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sábado, 22 de dezembro de 2012


Edição Especial 144-Dezembro/2012

Carta portuguesa. Com certeza.

Querido filho Manoel Joaquim

Escrevo-te esta linha para que saibas que a mãe está viva. Vou escrever bem devagar, pois sei que não consegues ler depressa. Caso estejas sem tempo de escrever à mãe, manda uma carta  dizendo que quando estiveres mais tranquilo vais mandar notícias. Se tu viesses hoje aqui em casa não irias reconhecer mais nada, porque mudamos.
Temos agora uma máquina de lavar roupa. Mas não trabalha muito bem. Na semana passada, pus lá 14 camisas, apertei o botão e nunca mais as vi. Vai ver que esta marca Hydra não é das melhores.
Tua irmã Maria está grávida. Mas ainda não sabemos se vai ser menino ou menina. Portanto, não podemos te dizer se vais ser tio ou tia.
Teu pai arranjou um bom emprego. Tem 2300 homens abaixo dele. É o responsável pelo corte da grama do cemitério.
Quem anda sumido é teu tio Venâncio, que morreu no ano passado. Lembra-te do teu tio Joaquim? Então... afogou-se no mês passado num depósito de vinho. Oito compadres dele tentaram salvá-lo, mas o tio lutou bravamente contra eles. O corpo foi cremado há duas semanas. Levaram oito dias para apagar o incêndio.
Os engarrafadores de refrigerante aqui finalmente tiveram a grande ideia de colocar uma indicação na tampinha, dizendo "abra por aqui". Facilitou-nos muito a vida. Espero que os daí façam a mesma coisa. Caso esteja difícil para ti, a mãe te manda algumas garrafas.
Teu irmão, João Manuel, continua o mesmo de sempre. Semana passada fechou o carro com as chaves dentro. Perdeu um tempão indo até a casa pegar a cópia da chave, para poder tirar-nos todos de dentro do automóvel. Estava um calor de rachar. Por falar em calor, o tempo aqui está muito estranho. Esta semana só choveu duas vezes. Na primeira vez choveu durante 3 dias e na segunda vez choveu durante 4 dias.
Esta carta te mando através do Gabriel, que vai amanhã para aí. A propósito, será que podes pegá-lo no aeroporto?
Lembrei de uma coisa importante. Terás um problema para falar com a mãe, caso decidas escrever-me. Não sei o endereço desta casa nova. A última família que morou aqui, antes de nós, também era portuguesa, levou a placa da rua e o número da casa para não precisar mudar de endereço.
Se encontrares Teresa, dê-lhe um alô da minha parte. Caso não a encontres, não precisas dizer nada.

Adeus.
Tua mãe que te ama.

Fátima Manoela da Alcova
É assim que se paga!
 
P.S. Ia mandar-te 2000 euros, mas fica para outra vez. Já fechei o envelope.

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