Edição 197 – Abril 2017
Terceirização e
Reforma Trabalhista
As consequências
da Reforma Trabalhista (e Terceirização)
As frentes utilizadas pelo governo Michel
Temer (PMDB/PSDB) para atacar direitos e agradar o mercado financeiro são diversas
e uma das iniciativas mais nefastas é a “reforma” trabalhista. Usando a justificativa da “modernização das
leis”, o governo fez aprovar na Câmara Federal o Projeto de Lei (PL) 6787/16,
que na realidade representa um grande golpe contra a Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT)
e uma grave
ameaça às conquistas
dos trabalhadores brasileiros.
O que o PL permite, na prática, são
jornadas de até 12 horas diárias sem o pagamento de horas extras e a liberdade
para que patrões negociem com os trabalhadores até mesmo garantias
fundamentais, como remuneração, férias e até o horário de almoço. O Presidente
da FIESP já disse que 15 minutos seriam suficientes para o trabalhador almoçar.
Negociado sobre o legislado
A intenção do governo é fazer com que os
acordos negociados entre patrões e funcionários se sobreponham ao que diz a
legislação trabalhista brasileira. Isto vai contra a essência dos acordos
coletivos, já que estes instrumentos foram criados para ampliar a proteção
social dos trabalhadores, nunca para retirar direitos.
Se aprovado e sancionado, o Projeto de Lei
vai liberar a negociação da redução de pagamento de horas extras e da
remuneração por rendimento, por exemplo, precarizando direitos que estão
previstos em lei.
Por isso, o que se chama de “reforma”
representa, na verdade, o desmonte da legislação trabalhista em benefício
apenas dos patrões. Veja abaixo o que poderá acontecer se a reforma for
aprovada no Senado.
Jornada de trabalho
A jornada diária, que hoje é de 8 horas, poderá
passar para 12 horas.
Prorrogação de contrato temporário
Como se já não bastasse a prorrogação aprovada
junto ao projeto da terceirização irrestrita (que permite contratos temporários
de até 120 dias), o governo pretende, com o PL 6787, que seja possível prorrogar
estes contratos por até 240 dias. Isso mesmo: oito meses de trabalho
“temporário”, sem efetivação do trabalhador
e sem garantias
de proteção previstas na CLT.
Organização dos trabalhadores
A “reforma” enfraquece a organização coletiva dos
trabalhadores, já que abre a possibilidade de as negociações ocorrerem por
empresas, e não por categorias. Além disso, o PL prevê que empresas com mais de
200 empregados poderão negociar com seus funcionários sem a participação de
sindicatos. Com isso, os trabalhadores perdem sua capacidade de pressionar os
patrões.
Remuneração por produtividade
A remuneração por produtividade também será
decidida pelo acordo coletivo. O maior receio é que isto desobrigue os
empregadores de pagarem o piso de categorias ou, até mesmo, o fim do salário
mínimo.
Registro de ponto
O controle da jornada de trabalho também será
flexibilizado, podendo ser decidido em acordo coletivo. Com isso, abre-se a brecha para o fim do
registro de ponto
e a exploração dos
trabalhadores sem a presença de métodos eficientes para este
controle.
Trabalho escravo
Quem for acusado de trabalho escravo responderá
apenas na esfera trabalhista, não mais criminalmente. Isto se soma ao empenho
de alguns parlamentares em retirar a jornada exaustiva e as condições
degradantes do conceito de trabalho escravo.
Intervalos entre jornadas
A “reforma” de Temer permitirá que o horário de
almoço seja reduzido para 30 minutos nas empresas.
Parcelamento das férias
As férias poderão ser parcelas em até três vezes.
Uma dessas frações deve corresponder ao menos a duas semanas de trabalho.
Horas extras
As negociações sobre banco de horas serão feitas
através dos acordos coletivos, ficando garantido apenas o acréscimo
de 50% no valor pago pela hora
extra.
As perdas podem ser grandes para os trabalhadores
ao se considerar também as modificações na jornada de trabalho.
A terceirização e
os concursos
Veja abaixo como ficam as diversas
categorias com a aprovação da Terceirização. Como a Lei prevê que tudo pode ser
terceirizado, na prática é o fim dos concursos públicos. Veja a quem afeta e a
quem não afeta.
Na área publica
NÃO AFETA:
❌ Exercito, marinha e aeronáutica.
❌ Magistratura, defensoria pública, promotoria e
corregedoria
❌ Segurança pública, PM, PF, PRF e bombeiros.
❌ Auditores, analistas e técnicos de área fiscal e
judiciária
AFETA:
✔Bancos,
Petrobras e demais
✔Detran,
Correios e demais Empresas públicas
✔Agências
reguladoras
✔Técnico
e analista de área administrativa e de informática (Receita e Tribunais)
✔INSS
✔Magistério
✔Departamento
Penitenciário
✔Profissionais
de saúde, médico, enfermeiro, maqueiro etc
Na área privada:
⛔ 9 meses de experiência (demissão sem indenização).
⛔ As empresas poderão demitir sem indenização após
terminar o contrato de terceirização.
⛔ Terceirizados recebem 30% a menos, esse valor vai para
pagar a terceirizados.
⛔ 70% dos acidentes de trabalho são com empregados
terceirizados.
⛔ Vai aumentar a rotatividade, a maioria das pessoas
serão demitidas após os 9 meses e não terão ferias mais 1/3 de férias. O
funcionário vai pular de uma empresa para a outra a cada 9 meses, nunca ficará
um ano na mesma empresa para ter direito a férias.
⛔ Mulheres que engravidarem nesses 9 meses não terão
direito a estabilidade.
Tópicos importantes:
🚩 A terceirização é irrestrita, afeta tanto
atividade meio quanto fim.
🚩 Foi removido do texto votado o artigo que
exclui a administração direta, portanto também a afeta.
🚩 Acesso a cargos públicos somente por
concurso (art 37 da Constituição). Cabe ADI - Ação Direta de
Inconstitucionalidade.
🚩 Lei que dispuser sobre acesso aos cargos
públicos deve ser de iniciativa do presidente, não é o caso, essa lei foi
iniciada no Senado, logo é desvio de competência.
Exemplo:
No Serviço Público, os governos federal,
estaduais, municipais e distrital devem preparar um PDV - Programa de Demissão
Voluntária -, com abrangência ampla, para os funcionários de nível médio, como
agentes administrativos e afins, e depois poderão contratar livremente funcionários
terceirizados pagando um terço do salário dos que saíram.
Aqueles concursados estatutários/celetistas
que insistirem em ficar no serviço público terão aumentos mínimos e baixíssimo
poder de pressão sindical.
Estudar é importante, mas mostrar para o
governo golpista sua insatisfação com essa lei deve ser prioridade.
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