Edição 186 – Maio 2016
Opinião
Proposta
de emenda constitucional agride a legislação ambiental
Reinaldo Dias
No último dia 27 de abril, a Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) do Senado aprovou Proposta de Emenda Constitucional (PRC), de n. 65/2012,
que modifica a legislação ambiental. Agora a proposta será encaminhada ao
plenário para deliberação.
A proposta é um texto simples em seu enunciado afirmando que o
artigo 225 da Constituição passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo 7º.
“A apresentação do estudo prévio de impacto ambiental importa autorização para
a execução da obra, que não poderá ser suspensa ou cancelada pelas mesmas
razões a não ser em face de fato superveniente”.
Na realidade sua simplicidade oculta uma grave agressão à
legislação ambiental, pois torna irrelevante a exigência de licenciamento
ambiental para obras. A partir da apresentação do Estudo de Impacto Ambiental
(EIA), nenhuma obra – pública ou privada – objeto de licenciamento ambiental
poderá ser interrompida.
O licenciamento ambiental é um dos pilares da legislação
ambiental brasileira. Qualquer obra para estabelecer sua viabilidade deve
apresentar o EIA e cumprir os três passos do licenciamento ambiental.
Primeiramente solicitar a licença prévia ambiental e somente após a aprovação
desta se pede a licença de instalação, que permitirá que se inicie o
empreendimento. Na última etapa, caso sejam cumpridos os ajustes indicados pelo
órgão ambiental, é fornecida a licença de operação que autoriza o funcionamento
do empreendimento. A PEC 65, na prática, ignora essas fases do licenciamento.
Aproveitando-se do atual momento de crise que vive o país, os
defensores da PEC se aproveitam do caos político institucional para,
discretamente, acelerarem a tramitação da proposta. Tendo sido apresentada em
2012, foi somente no final de 2015 que voltou a tramitar com rapidez.
Caso seja aprovada, a medida impedirá a análise de todo
processo de licenciamento com a consequente dificuldade na identificação dos
impactos negativos dos empreendimentos tanto nos níveis federal quanto
estadual.
Um dos principais argumentos dos defensores da PEC é que a
proposta garante maior agilidade e consequente economia de recursos em obras
sujeitas ao licenciamento ambiental. Ocorre que a solução do problema de maior
celeridade não está na eliminação de mecanismos que garantem uma relação mais
sustentável entre economia e meio ambiente, mas em tornar mais eficaz e
eficiente a máquina pública. O problema está na melhoria da gestão pública
ambiental com foco na melhor articulação entre o econômico, o social e o
ambiental.
A legislação é cautelosa, como deve ser, pois envolve a
liberação da instalação de empreendimentos em locais que certamente serão
afetados pela obra, tanto do ponto de vista social quanto ambiental. Os
processos naturais que formaram e mantém o ecossistema local que será afetado
ocorreram durante muitos anos. Em alguns casos contam-se aos milhares ou
milhões de anos para se consolidar e entrar em equilíbrio, que pode ser
alterado bruscamente pela intervenção humana. Desse modo toda cautela é pouca.
O processo de licenciamento, na maioria dos casos não é lento,
é cauteloso, pois a avaliação de impacto ambiental envolve inúmeras variáveis e
profissionais de diversas áreas que devem sugerir medidas mitigadoras para
diminuir os efeitos da obra sobre o meio ambiente.
O cenário futuro numa eventual aprovação da PEC 65/2012 é de
aumento da agressão aos ecossistemas mais sensíveis, aumento do desmatamento,
destruição de habitats, deslocamento de populações que dependem diretamente de
recursos naturais e que se encontram no entorno do empreendimento entre outros
prejuízos e retrocessos.
Esse quadro indica a necessidade da sociedade se mobilizar para
barrar o avanço da PEC 65/2012 no Senado. Lembremos do famoso poema que começa
assim: “Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada”. E continua o poeta
mostrando que temos que barrar ideias retrógradas em seu início. Nesse caso,
vamos impedir que a proposta prospere. Nenhuma flor será roubada.
*Reinaldo Dias é professor da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, campus Campinas. É Doutor em Ciências Sociais, Mestre em Ciência
Política pela Unicamp. É especialista em Ciências Ambientais.
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