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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012


Edição 132-Dezembro/2011 - 2ª Edição
Enchente volta a castigar Brumadinho

Correria. Confusão. Chuva fina. Lojas fechadas. Caminhões de mudanças. Novamente a enchente castigou nossa cidade. Passado o primeiro dia do ano, o dia 2, segunda feira, foi de correria para fazer mudanças, esvaziar casas, lojas, especialmente as mais próximas do rio Paraopeba, principalmente no Canto do Rio (bairro Santo Antônio). a correria começou logo pela manhã quando o rio dava sinais de que encheria a ponto de invadir as casas, e a Defesa Civil alertava a população. Três anos depois da última enchente – início em 17 de dezembro de 2008 – Brumadinho se viu às voltas com mais uma.

Primeiro dia

Logo pela manhã, quem estava em BH começou a ligar, com medo de a água passar sobre a ponte do rio Paraopeba e não conseguir chegar em casa. Os de fora que aqui estavam foram se retirando. Era a experiência com enchentes anteriores dando o alerta. Apesar disso, não aconteceu, pelo menos no Centro da cidade. Já o pessoal da COHAH ficou ilhado. Quem chegava do trabalho ao final da tarde já não tinha como atravessar para o bairro. Moradores da rua que margeia o rio Manso já tinham sido retirados.
Perto da Quadra de Esportes, no local chamado de “Lavrado”, encontro do Águas Claras com o Paraopeba, as águas já estão quase passando por sobre a ponte.
Diferentemente da enchente de 2008, o primeiro dia terminou mais tranquilo, no sentido de que os moradores puderam retirar seus móveis a tempo. Para guardá-los, parentes, o Centro de Treinamento de Líderes (da Igreja Católica), a Escola Paulo Neto Alkmim abriram suas portas. 

Segundo dia, 3 de janeiro

No dia 3 as águas continuaram subindo, invadiram todas as ruas no Canto do Rio, exceto a rua Padre Eustáquio, principal, e pedaço da rua da “Pracinha”, que estava sob as águas. Curiosos estão por todos os lados. Num bar, depois de muita luta para retirar móveis e outros objetos de dentro das casas e lojas, um grupo saboreia um churrasco e bebe cerveja, mostrando, mais uma vez, que brumadinense não se abate, mesmo quando tem que enfrentar a força da natureza, ou o descaso das autoridades que, enchente após enchente, não tomam as providências necessárias para impedir o desastre, ou, pelo menos, para amenizá-lo.
Na ponte, na Praça da Bandeira, perto do Posto Morais e em vários outros lugares, pessoas colocam marcadores para ver se as águas estão subindo ou baixando. Às 17:30 horas, as águas estão a uns 20 centímetros para cobrirem a ponte do Paraopeba, o antigo Estacionamento está todo coberto; a Quintino Bocaiúva com Bananal está coberta mas não chegou à rotatória; a Bananal está coberta até próximo ao Posto Morais mas ainda não chegou à rotatória. A Casa Bruma e o Esquinão Burguer estão abertos com atendimento ao público.
Formaram-se várias ilhas em Brumadinho: Progresso, entre o Águas Claras e o Rio Manso, na COHAB, ilhada pelo Rio Manso. O Brumado, também pelo Rio Manso. Não se chega em José Henriques e nem em Soares. Casa Branca ficou ilhada. Do outro lado da casa do Sr. Vadico, indo para Alberto Flores, outra ilha, isolando Melo Franco, Aranha, Marinhos e região. Maçangano, Casinhas, Ponte de Almorreiras, Toca, tudo ilhado.

Omissão dos vereadores
 
Na Praça da Bandeira, um grupo de pessoas chama nossa reportagem. Dois deles, motoristas, dizem que passaram a madrugada no Canto do Rio, ajudando as pessoas a fazerem mudanças. E questionam: “Onde estão os vereadores? Sumiram todos! Nestas horas eles não aparecem para ajudar!”, reclamam. A reportagem informa que não viu nenhum deles naquele dia e nem no anterior.
Às 21 horas e 30 minutos a reportagem do jornal de fato fez mais um giro pela cidade e observa que as águas  subiram quase nada em relação às 17:30 horas.
Por volta das 22:30H,  alguém posta no site de relacionamento facebook uma mensagem dizendo que há suspeitos rondando ao Supermercado Bruma. Depois, descobriu-se que eram dois tentando roubar a loja de celulares que funciona dentro do supermercado e a PM foi acionada. Conta-se – a reportagem não conseguiu apurar a veracidade – que os ladrões foram pegos antes por populares que teriam dado-lhes uma surra antes de a Polícia chegar.

Terceiro dia, 4 de janeiro

Desde a tarde do dia anterior e durante a noite, não choveu em Brumadinho. Mas a esperança de o rio baixar foi por água abaixo. Como choveu muito em cidades acima como Bonfim, Belo Vale, Jeceaba, as águas subiram mais ainda, atravessando a rotatória ao final da Avenida do Bananal e chegando próximo ao prédio do CEMMA. 
São por volta de 7 horas da manhã. Na Praça da Bandeira, as águas já cobriram o asfalto, aproximou-se da Farmácia São Geraldo, invadiu a Padaria Copacabana e estão próximas a ponto de táxi. A ponte sobre o Paraopeba está coberta, a não ser no seu meio, e passam apenas camionetas grandes e caminhões. O Esquinão Burguer e Casa Bruma foram invadidos pelas águas e retiram seus produtos e móveis.
Sobre a linha férrea, a quantidade de curiosos é enorme. São centenas de pessoas indo de um lado para o outro, batendo papo, falando mal do prefeito, fotografando, filmando, ligando, comentando sobre o barco que passa de um lado para o outro “procurando lata de cerveja boiando”, candidato a vereador pedindo voto, observando o helicóptero que sobrevoa a cidade.
No Lavrado, o estacionamento de máquinas pesadas do vice-prefeito Antônio Sérgio Vieira dos Santos (PP), o Toinho da Rifel, libera óleo diesel que desce o rio sem nenhuma contenção. Dois jovens que estão sentados observando o rio Águas Claras levantam-se reclamando do cheiro forte do óleo.

Águas sobem no final da tarde

Por volta das 18 horas, ainda no dia 4 de janeiro, as águas tinham subido um pouco, cobriam mais a ponte do Rio Paraopeba mas ainda era possível ver parte de sua pista e “olhos de gatos”, bem no seu centro. Às 18 e 30 começa a chover forte, o que não acontecia desde o dia anterior.

Quarto dia, 5 de janeiro: hora da limpeza

A reportagem do jornal de fato deu um giro pela cidade até por volta de 1 hora da manhã.  Na Praça da Bandeira, já era possível passar com veículos pequenos, o que mostrava que as águas estavam baixando. Pela manhã, as águas já baixaram muito. Já é possível passar pela rua Quintino Bocaiúva, apesar de a Av.do Bananal ainda ter água em sua maior parte. A Prefeitura coloca suas máquinas para começar a limpeza.
A cidade se movimenta, rápido. Pessoas por todos os lados, botas brancas, pretas, rodos, vassouras, baldes,  caminhões e máquinas, mangueiras, mangas e calças arregaçadas. Há muitos curiosos, mas parece-nos que há mais gente ajudando do que olhando.

Fim do dia

O dia 5 de janeiro, quarto dia de nossa terceira maior enchente dos últimos 60 anos, termina com pessoas sujas e casas e lojas mais limpas. Ainda há muitas casas com água dentro, ainda há muita lama. Em áreas mais afetadas como o Canto do Rio, muitas casas ainda não puderam ser limpas. Diante de tanta tristeza, de tanta dor, de tanta água e tanto barro, uma certeza ficou: a solidariedade, mais uma vez, se mostrou como uma marca definitiva da população de Brumadinho.

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