Edição 172 –
Março 2015
Editorial
Democracia sempre mais! Ditadura
nunca mais!
A
atual crise econômica mundial começou a se desenhar em 2007, por causa das
chamadas hipotecas subprime, que ofereciam empréstimos para compras de imóveis
a clientes com elevado risco de créditos. Como bancos do mundo inteiro
investiam nesses papéis, a crise se espalhou pelo Globo todo.
Em
15 de setembro de 2008, com a quebra do banco americano Lehman Brothers tem-se
início a maior crise econômica da história desde a chamada Grande Depressão de
1930. Dos EUA, a crise se espalhou pela Europa, atingindo primeiramente Grécia,
Irlanda, Espanha, Portugal e Itália. O desemprego explodiu, benefícios para a
população foram cortados. Reino Unido,
Alemanha, Japão, Holanda, França, todos são obrigados a socorrerem bancos em
processo de falência. O FMI tem que socorrer a Islândia e a Ucrânia. Os EUA se
veem obrigados a concederem empréstimos a Cingapura, México e Coreia do Sul. O
Banco Mundial promete triplicar ajuda aos países em desenvolvimento e a Itália
destina 80 bilhões de euros para combate à crise. O G7 (sete países mais
desenvolvidos do mundo) e o G20 (países avançados e em desenvolvimento)
anunciam planos de combate à crise. Ainda em 2008 a 2009, a União Europeia
apresenta planos de combate à crise.
Já
em 2009, a Alemanha (do G7) entra em recessão técnica, como consequência da
crise. Os EUA estão em recessão desde 2007, onde a classe média passa a ter
dificuldades até para se alimentar. Enquanto isso, em 2009, o Brasil entra no
noticiário internacional como o queridinho para investimentos, chamado pela
revista Newsweek como “potência regional única”. A revista The Economist diz
que o Brasil é “a maior história de sucesso na América latina”, ano em que o
País torna-se credor do FMI, com a compra de 10 bilhões de dólares em bônus, e
o dólar perde cerca de 25% de seu valor em relação ao Real. No entanto, a
Embraer, fabricante e exportadora de aviões, sente a crise e tem que cortar 4.000
empregos. No 3º trimestre o Brasil volta a crescer. É neste ano que a governo
do Presidente Lula toma a decisão de reduzir e retirar impostos. O IPI de
veículos e da linha branca (eletrodomésticos) foi retirado, aumentando as
vendas, aquecendo a indústria e o nível de emprego e elevando o crescimento no
PIB. Neste ano a Selic fechou em 8,75%, menor taxa desde 1999.
Em
2010, a Espanha fez corte de 15 bilhões de euros no seu orçamento para reduzir
seu déficit. Nesse ano o PIB brasileiro cresceu 8,9%, o maior desde 1996. Mesmo
ano em que a Irlanda teve que ser ajudada pelos europeus. A União europeia
aprova pacote de 750 bilhões para ajudar os países da zona do euro.
Em
2011 a Grécia passa por um dos seus piores momentos enquanto no Brasil, em
abril, temos o menor índice de desemprego desde 2002. O Brasil volta a cortar
impostos para compra de eletrodomésticos e aplicações financeiras. Dólar cai
para R$ 1,554, menor valor dos últimos 12 anos.
Em
2012, a Grécia não apenas dá calote em metade de sua dívida com a iniciativa
privada como aumenta impostos, corta salários, pensões e empregos. Na Espanha,
você deve se lembrar, caro leitor, a população teve que deixar casas, abandonar
veículos, tirar crianças da escola privada, tudo por ter perdido seu emprego. Mais
de 500 famílias eram despejadas de suas casas a cada dia, por não suportarem o
pagamento do aluguel ou das prestações imobiliárias. Em menos de um mês, 4
suicídios. Neste mesmo ano, o desemprego na zona do euro bate recorde, chegando
a 11,7% da população desempregada, 19 milhões de pessoas, o maior contingente
na história do Bloco. Grécia e Espanha têm 25% de sua população desempregada.
Novamente os bancos centrais de diversos países (EUA, China, Japão, Inglaterra)
injetam dinheiro na economia para tentar conter a crise. Isso aumenta a entrada
de dólares no Brasil e prejudica nossas exportações, crítica feita por Dilma na
reunião da ONU.
Em
2013, estudo diz que o Brasil pode se tornar a 4ª economia do mundo até 2050. A
Espanha tem 3 milhões de pessoas na pobreza extrema (em torno de 7% do total),
enquanto é erradicada no Brasil. No Chipre, banco é fechado, saque limitado a
300 euros e no Brasil Dilma inclui mais oito setores no corte de tributos da
folha de pagamentos, como forma de incentivar o emprego enquanto a OIT
(Organização Internacional do Trabalho) anuncia que 1 milhão de europeus
perderam o emprego nos últimos 6 meses. No EUA a taxa de desemprego cai, com o
país começando sua recuperação, crescendo 1,7% enquanto a Itália tem a recessão
mais longa, com queda do PIB. Irlanda volta oficialmente à recessão; agência de
risco rebaixa nota da França em meio à crise continuada na zona do euro, com
recessão já de 1 ano e meio; na Grécia desemprego chega a 27,6%; Espanha loteia
espaços naturais e históricos buscando saídas para a crise. Economia brasileira
cresce 3,3% no ano.
Ainda
em 2013, os EUA começam a dar sinal de recuperação, mesmo ano em que a China –
a economia que mais crescia no mundo - dava mostras do contrário, desacelerando
seu crescimento.
O
Brasil conseguiu se segurar, aumentou sua poupança (superávit primário),
retirou IPI de veículos e dos eletrodomésticos, continuou aumentando o nível de
emprego e o PIB continuou crescendo.
Em
função da globalização econômica em que vivemos na atualidade, a crise se
espalhou pelos quatro cantos do mundo, como pode se ver acima, derrubando
índices das bolsas de valores e criando um clima de pessimismo na esfera
econômica mundial. Mesmo assim, até 2014, com os dois governos petistas (de
Lula, depois, Dilma) tomando as atitudes que tomaram, o Brasil conseguiu
segurar a crise. No entanto, como se vê, a crise mundial permanece, com
escassez de crédito e consequente fuga de capitais de investidores
internacionais.
A
queda, ou baixo crescimento do PIB dos países da União Europeia em função do
desaquecimento da economia dos países do bloco faz com que diminuam a
importação ou impedem que continuem importando do Brasil tal como vinham
fazendo (como a China comprando nosso minério). Quando se exporta mais, fabrica-se
mais, aumenta-se o emprego etc etc. Mas se os países de fora não podem comprar
mais, exportamos menos, fabricamos menos e a consequência é menos investimentos
e menos dinheiro no Brasil.
Ora,
não há como não ocorrer contaminação da crise para países fora do bloco europeu
ou dos EUA. Países que mantém relações comerciais com a União Europeia ou EUA,
como o Brasil, são necessariamente atingidos. A crise pode, de acordo com
economistas, causar recessão econômica mundial. Não é um problema isolado do
Brasil, como poderemos perceber se prestarmos um mínimo de atenção.
Curiosamente,
os EUA acabam de ter uma recuperação acima da expectativa, o que fez com que o
dólar tivesse uma alta, não apenas em relação ao Real (prejudicando ainda
nossas exportações) mas em relação a várias moedas mundiais, inclusive o Euro.
É
verdade que o Brasil passa por uma crise. Mas também é verdade que o Brasil se
segurou como nenhum outro país no mundo, enquanto foi possível. Se não
entendermos isso, continuaremos achando que a corrupção no Brasil aumentou ao
invés de entendermos que o que aumentou foi o combate a ela; continuaremos
falando besteira, escrevendo besteira, pedindo impeachment da Presidenta, e
achando que a solução é a volta dos Militares.
Não!
A solução é manter a esperança, estudar um pouco de história e geopolítica, ler
fontes alternativas que não sejam da grande e reacionária imprensa brasileira,
e cobrar do nosso governo central atenção e medidas concretas para que o País
suporte a crise mundial e para que soframos menos com ela. Ou perderemos nossas
preciosas força e energia com besteiras do tipo “Fora Dilma”, “Impeachment já”
e pedido de volta do governo militar, marcado, especialmente, pelos
assassinatos de quem a ele era oposição.
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