
quero
sorrir com você
ver
teu rosto se iluminando
quando
olho pra você!
Fale
um pouco comigo,
quero
te abraçar apertado
sentir
teu coração bater
tão
forte quanto o meu
na
espera
de
um sorriso seu!
Fale
um pouco comigo,
mas
por favor
fale
hoje
pois
amanhã pode ser tarde
talvez
não possa mais te ver
quando
me for,
deixando-me
o coração
cheio
de dor.
Fale
um pouco comigo
segure
firme minha mão
amanhã
estará
mais
enrrugada e fraca,
para
apertar a sua
com
forte emoção.
Fale
um pouco comigo
mesmo
que por pouco tempo
quero
cantar mais uma vez
aquela
canção
que
eu fiz prá você.
Fale
um pouco comigo
filha
querida minha
sinto
tanto sua ausência
depois
que se foi daqui.
E
seus olhos verão
as
lágrimas que rolam
dos
meus,
deixando
valer a pena
esse
amor
que
é só seu!
Fale
comigo!
Fale
por muito tempo
gosto
da voz que soa meiga
do
abraço apertado
do
riso iluminando
meu
rosto já tão cansado,
cansado
de esperar,
esse
amor que talvez
pra
você
não
tem nenhum valor,
mas
que enche meu coração
de
esperança e calor!
Fale
comigo...
Mesmo
que seja pouco,
curando
meu coração louco
minha
voz quase rouca
pois
você é para mim
um
rio de águas claras
um
sol resplandecente
que
me deixa contente
em
um mundo
onde
pouca gente
AMA
mesmo
de
forma diferente.
Mas
nada se compara
ao
amor que sinto
ao
amor que brota
em
meu peito
e
aumenta;
e
nenhum escritor
inventa
e
poderá descrever
esse
grande amor
que
tenho por você!
Então,
fale comigo...
Estarei
esperando
ansiosa
e amorosa
você
chegar de repente
num
abraço aconchegante
e
ver em seu semblante
que
me ama
mais
que antes!
Fale
comigo!
Indústria Faturadora
Autora:
Jéssica: Rezende Silva
Pseudônimo:
Brisa
Nem adianta
Sem relance
Vamos vender a fazenda
E comprar uma fabrica de bacon
Para nós matar!
A água e o verde acabaram!
Viva a indústria!
Hoje a gente come dinheiro!
Inércia
Autora:
Valéria das Dores Moreira
Pseudônimo:
Gaia
Esqueçamos
as fotos
os
rostos
os
gestos inertes
as
cores
as
poses
os
flashes
os
planos de fundo
Esqueçamos
a cena,
inanimada,
o
olhar fixo na câmera,
o
sem jeito
de
parar um momento,
de
se deixar registrar
numa
tela,
num
negativo,
sei
lá.
Esqueçamos
a
atração imediata
mirada
na imagem
gerada
da imagem
apenas
pela imagem
desejo
de imagem
pensamento
com imagem
escolhas
pela imagem
Ah!
Não
esqueçamos tudo não
guardemos
os olhos,
além
do olhar
a
expressão de divagar
a
timidez ao se mostrar
a
coragem de se mostrar
a
necessidade de se mostrar
a
dúvida de se mostrar
Guardemos
da matéria
(da
fotografia)
a
história atrás da inércia
os
gestos interrompidos
a
mensagem silenciosa
o
papel da personagem
a tentativa de
aproximação
a
evidência da realidade
Colhamos
da inércia
da
imagem eternizada,
os
movimentos circunscritos,
os
ângulos inimagináveis,
os
momentos nada utópicos:
imagem
que cai, levanta,
percorre
caminhos,
inventa
trilhas,
dança,
se embala,
emaranha-se nas teias,
sonha
com outra imagem,
sente
perfumes distantes,
idolatra
as flores,
alimenta
amores,
se
alimenta de amores,
quase
morre de amores,
despoja-se
de preconceitos,
se
interroga, muda de opinião,
sente
solidão,
transpõe
distâncias infinitas
para
falar de si
além
da fotografia,
para
levar de si,
tudo
que foge à inércia.
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