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terça-feira, 17 de junho de 2014

Edição 162 – Maio/2014
Dia Mundial do Meio AmbienteA mudança está em tuas mãos."
Mineradoras X Moradores: mais um round dessa luta

O Dia Mundial do Meio Ambiente foi criado por uma única razão: a depredação do meio ambiente e a crescente consciência dos cidadãos de todo o mundo sobre a necessidade de protegê-lo, para nossas gerações e as gerações futuras. Quando se comemora a data mais uma vez, o de fato traz, também mais uma vez, a problemática levantada por um dos setores há muito amplamente questionado, o setor de mineração. 
A reclamação vem da moradora de Córrego do Feijão, Rejane Moraes.
Rejane reclama da MIB – Mineradora Ibirité – a quem já denunciou no Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente - CODEMA - de Brumadinho, na Ouvidoria Ambiental do Estado de Minas Gerais, no Conselho Estadual de Política Ambiental – COPAM –, no Ministério Público de Meio Ambiente, na Superintendência Regional de Regularização Ambiental - SUPRAM - e até na Procuradoria Geral do Estado, que solicitou da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, em documento de 28/3/14, que averiguasse “a pertinência ou não de suas (dos denunciantes) as alegações, inclusive com a avaliação da conveniência de suspender a deliberação sobre o pedido de LO do empreendimento até que todas as questões mencionadas sejam devidamente esclarecidas”.
Moraes aponta como irregularidades o licenciamento da Mineradora de Ibirité, já que, segundo ela, “a área PIT 5 já está exaurida”, o que significaria que a área foi explorada pela mineradora sem a licença do COPAM. Aponta ainda que a área de atuação da empresa (áreas PIT4 e PIT5), já chega muito próximo das residências do Córrego do Feijão, a 200 metros. “A MIB vem prejudicando vários moradores do Córrego do Feijão, o que gerou discussão no Copam”, garante a moradora Rejane Moraes.
Segundo Moraes, “hoje a mineradora MIB já faz detonações a 200 metros das casas que trazem impactos violentos, barulho de máquinas (rompedor hidráulico) que funciona dia e noite, poeira, tráfego de 250 carretas/dia, além de rachaduras e trincas em suas casas. As casas balançam, trepidam, o telhado estala e as luzes piscam”. “A MIB detona até 300 furos, mais ou menos, usando de 4 a 7 kg de dinamite por furo, ou seja, são quase duas toneladas de dinamite em cada explosão”, acrescenta a moradora. Ela garante que a mineradora prejudica também o meio ambiente, já que em sua casa existem “151 espécies de árvores, entre Pau Brasil, Jequitibá, Baobá, cedro, 550 pés de jabuticabas e 700 pés de mogno”.
Já Ricardo Storino Moraes, marido de Rejane, enviou carta ao Prefeito Municipal, Antônio Brandão (PSDB), em que comunica ao Chefe do Poder Executivo que, em 30 de abril deste ano, ele teria feito “denúncia à Secretaria de Planejamento e Coordenação pela anexação ao patrimônio da MIB de duas ruas situadas em Córrego do Feijão”. A empresa teria cercado as ruas com arame farpado, e a irregularidade teria sido inclusive comprovada pela Secretaria através de fotos de satélite. Em sua carta ao Prefeito, Moraes diz que a MIB dissera que as ruas já lhe pertenciam e que a Prefeitura “não tinha pessoal e capacidade técnica para definir a situação das vias” e que a SEPLAC não tomara providências. Moraes terminou sua carta ao prefeito informando que é “o maior produtor individual de jabuticabas e árvores de mogno do município”.   
 

Acima, a rua, antes e depois das intervenções da MIB


Moradora busca apoio nos entes estatais

Segundo a moradora, ela entrou em contato com a Ouvidoria Ambiental do Estado de Minas Gerais que já teria solicitado ao Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM) explicações e providências cabíveis em relação ao ofício da Superintendência Regional de Regularização Ambiental (SUPRAM) apresentado por ela que na última reunião apontou mais irregularidades em relação ao licenciamento da Mineradora. Ela informa que na última reunião do COPAM, realizada no último dia 29/4, foi aprovada a ata da reunião de 01/04 que liberou o licenciamento para a mineradora avançar ainda mais em sua área de atuação (áreas PIT4 e PIT5).  Neste 1º de abril, a moradora fez uso da palavra mas teria sido impedida de ler o ofício do Procurador Geral do Estado de Minas Gerais, Roney Luiz Torres Alves da Silva, que pedia explicações sobre o processo de exploração da mineradora.
Segundo a moradora, que reside na localidade desde 1990, o CODEMA de Brumadinho não considerou suas reclamações. Ela diz que a conselheira Sulamita Moreira Fernandes (representante do Instituto de Inhotim), pediu vistas do processo na reunião do dia 25 de fevereiro e depois votou a favor da mineradora.

Relatório do CODEMA

Nossa reportagem teve acesso ao “PARECER Nº 001, de 05 de Fevereiro de 2014, da COMISSÃO DE RELACIONAMENTO COM AS MINERADORAS – CRM” – do CODEMA, “sobre denuncias suscitadas pelo morador de Córrego do Feijão Ricardo Storino Morais”, entregue ao órgão na reunião do dia 29 de novembro de 2013. Trata-se de documento de seis páginas, em que é relatada reunião intermediada pela Comissão entre as partes, e que termina, em sua conclusão, com uma série de sugestões. 
Além das informações prestadas ao jornal pela moradora Rejane Moraes, o Relatório aponta outras apresentadas por Ricardo Storino, como “irregularidades no último procedimento licitatório para expansão das atividades, vez que a empresa omitiu dados relevantes de forma a obter a concessão”, bem como manipulação de situações e laudos; não cumprimento da “a condicionante de umectação das estradas”; “rachaduras na residência em virtude de detonações”; que a empresa teria antecipado as detonações e reduzido o volume das mesmas quando da visita do Ministério Público, membros da Secretaria de Meio Ambiente e Associação de Córrego do Feijão, de forma a manipular o impacto provocado e consequentemente sentido pelas detonações. 
Segundo o relatório, a reunião com a MIB e o Sr. Ricardo teria acontecido “no dia 04 de dezembro de 2014”, com presença dos conselheiros integrantes da Comissão, “Sr.ª Sirlei de Brito Ribeiro; Sr. Douglas Vinicius Campos Maciel; Sr. Sergio Viana; Sr. Antônio Sérgio Santos Vieira”, os representantes da Denunciada Srº Walter Theodor Johann Bartoschik - Diretor Geral; Sr. Anauri Alves Guimarães – Gerente Geral; Sr.ª Maria Ilza Soares – Analista de Relações com a Comunidade e o Sr. João Carlos R.M. da Silva – Engenheiro Geólogo e Engenheiro de Minas, da Empresa Sequencia Engenharia Projetos e Meio Ambiente Ltda, responsável pelo “medição sismográfica no ato de detonações” da Empresa denunciada; e o denunciante, além da Sr.ª Lenice Neves Guimarães e Marcos Luiz de Aguiar, da Secretaria de meio Ambiente e o Conselheiro Luiz Roberto Bendia - representante da APA SUL.
Durante a reunião, conta o Relatório, a empresa se defendeu de todas as acusações, inclusive apresentando fados técnicos. A Comissão concluiu que, no que se referia à umectação da área; bem como pelo encaminhamento de oficio a SUPRAM para que informasse a ela, “à luz das normas vigentes sobre a necessidade, ou não, de se nominar as casas existentes no entorno do empreendimento quando da apresentação do EIA/RIMA, ou se a planta com a indicação das casas é suficiente; bem assim sobre a necessidade ou não de constar no mesmo documento eventuais impactos sobre os imóveis”.
Concluiu ainda, sobre o excesso de poeira, que “cabe aos órgãos próprios a fiscalização e controle efetivo da umectação na forma ajustada pelos envolvidos, ou seja, 06 (seis) vezes ao dia”, “a explicação apresentada pelo serviço técnico da Empresa foi esclarecedora” e que respeita as “Normas Técnicas”.
O Relatório da Comissão foi aprovado pelo plenário do CODEM Ana reunião de 7 de fevereiro.

Posição da SUPRAM

A Prefeitura de Brumadinho consultou a Superintendência Regional de Regularização Ambiental, SUPRAM, sobre a acusação de que a MIB teria omitido dados nos estudos ambientais referentes á ampliação de lavra. Em resposta, a SUPRAM disse que solicitou à MIB que prestasse esclarecimentos, o que tria sido feito pela empresa através de ofício. O documento esclareceria que das 7 propriedades existentes na área, somente a de Rejane e Ricardo não fora adquirida pela empresa.
A SUPRAM terminou seu documento endereçado à Prefeitura informando que na 75ª Reunião ordinária da URC Rio Paraopeba, “foi concedida Licença de Operação à MIB, com validade de 4 anos”. E que uma das condicionantes foi a de que a MIB continuasse a “execução dos monitoramentos já realizados pela empresa, tais como qualidade do ar, ruído e vibração”, em especial em relação à residência dos denunciantes. O documento é datado de 2 de abril.

A reportagem do de fato tentou ainda falar com o novo Secretário de Estado do Meio Ambiente, Alceu José Torres Marques, a fim de saber se ele tomara conhecimento do ofício do Procurador Geral do Estado de Minas Gerais sobre a questão. No entanto, todas as vezes que ligou para seu gabinete, foi informada de que ele estava “em reunião” e não poderia atender. 

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