Edição 132-Dezembro/2011 - 2ª Edição
Vereadores terão salários de quase R$ 7 mil
Fazendo
conta “errada”, reajustaram o salário dizendo ser pelo INPC; no entanto, INPC
foi de 24,56% e reajustaram em 33,36%
Os novos
vereadores, que serão eleitos e ou reeleitos em 2012 terão salário mensal de R$
6.668,00. A votação do salário aconteceu em reunião extraordinária da Câmara
Municipal, no último dia 27, realizada ao meio dia e meia. A reportagem do
jornal de fato acompanhou a discussão e votação e ficou admirada com o
despreparo dos vereadores. Acompanhada por umas 10 pessoas da população, a
reunião mostrou que os vereadores vão para a reunião sem pensarem no projeto de
lei que irão discutir e decidir. A impressão que se tinha era que ninguém tinha
pensado em que fazer com o salário, talvez porque quisessem aprovar a proposta
da Mesa Diretora (Leônidas Maciel e Zezé do Picolé), salário de R$ 7.500,00.
Despreparo
O Presidente da
Casa, Leônidas Maciel (PMDB), apesar de ser empresário, perguntava ao Secretário
de Planejamento, presente à reunião, o que era INPC, se era “a inflação e mais
0,5%”, num total desconhecimento de índices que medem inflação no País, apesar
de ter proposto o salário de R$ 7.500,00 para vereadores e de R$ 17.000,00 para
prefeito e deter proposto que o reajuste anual fosse feito pelo INPC (Índice
Nacional de Preço ao Consumidor). E nenhum vereador demonstrava conhecimento
sobre índices de inflação.
O Presidente,
juntamente com Zezé do Picolé (PV), tinha apresentado o Projeto de Lei nº 96/2011
com uma proposta de salário de R$ 7.500,00 mas, na reunião, disse que era
“apenas uma ideia para ser discutida”. No início da reunião das Comissões
Leônidas Maciel propôs: “Vamos retirar e deixar como está” para depois defender
que era preciso um bom reajuste porque “vereador gasta do bolso”, referindo-se
aos pedidos de “ajuda” que eleitores fazem aos vereadores. Depois questionou
uma colega: “A senhora era a favor e agora é contra só porque tem gente e a
imprensa está aqui?”
Já o novo
Secretário Municipal de Planejamento, Flavio Capdeville (filho de Eugênia Meira
Capdeville, ex-assessora jurídica da Câmara que responde a processo por
problemas no Legislativo de Brumadinho), chamado “para ajudar”, chegou a propor
a mesma política do salário mínimo (inflação
registrada em 2011 além da variação do Produto Interno Bruto – PIB - verificada
nos dois anos anteriores). Apesar de nenhum vereador receber salário mínimo (o
salário atual é de R$ 5.500,00), ainda discutiram o assunto, tão perdido
estavam, mesmo quando a vereadora Lilian Paraguai (PT) lembrou que o mínimo tem
uma política diferenciada exatamente para ficar mais valor em relação aos demais
salários pagos no Brasil.
Enquanto o vereador Vanderlei Xodó permanecia calado
(quem não o conhecesse talvez pensasse que fosse mudo, tamanho seu silêncio),
Fernando Japão era um dos que mais tentava resolver a questão. Primeiramente
propôs “diminuir” o salário; depois propôs que fosse “metade do INPC
acumulado”, e daí a pouco disse: “deixa como está”; daí a pouco mudou de ideia
novamente e voltou com a proposta anterior: “metade do INPC”.
O único vereador que teve um posicionamento firme e
claro foi Adriano Brasil (PV). Apesar de ser membro da Mesa Diretora, Brasil
não assinou o Projeto de Lei 96, que propunha um salário de 7 mil e 500 reais.
Na reunião das Comissões, não vacilou e declarou que sua posição era de manter
o salário como estava.
Contas “erradas”
Depois de muita
dúvida, os vereadores decidiram aplicar o INPC aos salários. Não ficou claro a
que eles se referiam. E os R$ 6.668,00 que definiram não é resultado de
aplicação de INPC, nem ao acumulado dos últimos 4 anos; e nem o do último ano.
Os vereadores também não falaram de iam aplicar o percentual sobre o salário de
R$ 5.000,00 (valor equivalente ao início da legislatura, em janeiro de 2009) ou
a R$ 5.500,00 (salário atual despois que os vereadores se deram 10% de
reajuste, no meio do ano de 2011).
Na prática, os R$
6.668,00 equivalem a um reajuste de 33,36% (trinta e três vírgula trinta e seis
por cento) sobre o salário de 5 mil.
Os vereadores,
propositalmente, ou por falta de conhecimento, fizeram as contas de modo
errado. O INPC acumulado dos últimos 4 anos (2009-2011) é de 24,56%. Eles
aplicaram um “INPC” de 33,36%.
Votação
Na hora da votação
em Plenário, o salário de R$ 6.668,00 foi aprovado pelos vereadores do PV, Zézé
do Picolé, Fernando Japão e Vanderlei Xodó; e Jaime Wilson (PSDB). Apesar de
não ter falado nada na reunião de comissões, nem conta os 7,5 e nem ter feito
proposta, o vereador Itamar Franco (PSDB) votou contra. Votaram contra ainda
Adriano Brasil e Lilian Paraguai (PT). A vereadora Marta da Maroto, que na
legislatura anterior aumentara a proposta da Mesa Diretora de R$ 4.500,00
(quatro mil e quinhentos reais) para R$ 5.000,00 (cinco mil reais), não
compareceu à reunião das Comissões e nem do Plenário. Sua ausência não foi
justificada no dia.
Vereadores
aprovam 13º salário
Em 2008, os
vereadores daquela legislatura, entre eles, Leônidas Maciel, Marta da Maroto e
Jaime Wilson aprovaram o 13º salário. No então, não puderam receber o 13º, nem
eles nem os novos vereadores eleitos naquele ano, porque o Ministério Público
recomendou o contrário, defendendo a inconstitucionalidade da lei.
O mesmo aconteceu
com a Câmara Municipal de Alfenas, MG. Um ofício subscrito pela Procuradora de
Justiça, Elaine Martins Parise, da Coordenadoria de Controle da
Constitucionalidade do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, notificou
a presidência da Câmara sobre a inconstitucionalidade do pagamento de 13º
salário aos agentes políticos detentores de mandato eletivo (vereadores,
prefeito e vice). Na época, a Procuradora, que concorreu ao V Prêmio Innovare de práticas inovadoras
da Justiça, recomendou que caso o município tivesse uma lei que tratasse
do assunto, que fosse revogada imediatamente.
Mas parece que os
três vereadores não aprenderam a lição. Leônidas Maciel colocou no PL 96 o art.
3º, garantindo o 13º.
Curiosamente, nem
Jaime Wilson, nem Leônidas Maciel, e nem todos os outros vereadores comentaram
o assunto na hora da discussão do projeto. De duas uma: ou os vereadores
realmente são muito despreparados para exercerem o cargo que exercem ou
fingiram todos de bobos, deixando passar o 13º para virem se o Ministério
Público cochila e eles recebem seus R$ 6.668,00 a mais.
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