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domingo, 23 de março de 2014

Edição 159 – Fevereiro/2014
Nesta edição trazemos novas poesias do VI Concurso de Poesias “Paulo Viotti” do Jornal de fato, edição 2013. Continuamos as publicações seguindo a ordem alfabética dos poemas.
De Marília de Lourdes Carvalho trazemos “É vida também!” e “Fale comigo”. A dançarina Marília de Lourdes Carvalho participou de Concurso de Poesias do Jornal de fato pela primeira vez. Concorreu com três poemas: “Vida”, “É vida também” e “Fale Comigo”. Venceu com o poema “Vida”. Marília nasceu em Conselheiro Lafaiete e veio para Brumadinho ainda pequena. Mora no bairro São Sebastião, ama a natureza, gosta de dançar, nadar, cantar. Durante muitos anos foi professora de pré-escola e de dança. Gosta de escrever poesias, crônicas e até letras de música.
Isabella Rayane é nossa segunda poeta desta edição. Dela trazemos “Escrever”. Isabella inscreveu dois poemas, um deles, Brumadinho e Brumadinhenses”, já publicado em nossas páginas. Isabella tem 16 anos, é estudante do 2º ano do Ensino Médio. Tem paixão por escrever e por criar o novo. Ama estar em família e entre os amigos. Ama estudar idiomas, como inglês e espanhol, que estuda sozinha desde os 7 anos. Mora em Aranha. 
Valéria das Dôres Moreira concorreu com os poemas “Inércia”, “Estações” e “Itinerário”, esta, vencedora do prêmio “As 10 Melhores”. Nesta edição trazemos “Inércia” e “Estações”. Valéria, nascida em Brumadinho, é Bacharel em Direito, atualmente Secretária Municipal de Administração da Prefeitura Municipal de Brumadinho. Ama literatura, especialmente poesia e mais ainda o poeta Manoel de Barros. Gosta de culinária, vinho, música e bons diálogos. Adora postar fotos sensíveis no facebook, tendo Brumadinho como pano de fundo.
De Paola Viotti trazemos o poema “Estrela”. Estudante de Psicologia, estagiária no SEMEAR, escritora, cantora, pintora, artista. Além disso, filha do nosso homenageado com o concurso, Vicente de Paula Viotti, o Paulo Viotti. Aliás, a própria poesia é uma homenagem ao Pai, falecido no início do ano passado. 
Para fechar nossa edição, trazemos o poema “Indústria Faturadora”, de Jéssica Rezende Silva, que se inscreveu com o pseudônimo de “Brisa”. Ela mora no Parque da cachoeira. Concorreu com 3 poesias: Indústria Faturadora, Século 21, e O Mundo pede um novo movimento artístico. Ela tem 15 anos, gosta da poesia chamada de marginal, de Chacal, Paulo Leminski. Jéssica realiza trabalhos artísticos como intervenções, performances e recitais. Na verdade, é uma amante da arte. Ela anda vivendo e pensando arte porque, acredita ela, a arte liberta.

Vamos aos poemas! 

É vida também!
Autora: Marília de Lourdes Carvalho
Pseudônimo: Mégh Liláh 

Que vida é essa minha gente
Eu de cá e eles de lá.
Que vida é essa gente!
Enquanto sofro de cá
Outros se alegram de lá.
E não compartilham comigo
Nem um abraço
De um amigo.

Vida que negam pra gente
Sem se importar
Com o que posso pensar
Nem com as lágrimas
Que sempre deixo rolar!
É assim que me sinto
Com essa vida sem gente
Quando sorriem do alto
Choro e caminho somente.

Quero esta vida
Bem vivida
Mesmo como único amigo
Alguém demente
E que às vezes
Me fere e mente,
Mas que também
Me deixa contente.

Solidão que foi embora
Com esse amigo
Que me olha diferente
Olhos cheios de amor
Outras vezes
Insanos e de terror,
Mas é a vida que tenho
Mesmo me causando pavor!

É o único que me quer
É tudo que tenho aqui
Esse amor de pai
Muitas vezes ausente
E se for pra viver
Viverei o tempo que for
Com esse demente
Que me trouxe à vida
Mesmo que não tenha sido
Vida vivida.

Somente o ruído da chuva
Que agora cai de mansinho
Molha de lá e de cá
Com o mesmo carinho
E talvez eu adormeça
Com meu amigo demente
Embalada pelo seu
Burburinho.

Sei que um dia,
Meu amigo demente
Irá para sempre,
Pois tão fraco está,
Seu corpo arqueado,
Olhos tão embaçados,
Vai-se sua visão
E não verá da lua
Nenhum clarão!

Às vezes choro
Abraçada a esse amigo
Que no momento
Olha para o chão,
E então percebo
Que para ele
Só existe a escuridão.

E terei mesmo
Que seguir em frente
Pois tenho certeza
Que ele irá de repente...
E minha alegria
Mesmo que vá embora
Voltará aos poucos
Acabando de vez
Com toda nostalgia.
                                     
E da janela o que vejo?
Ali logo em frente
Um muro frio e cinzento
Que me deixa descontente.
Da janela lá de cima
Se veem casas coloridas
Verdes montanhas
E o céu azul
São paisagens tão queridas!

E quando saio dali
E volto para dentro,
O que tenho agora,
Naquela casa sombria
Além da escuridão
Que corrói e destrói?
É um amigo demente
Um doente
Mas que ainda
É GENTE! 

Marília, à direita, ladeada pro Arlete Balbino
                 



















Escrever
Autora: Isabella Rayane

Ler
Criar
Reescrever
Reinventar
Tão simples ao parecer
Difícil quando vou escrever

A cada dia uma palavra
Como um olhar em cada piscada
Um sonho se realizando
Ao som de pássaros cantando

Um livro, um rabisco
Como um novo sol ao amanhecer...
É assim o meu escrever.

Poeta Isabella Rayane


Estações
Autora: Valéria das Dores Moreira
Pseudônimo: Gaia

Canto
porque a música se faz presente então.
Em sintonia,
as estações se sucedem
e a primavera,
na hora derradeira de sua despedida
trouxe-me , além das flores de sempre,
uma presença,
uma promessa de vida lato sensu.
Trouxe as canções de outrora
- as que canto agora -
um primar de cores,
e o perfume cálido e terno
de um eterno outono.

Canto e celebro.
Embora pareça quieta
transborda em profusão
uma profunda
e saborosa inquietação,
onde a realidade ora derrama
hectares de lavanda
risos de alegria genuína
cantos de tenor,
palavras antes inodoras
antes ocultas,
com um certo dom de cura.

Canto às cinzas que voam,
às cicatrizes de chagas
que se colaram
ao longo das estações,
e que agora se esmaecem
sob o julgo da mesma
e ainda  mais intensa paixão. 


















Estrela
Autora: Paola Viotti
Pseudônimo: Zieni

Em cada canto, uma história,
em cada segundo, uma lembrança.
Em minha metade restante,
ele, inteiro.
Saudade, silêncio... presença!
A calma, o conforto, a fé,
o amor e a certeza da eternidade,
a paz de saber que quem se foi é estrela,
e sempre está presente, aqui.
Fátima e Paolinha Viotti



















Fale comigo
Autora: Marília de Lourdes Carvalho
Pseudônimo: Mégh Liláh 


Fale um pouco comigo
quero ouvir tua voz
olhar em teus olhos
e dizer que te amo!
Fale um pouco comigo
quero sorrir com você
ver teu rosto se iluminando
quando olho pra você!
Fale um pouco comigo,
quero te abraçar apertado
sentir teu coração bater
tão forte quanto o meu
na espera
de um sorriso seu!
Fale um pouco comigo,
mas por favor
fale hoje
pois amanhã pode ser tarde
talvez não possa mais te ver
quando me for,
deixando-me o coração
cheio de dor.
Fale um pouco comigo
segure firme minha mão
amanhã estará
mais enrrugada e fraca,
para apertar a sua
com forte emoção.
Fale um pouco comigo
mesmo que por pouco tempo
quero cantar mais  uma vez
aquela canção
que eu fiz prá você.
Fale um pouco comigo
filha querida minha
sinto tanto sua ausência
depois que se foi daqui.
E seus olhos verão
as lágrimas que rolam
dos meus,
deixando valer a pena
esse amor
que é só seu!
Fale comigo!
Fale por muito tempo
gosto da voz que soa meiga
do abraço apertado
do riso iluminando
meu rosto já tão cansado,
cansado de esperar,
esse amor que talvez
pra você
não tem nenhum valor,
mas que enche meu coração
de esperança e calor!
Fale comigo...
Mesmo que seja pouco,
curando meu coração louco
minha voz quase rouca
pois você é para mim
um rio de águas claras
um sol resplandecente
que me deixa contente
em um mundo
onde pouca gente
AMA mesmo
de forma diferente.
Mas nada se compara
ao amor que sinto
ao amor que brota
em meu peito
e aumenta;
e nenhum escritor
inventa
e poderá descrever
esse grande amor
que tenho por você!
Então, fale comigo...
Estarei esperando
ansiosa e amorosa
você chegar de repente
num abraço aconchegante
e ver em seu semblante
que me ama
mais que antes!
Fale comigo!

Indústria Faturadora
Autora: Jéssica: Rezende Silva
Pseudônimo: Brisa

Nem adianta
Sem relance
Vamos vender a fazenda
E comprar uma fabrica de bacon
Para nós matar!
A água e o verde acabaram!
Viva a indústria!
Hoje a gente come dinheiro!

Inércia
Autora: Valéria das Dores Moreira
Pseudônimo: Gaia

   
Esqueçamos as fotos
os rostos
os gestos inertes
as cores
as poses
os flashes
os planos de fundo

Esqueçamos a cena,
inanimada,
o olhar fixo na câmera,
o sem jeito
de parar um momento,
de se deixar registrar
numa tela,
num negativo,
sei lá.

Esqueçamos
a atração imediata
mirada na imagem
gerada da imagem
apenas pela imagem
desejo de imagem
pensamento com imagem
escolhas pela imagem

Ah!
Não esqueçamos tudo não
guardemos os olhos, 
além do olhar
a expressão de divagar
a timidez ao se mostrar
a coragem de se mostrar
a necessidade de se mostrar
a dúvida de se mostrar

Guardemos da matéria
(da fotografia)
a história atrás da inércia
os gestos interrompidos
a mensagem silenciosa
o papel da personagem
  tentativa de aproximação
a evidência da realidade


Colhamos da inércia
da imagem eternizada,
os movimentos circunscritos,
os ângulos inimagináveis,
os momentos nada utópicos:
imagem que cai, levanta,
percorre caminhos,
inventa trilhas,
dança, se embala,
emaranha-se  nas teias,
sonha com outra imagem,
sente perfumes distantes,
idolatra as flores,
alimenta amores,
se alimenta de amores,
quase morre de amores,
despoja-se de preconceitos,
se interroga, muda  de opinião,
sente solidão,
transpõe distâncias infinitas
para falar de si
além da fotografia,
para levar de si,
tudo que foge à inércia.









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