Edição 152 –
Julho/2013
Opinião
Planejamento
em Brumadinho
Susana Leal Santana*
O desenvolvimento do município
de Brumadinho pode dar marcha à ré, pois quem não sabe o que é crescimento
planejado pressiona para manter seu status quo, ou seja: “não mudar nada porque
assim está bom pra mim”.
O individualismo do interesse
econômico pequeno que sempre prevaleceu sobre o interesse coletivo não se
importa se aumentam os loteamentos irregulares que favelizam a paisagem urbana
e ocupam áreas de risco; se o trânsito de caminhões de carga engarrafa, prejudica
a pavimentação e coloca em risco a população; se o município é seccionado por
uma sede encantoada ligada a Betim de um lado e povoados e condomínios ao pé
das serras ligados a Belo Horizonte de outro; se o centro geográfico municipal
fica no desprivilegiado Aranha; se o cidadão de Suzana tem que viajar mal 36 km
pra comprar pão e ir ao médico; se Casa Branca é
bairro da sede a 24 km de distância
dela, ligada por estrada de terra cheia de caminhões pesados; se os históricos
povoados do distrito de São José do Paraopeba estão contemplados por serviços públicos ou não,
etc, etc.
Brumadinho é belo, é procurado
e admirado, mas corre o risco de se tornar mais uma periferia degradada da
capital. O desenvolvimento planejado veio para impedir que tal aconteça. O
individualismo não pode prevalecer para impedi-lo.
O planejamento urbano e
territorial foi baseado na realidade levantada visualizando um futuro que já
começou, resolvido pela população em audiências públicas, que redundou nas leis
do ordenamento municipal.
O uso e ocupação do solo são
definidos pela leitura espacial de cada local, vislumbrando onde e como
expandir o crescimento ou mesmo inibir, porque ali não há estacionamento, não
há passeios bem dimensionados, não há caixa de ruas que permitam intensificar o
tráfego de veículos no mesmo local cujos lotes, ruas e passeios são os mesmos
da formação da cidade, erigida a mais de 100 anos atrás no entorno da ferrovia.
Implantar uma rodoviária ou um
supermercado sem prever o impacto no trânsito, sem prever estacionamento
suficiente é irresponsabilidade. Não cumprir a lei 1198/2001 (Diretrizes para a
Estruturação do Espaço Urbano do município de Brumadinho) que decidiu por um
binário no sistema viário que dividiria o fluxo da única ponte do centro da
sede com outra mão na direção da Av. Vigilato Braga / Bananal, deu no gargalo
que atravanca o transito hoje. Esse é um exemplo explícito das consequências
ruins, de boa proposição de planejamento urbano transformado em lei, que foi
desperdiçado e ainda não implantado.
Não integrar a estação
ferroviária e o casario histórico com as áreas verdes das margens do rio Paraopeba,
adotando passarela de pedestre que ligue as duas margens, é ignorar o potencial
existente para implantação de um parque linear central. A qualidade da paisagem
urbana resultante deste projeto urbanístico juntamente com a adoção de um
PRAUC- Plano de Requalificação de Área Urbana Central, à semelhança do que já
foi feito para a linha verde da região metropolitana, daria orgulho ao
brumadinhense e não espantaria o turista que hoje busca Inhotim. As grandes
forças que decidem o futuro de Brumadinho são as mineradoras, o Inhotim e os
loteadores. A mineração não é eterna, o Inhotim alavanca o turismo e pretende
sua melhor integração à região metropolitana através de eixos viários que podem
dividir o município
mais ainda, um lado para Betim e outro para BH. Os loteamentos atendem à
população de maior renda apenas sem vislumbrar em consequência um futuro
próximo de engarrafamentos de veículos em volta e uma favela anexa como moradia
para seu trabalhador. Não se loteia para a população de menor renda que também
quer comprar o seu lote ao invés de morar clandestinamente. O PMRF- Plano
Municipal de Regularização Fundiária -, já elaborado, levantou esta demanda, um
nicho de mercado imobiliário para parcelamento econômico, do tipo vila, por
exemplo, a ser vendido para esta população.
Desde 2006, a população
elaborou seu PDDM- Plano Diretor de Desenvolvimento Municipal - que se tornou a
lei complementar 52/06. Foram criadas a Secretaria de Turismo e Cultura e a Secretaria
de Planejamento e Coordenação, fundamentais para o que a população pretende para
seu município. Muito pouco se implantou, houve falta de visão pública e faltou
mais ainda conhecimento de planejamento. O COMDESP – Conselho Municipal de
Desenvolvimento Sustentável e Planejamento, onde se assentam
representatividades paritárias da comunidade e do poder brumadinense, veio
sendo boicotado por estas forças que cuidam em primeiro lugar do próprio interesse.
O COMDESP é a entidade gestora do plano diretor. As manifestações nas ruas
alertam que numa democracia os políticos são eleitos para trabalhar para o povo
e não para si ou para seu partido ou para seu grupo.
O plano será revisado e
atualizado ao longo deste ano de 2013 através de audiências públicas já
iniciadas pela conferencia da cidade, gerenciada pela Secretaria de
Planejamento e Coordenação da Prefeitura Municipal, conforme determina o
Estatuto da Cidade, lei federal. É importante que esta Secretaria e o COMDESP
sejam valorizados pela população que deve participar e que, com certeza, não
quer um Brumadinho “periferia” de Belo Horizonte. As datas das conferências já foram
marcadas e as reuniões mensais, abertas ao público, do COMDESP também. Informem-se
na SEPLAC no telefone 3571.1385
*Susana Leal Santana é arquiteta
urbanista e mestra em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável pela UFMG; moradora
de Casa Branca, membro do COMDESP e do COTURB, ex-membro do CODEMA
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